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III Catequese preparatória da Festa da Família 2015 |
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Criando o futuro
O casamento deve ser fecundo e aberto às novas vidas. As crianças
modelam o futuro, da mesma forma que elas mesmas são formadas em suas
famílias. Sem as crianças não pode haver o futuro. Crianças criadas com
amor e orientação são a base para um futuro de amor. Crianças feridas
prenunciam um futuro ferido. As famílias constituem o fundamento para
todas as outras formas de comunidade. As famílias são igrejas
domésticas, lugares no quais os pais auxiliam os filhos a descobrirem
que Deus os ama e tem um plano para a vida de cada um.
O casamento fornece o contexto espiritual para as possibilidades criadas pela biologia
68. O casamento inclui amor, lealdade e compromisso. Mas assim é o
caso de muitas outras relações dignas. O casamento é algo distinto. O
casamento é a aliança construída no poder de procriação do homem e da
mulher. A nossa biologia coloca certas limitações e possibilidades, e o
casamento é uma resposta para viver esta situação em santidade.
69. Trataremos a outra resposta ao chamado de Deus – o celibato – no
próximo capítulo. No capítulo sete, refletiremos sobre os desafios à
ideia de fecundidade no casamento, desafios que surgem das questões do
casamento fechado à concepção e do casamento entre pessoas do mesmo
sexo. Nesta secção, precisamos discutir como o amor conjugal integra a
fecundidade de homens e mulheres com o sacramento da aliança de Deus.
70. O casamento é uma resposta à possibilidade da procriação entre
homens e mulheres. Quando um homem e uma mulher se casam, dando o passo
adicional de livremente consentir em promessas de mútua fidelidade e
permanência, o casamento coloca a procriação no contexto da dignidade
humana e da liberdade. As promessas matrimoniais são análogas à aliança
de Deus com Israel e a Igreja. O casamento, como a Igreja ensina, é “o
pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o
consórcio íntimo de toda a vida, ordenado por sua índole natural ao bem
dos cônjuges e à procriação e educação da prole, entre os batizados foi
elevado por Cristo nosso Senhor à dignidade de sacramento.” Em síntese, o
casamento é uma comunidade de vida e de amor.
71. O sacramento do Matrimónio torna fiel a força da aliança de Deus,
bem como a sua comunhão trina com o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
disponível ao esposo e à esposa. Este fundamento espiritual dá uma nova e
mais profunda razão à fecundidade biológica, porque se abrir à geração
de filhos é uma extensão da generosidade divina. Desse modo, podemos ver
como os clássicos “três bens do casamento” (filhos, fidelidade e
sacramento), segundo Santo Agostinho, são enraizados no plano divino.
A vocação espiritual da paternidade
72. Como acontece com qualquer questão vocacional, a questão de saber
se e quando ter filhos não é algo a ser decidido simplesmente de acordo
com critérios humanos autorreferencias. Existem reais e legítimas
condições humanas “físicas, económicas, psicológicas e sociais”, que
esposos e esposas deveriam considerar no seu discernimento. Mas, ao
final, a questão sobre se tornar pais repousa sobre a mesma
justificativa que o próprio matrimónio sacramental: amor na forma de
serviço, sacrifício, confiança e abertura à generosidade de Deus. O
casamento católico tem como perspetiva os sacramentos e o apoio da
comunidade cristã e, assim, quando cônjuges católicos consideram a
possibilidade de se tornarem pais continuam no mesmo contexto espiritual
e comunitário.
73. Quando cônjuges tornam-se pais, a dinâmica interna da criação de
Deus e o sacramento do Matrimónio aparecem de forma bonita e
particularmente clara. Quando o casal tem filhos de acordo com o padrão
de amor que Cristo tem para connosco, o mesmo amor também orienta os
novos pais na educação e na formação espiritual dos seus filhos. “Estas
crianças são elos de uma corrente”, disse o Papa Francisco quando
recentemente batizou 32 bebés. “Vocês, pais, apresentam hoje seus filhos
para serem batizados. Amanhã, serão eles a apresentarem seus filhos ou
netos. Eis a corrente da fé!”
74. Esta corrente de filhos e pais estende-se por milénios Duas vezes
ao dia, e ainda hoje orações judaicas começam com a antiga Sh´ma
(Shema), uma oração encontrada em Deuteronómio: Ouve, Israel! O Senhor
nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu
coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás
gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as
repetirás com insistência a teus filhos e delas falarás quando estiveres
sentado em casa ou andando a caminho, quando te deitares ou te
levantares.
