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quinta-feira, 30 de abril de 2015

O trabalho como oração

No próximo dia 12 de Maio, a Prelatura do Opus Dei terá já a faculdade concedida pela Santa Sé de celebrar a festa litúrgica do Beato Álvaro del Portillo, primeiro sucessor do Fundador, S. Josemaria Escrivá. Tal como noutros Processos de beatificação, primeiro a Igreja declara o cristão como Venerável.

Esta designação corresponde ao reconhecimento de que a pessoa em apreço vivera de forma heróica todas as virtudes naturais e sobrenaturais.

Um observador que procure ter uma visão objectiva do que foi a vida de D. Álvaro, decerto fica impressionado com a sua brilhante inteligência, a sua disponibilidade para atender todos os que o procuravam ver e ouvir, a sua fidelidade a S. Josemaria e à Igreja, o seu amor ao Papa, mas há um aspecto surpreendente para este sacerdote: o dia parece ter muito mais do que 24 horas.

Muito organizado e metódico, aproveita todos os segundos. Tendo aderido ao Opus Dei, que propõe o trabalho como meio de santificação próprio e para santificar os outros - apostolado -, não permitiu que fosse desaproveitada qualquer actividade com a recusa da falta de tempo.

Sendo Secretário Geral do Opus Dei e colaborador muito próximo de S. Josemaria, tinha muitas ocupações com a Obra e os seus membros, colaborou estreitamente em várias comissões durante o Concílio Vaticano II, onde o seu trabalho era muito apreciado pois conseguia estabelecer consensos e redigia rigorosamente as conclusões a que tinham chegado.

Nos primeiros anos de viver em Roma, encarregou-se de acompanhar os operários que construíram a sede central, coadjuvando S. Josemaria na angariação de meios materiais e financeiros que permitiram que a obra fosse levada a bom termo e os pagamentos realizados pontualmente.

O seu caráter reto, de uma probidade total, fez com que tanto bancos como credores confiassem na sua palavra.

D. Álvaro sabia que tudo o que fazia era para cumprir o encargo que Deus dera a S. Josemaria e essa certeza trazia-lhe uma grande paz que transparecia no sorriso sempre presente.

Empregou todos os meios humanos para resolver os muitos problemas que surgiram mas, sobretudo, confiava em Deus que completaria de forma eficaz os seus esforços.

Há vários depoimentos que afirmam que nunca se sentiu, em D. Álvaro, pressa. Atendia de forma muito cordial quem o procurava parecendo que nada mais tinha para fazer. Cumpria um princípio que S. Josemaria ensinava aos seus filhos: “faz o que deves e está no que fazes”. (Caminho, 815). 

A sua grande cultura abrange conhecimentos técnicos como os que adquiriu em engenharia civil, conhecimentos humanistas de História, Filosofia, Teologia e línguas, com destaque para o Latim.

Muito surpreende toda esta actividade porque foi desenvolvida com uma saúde muito frágil que, por várias vezes, o obrigou a ficar de cama, coisa que só acontecia em último caso, pois a sua força de vontade impunha-se, chegando a ser imprudente, ao exigir tanto de si mesmo.

Após a morte de S. Josemaria, D. Álvaro foi eleito para lhe suceder. O seu sorriso e os seus olhos azuis que tinham a candura duma criança, acompanharam uma actividade interna, dedicada a toda a Obra e conquistaram o coração dos que tiveram o privilégio de o conhecer pessoalmente.

 A sua personalidade surge com todo o vigor, dando continuidade a tudo o que fora lançado por S. Josemaria; nada alterou, manteve a sua posição de colaborador pois sempre afirmou que Monsenhor Escrivá tinha as graças fundacionais e que nada mais havia a acrescentar; dedicou-se a conseguir que fosse reconhecida a especificidade da Obra, para a qual não havia, no Direito Canónico, a forma jurídica adequada.

O seu trabalho durante o Concílio Vaticano II e depois junto da Cúria levaram a que S. João Paulo II reconhecesse a Obra como uma Prelatura Pessoal. Mais uma vez a sua persistência e trabalho renderam fruto.

A Igreja foi enriquecida com mais um caminho para a Santidade que, como sabemos, é para todos e não apenas para alguns escolhidos.

Margarida Raimond  - Professora




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