Entrevista com dom Anthony Muheria, bispo de Kitui
Roma, 22 de Abril de 2015 (Zenit.org) Sergio Mora
O Santo Padre recebeu em audiência na quinta-feira passada
os bispos da Conferência Episcopal do Quénia, que estiveram em Roma para
a visita ad limina. Dom Anthony Muheria, bispo de Kitui, explicou a
situação do país durante um café-da-manhã de trabalho organizado nesta
segunda-feira, 20, nos cursos de actualização para jornalistas
organizados pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz.
Os cidadãos do Quénia estão horrorizados com o massacre de
estudantes do Colégio Universitário de Garissa, cometido na sexta-feira
santa. O atentado, disse o bispo, foi condenado unanimemente no país,
inclusive pelos líderes islâmicos menos moderados, embora estes ainda
possam fazer mais. Dom Anthony afirmou que os funerais não foram
conjuntos para evitar distúrbios e explicou que o Santo Padre garantiu
suas orações pelas vítimas de actos terroristas e de violências tribais.
Confira a seguir a entrevista que ele concedeu a ZENIT.
ZENIT: Como foi o encontro com o papa durante a visita ad limina?
Dom Anthony: Estivemos com o papa Francisco na quinta-feira passada.
Foi um encontro fantástico, duas horas em que o Santo Padre nos falou,
nos perguntou sobre o que está acontecendo no Quénia, nos deu ideias e
conselhos. Nós falamos das coisas que nos preocupam e, graças a Deus,
ele nos deu muitos conselhos e coragem.
ZENIT: O que o Santo Padre disse?
Dom Anthony: Primeiro, ele nos recordou que temos que ser sempre uma
voz profética em nossa sociedade, em nossa nação, sem medo de denunciar
as coisas que estão acontecendo. E dizer isso aos chefes, ao governo e
às autoridades. Temos que ser proféticos falando em favor dos pobres.
Ele nos falou muito da necessidade do diálogo nesta situação que estamos
vivendo, diante desse islamismo violento, e que precisamos buscar o
modo certo de falar com eles.
ZENIT: Todos ficaram impactados com o atentado no colégio universitário, não é?
Dom Anthony: No Quénia, os muçulmanos e os cristãos viviam juntos e
em harmonia, sem problemas e compartilhando muitas coisas. Infelizmente,
assistimos agora a um novo fenómeno, o do radicalismo islâmico, de
pessoas que acreditam na violência militante, que querem controlar e por
isso atacam o que estaria errado para o pensamento delas. Os muçulmanos
moderados, normais, condenam esses actos. O problema é que os líderes
moderados têm que se fazer sentir com mais força diante desses
extremistas que afirmam ser muçulmanos e que matam em nome do islão.
ZENIT: Os líderes muçulmanos condenam estes factos suficientemente?
Dom Anthony: Desta vez condenaram mais, mas eles precisam fazer mais
do que isso. Eles têm que ter mais controle, porque esses extremistas
vivem entre eles. O problema é que entre eles há simpatizantes da
violência, e, por isso, eles precisam mostrar com mais força para todos
os muçulmanos que não é possível simpatizar com essas pessoas que matam.
Porque o alcorão diz que não se deve matar ninguém.
ZENIT: O papa disse que é necessário promover o diálogo. Mas como?
Dom Anthony: Temos que entender como, porque é difícil. Temos que
incentivar os líderes do islão no Quénia a fazer mais pelo diálogo e a
promover a paz juntos. Temos que ir atrás disso, mesmo não sendo
simples. Mas contamos com a oração do Santo Padre.
(22 de Abril de 2015) © Innovative Media Inc.
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