75. Repetimos: Tu as repetirás com insistência a teus filhos. No
coração deste mandamento, esta responsabilidade fundamental, está a
reafirmação quotidiana entre Deus e Israel. Os pais devem incentivar e
guiar os seus filhos na sua relação comunitária com Deus. Assim o
Deuteronómio diz: ensine e compartilhe as glórias de Deus com as suas
crianças. Jesus diz o mesmo aos seus discípulos: deixem-nos vir a mim
(cf. Mt 19, 14). Tanto o Deuteronómio quanto Jesus falam para nós. Ambos
estão dizendo: Certifiquem-se de que as crianças sob sua
responsabilidade tenham uma relação com Deus e com o povo de Deus.
Ensinem às crianças a orar e contemplar o Senhor. Motivem isso
quotidianamente na sua casa, e não criem obstáculos para isso.
76. Esta vocação confere um propósito à paternidade dos pais
católicos. O mesmo amor que preenche homens e mulheres, ensinando-lhes o
caminho da aliança e trazendo-os ao sacramento do Matrimónio, faz com
que um casal se torne uma família. Um esposo e uma esposa tornam-se pai e
mãe: “Desta união origina-se a família, na qual nascem novos cidadãos
da sociedade humana, os quais, para perpetuar o Povo de Deus através dos
tempos, se tornam filhos de Deus pela graça do Espírito Santo, no
Batismo”. Cristãos não só têm filhos para continuar a espécie e
construir a sociedade, mas para que toda a família possa ser formada
para a comunhão dos santos. De acordo com as palavras de Santo
Agostinho, o amor sexual entre homem e mulher “é a sementeira, por assim
dizer, de uma cidade”, e ele tem em mente não só a cidade terrena ou a
sociedade civil, mas também a cidade celestial, onde a Igreja chegará à
plenitude.
A vida na Igreja doméstica
77. O Vaticano II chamou a família de “igreja doméstica,” uma
Ecclesia domestica: Na família, como numa igreja doméstica, devem os
pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros
arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um, especialmente a
vocação sagrada. A natureza vocacional da vida familiar requer viver com
atenção. “Cada homem é chamado a desenvolver-se, porque toda a vida é
vocação.” Mas, construir um matrimónio, discernir uma vocação não “vem
do nada.” Os hábitos de discernimento podem ser ensinados e cultivados. É
responsabilidade de um pai e de uma mãe estar com as crianças em casa e
na Igreja e rezar regularmente. Não vão aprender como fazê-lo, se não
são ensinados. Os pais podem buscar ajuda de padrinhos, avós,
professores, clérigos e religiosos para cumprir com as suas
responsabilidades e para que os filhos também possam crescer e aprender
sobre a oração. O Papa Francisco, um jesuíta com anos de formação na
arte do discernimento, descreve como a oração e a vocação caminham
juntas: “É importante ter uma relação quotidiana com Ele [Deus], ouvi-lo
em silêncio diante do Tabernáculo e no íntimo de nós mesmos, falar-lhe,
receber os sacramentos. Manter esta relação familiar com o Senhor é
como deixar aberta a janela da nossa vida, a fim de que Ele nos faça
ouvir a sua voz, o que Ele deseja de nós”.
78. Praticar e ensinar o discernimento à família implica paciência e
oração, um desejo constante para purificar motivos, para confessar e
fazer penitência, para ser paciente no lento trabalho de crescer na
virtude, para abrir a sua imaginação para as Escrituras e o testemunho
da Igreja, e para entender a sua vida interior. Aprender a discernir
para nós mesmos e transmiti-lo às nossas crianças implica humildade, uma
abertura a críticas construtivas e diálogo sobre como Deus pode estar
influenciando a nossa vida. Uma abordagem vocacional para a vida implica
uma disposição em ser honesto sobre os nossos próprios desejos, mas,
sobretudo, oferecer a nossa vida a Deus, ser aberto para as aventuras e
novos planos que possam se apresentar quando dizemos “ não seja feito
como eu quero, mas como tu queres.” (Mt 26, 39; cf. 26, 42) Santa Teresa
de Lisieux rezou desta maneira quando era criança, dizendo: “Meu Deus,
eu escolho tudo. Eu não quero ser uma santa pela metade. Eu não tenho
medo de sofrer por Vós. Eu só temo uma coisa: fazer a minha vontade
própria. Então recebei-a, porque eu escolho tudo que Vós quiserdes.”
79. Especialmente quando uma família tem muitos filhos, os pais
enfrentam uma ampla gama de tensões. Paternidade é exigente. Não
obstante, se a meta da vida familiar cristã é abrir as janelas da casa à
graça de Deus na vida quotidiana, então mesmo em meio à fadiga e ao
caos doméstico, os pais podem manter-se abertos ao Espírito. Ninguém
quer sobrecarregar os pais. Porém, “amor de Deus [...] não se deve
exercitar apenas nas coisas grandes, mas, antes de mais, nas
circunstâncias ordinárias da vida.” Na vulnerabilidade de tais momentos,
os pais podem entender o que São Paulo pretendia quando disse: “pois
quando sou fraco, então é que sou forte.” (2Cor 12, 10)
80. A paternidade tem um modo de esvaziar pretextos; de fazermos ver
que não somos autossuficientes, mas que precisamos da ajuda e força de
Deus, família, paróquia e amigos. A maneira como uma família responde à
adversidade e à doença, ou reúne para as refeições e devoções, ou toma
decisões financeiras estabelecendo prioridades, ou a forma como faz
escolhas sobre o lazer, o trabalho ou a carreira dos pais, a formação
académica dos filhos, e mesmo sobre os horários para dormir. Esses e
muitos outros aspetos da “economia doméstica” formam as imaginações e
horizontes das crianças. Rotinas internas podem ser espaços
privilegiados onde a luz do Espírito penetra, onde uma atitude de
gentileza e hospitalidade cristã fermenta toda vida.
O nosso contexto cultural requer que as famílias tenham discernimento
81. Papa Francisco expressa muitas destas ideias de uma maneira
prática: Penso que todos nós podemos melhorar um pouco neste aspeto,
tornando-nos todos mais ouvintes da Palavra de Deus, para sermos menos
ricos com as nossas palavras e mais ricos com as suas Palavras. [...]
Penso no pai e na mãe, que são os primeiros educadores: como podem
educar, se a sua consciência não for iluminada pela Palavra de Deus, se o
seu modo de pensar e de agir não se deixar orientar pela Palavra; que
exemplo podem dar aos seus filhos? Isto é importante, porque depois o
pai e a mãe queixam-se: “Este filho...”. Mas tu, que testemunho lhe
ofereceste? Como lhe falaste? Da Palavra de Deus, ou da palavra do
noticiário televisivo? O pai e a mãe devem falar da Palavra de Deus! E
penso nos catequistas, em todos os educadores: se o seu coração não for
aquecido pela Palavra, como podem sensibilizar os corações dos outros,
das crianças, dos jovens e dos adultos? Não é suficiente ler as Sagradas
Escrituras, mas é preciso ouvir Jesus que fala através delas: é
precisamente Jesus quem fala nas Escrituras, é Jesus quem fala nelas.
[...] Interroguemo-nos [...] que lugar ocupa a Palavra de Deus na minha
existência, na vida de todos os dias? Estou sintonizado com Deus, ou com
tantas palavras da moda ou ainda comigo mesmo? Uma pergunta que cada um
de nós deve formular.
82. O Papa se referiu aos noticiários da TV, aos quais não deveríamos
dar tanta atenção, ao levantar questões sobre as grandes médias,
incluindo as redes sociais da internet e outras formas de cultura
popular. Relacionar-se com estas formas de cultura não é algo que
deveria acontecer de modo automático; relacionar-se com estas formas de
cultura de maneira construtiva também requer discernimento. O Catecismo
da Igreja Católica, ao tratar da igreja doméstica, observa que o mundo
de hoje “frequentemente é estranho e até hostil à fé.” Numa cultura
fragmentada, o ambiente social e das médias podem comprometer a
autoridade dos pais em geral, e a paternidade católica em particular.
Pais e filhos devem refletir sobre a maneira da sua família estar no
mundo, sem pertencer ao mundo.
83. Quando qualquer um de nós – mas especialmente as crianças –
encontra a cultura, nossas imaginações e ambições são moldadas. Em
grande medida, todos nós mas especialmente as crianças adquirimos as
nossas expectativas por uma boa vida, em parte por meio de imagens,
filmes, músicas e histórias da nossa vida. Portanto, cabe aos pais, à
toda família, padrinhos e mentores adultos e educadores, monitorar esta
exposição, e garantir que as imaginações das crianças sejam fortalecidas
e nutridas com alimentos saudáveis, com material que proteja a sua
inocência, estimule o seu apetite pela aventura da vida cristã e evoque
um sentido vocacional da vida. Beleza e contemplação devem ser parte do
ambiente comum de uma criança, para que elas aprendam a perceber a
dimensão sacramental da realidade. Pais, idosos, padrinhos, parentes,
paroquianos, catequistas e professores precisam modelar estas atitudes
para as crianças. A formação de jovens necessariamente implica
“conhecimento do livro”. Alfabetização espiritual significa conhecimento
sobre os fatos da fé. Mas é ainda mais essencial ensinar às crianças
como orar, e sugerir-lhes modelos a seguir, exemplos de adultos para
elas testemunharem e aspirarem.
84. Crianças mais velhas podem tornar-se devidamente auto-conscientes
e reflexivas sobre a cultura do seu ambiente, e também começar a formar
uma perspetiva madura sobre a oração e o discernimento vocacional.
Estes temas importantes devem ser parte da preparação para se receber o
sacramento da Confirmação, o qual concede a graça para possibilitar o
fiel discipulado na vida.
A família e a paróquia dependem uma da outra
85. A Ecclesia domestica, evidentemente, não pode existir sem a
Ecclesia. A Igreja doméstica implica uma relação com a Igreja universal:
“A família, para ser uma ‘pequena igreja’ precisa ser bem integrada com
a ‘grande igreja’, isto é, com a família de Deus da qual Cristo veio.” A
participação regular na missa de domingo com toda a Igreja é um sine
qua non (o meio através do qual) para a igreja doméstica realizar seu
nome. A Igreja universal é portadora e mestra da aliança de Deus com o
seu povo, a mesma aliança que possibilita e sustenta a vida conjugal e
familiar.
86. O Papa Bento XVI falou sobre a paróquia como uma “família de
famílias”, que é “capaz de compartilhar umas com as outras, não só os
prazeres, mas também as inevitáveis dificuldades de iniciar a vida
familiar.” Com certeza, sacramentos, e frequentemente as obras corporais
de misericórdia, podem ser prestativamente facilitadas pela paróquia.
As crianças precisam ver os seus pais e outros adultos em suas vidas
demonstrando solidariedade com os pobres e fazendo coisas que os
beneficiem. Paróquias e dioceses podem ajudar a suscitar estas ocasiões.
A igreja doméstica serve a paróquia e é servida pela paróquia.
87. A paróquia, a diocese e outras instituições católicas como
escolas, movimentos e associações são especialmente essenciais para as
crianças que só têm o pai ou só a mãe. As crianças podem estar sem um ou
ambos os pais por uma série de razões, incluindo morte e doença,
divórcio, migração, guerra, álcool e dependência de drogas, violência
doméstica, abuso, perseguição política, desemprego ou itinerantes
condições de trabalho devido à pobreza. Infelizmente, às vezes, esposos e
esposas, mães e pais separam-se, muitas vezes por razões que exigem a
nossa compaixão. “O abalo emocional sofrido por crianças de pais
separados, que de repente se encontram com um pai ou mãe solteira ou em
uma família ‘nova’, representa um desafio para Bispos, catequistas,
professores e todos que são responsáveis pelos jovens. [...] Não é uma
questão de substituir os seus pais, porém, de colaborar com eles”.
88. Para uma paróquia efetivamente ser “uma família de famílias” é
necessário que haja ações concretas de hospitalidade e generosidade. São
João Paulo II disse que “abrir as portas da própria casa e ainda mais
do próprio coração” é uma maneira de imitar a Cristo. Prestar e receber
ajuda são coisas íntimas. Ninguém, especialmente uma criança, pais que
lutam com crises inesperadas, idosos em situação vulnerável, ou toda
pessoa que estiver sofrendo, deveria ser solitário no seio da família da
paróquia. Nada comparado com a amizade e o servir uns aos outros entre
simples paroquianos durante a semana, prolongando a vida da Igreja para
além das celebrações dominicais. O modo como os leigos se tratam entre
eles vai determinar se uma paróquia está cumprindo a sua missão. Esta
visão de vida paroquial deve ser ensinada e modelada pelo clero, talvez
especialmente em paróquias grandes onde haja a tentação para o
anonimato. Mas, ao final, vitalizar uma paróquia desta forma não pode
ser de modo clericalizado. Esta é uma versão da vida da Igreja que
requer leigos. São Paulo disse aos Gálatas que se “carregue os fardos
pesados uns dos outros e” assim ”cumpram a lei de Cristo” (Gl 6, 2).
Assim, por conseguinte, se não carregamos os fardos uns dos outros, se
deixamos famílias vulneráveis e pessoas solitárias por conta própria ao
abandono, então não realizamos o que somos capazes de realizar. Se os
nossos estilos de vida não estiverem baseados em comunhão e serviço,
então não poderemos amadurecer. Fomos feitos uns para os outros, e viver
como se isto não fosse verdade é uma tristeza, uma falta de realização
da lei vivificante de Cristo.
89. A hospitalidade para com as crianças solitárias naturalmente
levantará a questão da adoção. João Paulo II, falando para uma
assembleia de famílias adotivas, disse: Adotar uma criança é uma grande
obra de amor. Quando ela se realiza, dá-se muito, mas também se recebe
muito. É uma verdadeira troca de bens. O nosso tempo conhece,
infelizmente, também neste âmbito, não poucas contradições. Perante
muitas crianças que, pela morte ou a inabilidade dos pais, ficam sem
família, há muitos casais que decidem viver sem filhos por motivos não
raro egoístas. Outros se deixam desencorajar por dificuldades
económicas, sociais ou burocráticas. Outros ainda, desejosos de ter um
filho “próprio” custe o que custar, vão muito além da legítima ajuda que
a ciência médica pode assegurar à procriação, utilizando práticas
moralmente repreensíveis. Diante dessas tendências, é preciso reafirmar
que as indicações da lei moral não se resolvem com princípios abstratos,
mas tutelam o verdadeiro bem do homem, e neste caso o bem da criança,
em relação dos interesses aos próprios pais. João Paulo II esperava que
“famílias cristãs fossem capazes de mostrar maior disposição para adotar
e criar crianças que têm perdidos os seus pais ou sido abandonados por
eles.” Ele tinha esta esperança porque o amor que anima um casamento
cristão é a aliança de Deus, um amor que é eternamente hospitaleiro e
pleno de vida.
90. A intimidade sexual entre homens e mulheres aumenta a
possibilidade de se ter filhos. Nenhum outro relacionamento leva a esta
possibilidade básica, orgânica e biológica. O casamento entre um homem e
uma mulher traz este potencial da fecundidade para um contexto
espiritual. Ser pais é uma vocação espiritual, porque em última
instância significa preparar os nossos filhos para serem santos. Esta
ousada ambição implica humildes mas importantes práticas no lar, como a
oração e o cultivo de uma disposição espiritual. Isso requer que pais
tenham discernimento sobre como uma família se insere na ampla cultura.
Conduzir as crianças para o Senhor significa que a igreja doméstica
precisa de se integrar tanto com a paróquia como com o resto da Igreja
universal. Os desafios da vida familiar exigem apoio. Nenhuma família
consegue se desenvolver por sua própria conta. Para prosperar, as
famílias precisam das suas paróquias, e as suas paróquias precisam
delas. Os leigos são necessários para criar e servir nesses ministérios.
Questões para partilha
- Como o casamento entre um homem e uma mulher se difere de outras amizades íntimas?
- Você nunca orou com uma criança? Que tal ler a Bíblia com uma
criança ou discutir outros aspetos da fé? Se você mesmo não é pai, há
crianças na sua vida que poderiam precisar de um amigo ou um mentor?
- Quais são os hábitos de discernimento? Que vocação gostaria de ter?
- O que é uma igreja doméstica? Como a paróquia serve a família e como
a família serve a paróquia? Como a família e a paróquia podem “cumprir a
lei de Cristo” como descrito em Gálatas 6, 2?
Todas as catequeses preparatórias do VIII Encontro Mundial das Famílias - Filadélfia 2015 - podem ser acedidas em http://familia.patriarcado-lisboa.pt/Catequeses.
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