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II Catequese preparatória da Festa da Família 2015 |
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A missão do amor
Deus opera por meio de nós. Temos uma missão. Há um propósito neste
mundo para nós: receber o amor de Deus e manifestá-lo aos outros. Deus
busca curar um universo ferido. Convida-nos a sermos suas testemunhas e
operários nesta obra.
A Sagrada Escritura oferece a substância e a forma do significado do amor
21. A história começa com o fato de termos sido criados à imagem de
Deus. Na história, Deus convoca e forma um povo. Ele faz uma aliança
connosco: primeiro por meio de Israel, depois por Cristo e pela sua
Igreja. Nesta relação, Deus nos ensina a amar como Ele ama.
22. Com outras palavras, uma vez que fomos criados para a comunhão,
aprendemos que o amor é a nossa missão. O dom de nossa existência
precede e modela o que fazemos e como vivemos. Em suma: “o modo de Deus
amar torna-se a medida do amor humano”.
23. A humildade é o requisito para se viver desta forma. Isso requer
que conformemos os nossos corações a Deus e vejamos o mundo por meio de
Seus olhos. O melhor caminho é Deus, embora nem sempre o mais fácil.
24. A Bíblia é plena de imagens do amor de Deus. Ele se apresenta
como um pai acolhedor de seu filho retornando à casa, e para quem
realiza um banquete (cf. Lc 15, 1132). Ele é o pastor em busca de sua
ovelha perdida (cf. Lc 15, 37). Deus é uma mãe que conforta seus filhos
(cf. Is 66, 13). Deus é um amigo que doa sua vida em favor dos outros, e
chora quando seus amigos sofrem (cf. Jo 11, 35). Ele é um pedagogo que
nos conduz a amar e servir aos outros como nossos irmãos (cf. Mt 22,
39). Deus é o jardineiro que de nós cuida até produzirmos bons frutos
(cf. Jo 15,1). Ele é o Rei que nos convida para o banquete de núpcias de
seu filho (cf. Mt 22, 114). Deus ouve o clamor do homem cego e para a
fim de perguntar: O que você quer que eu faça por você? (cf. Mc 10,
4652). Deus é acolhedor, pleno de compaixão para com seu povo, quando
este está faminto oferece-lhe comida e doa-se a si mesmo (cf. Mt 26,26).
O matrimónio é uma essencial imagem bíblica do amor de Deus
25. Todas essas imagens e muitas outras nos ajudam a perceber a
profundidade do amor de Deus. Elas enfatizam o tipo de amor a que somos
chamados a testemunhar em nossas próprias vidas. O Papa Bento XVI
observou que uma imagem fundamental nos oferece um contexto para todas
as outras: “Deus ama o seu povo”. A revelação bíblica, com efeito, antes
de tudo é expressão de uma história de amor, a história da aliança de
Deus com os homens. Eis porque a história do amor e da união entre um
homem e uma mulher na aliança do matrimónio foi assumida por Deus como
símbolo da história da salvação.
26. A imagem do matrimónio é central para a descrição da aliança de
Deus com Israel, e mais adiante, com a Igreja. Assim ensina o Papa Bento
XVI: “O matrimónio baseado num amor exclusivo e definitivo torna-se o
ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, vice-versa”. Tema
central na Sagrada Escritura é aliança com Deus, e o matrimónio é uma
metáfora privilegiada para descrever o relacionamento d’Ele com a
humanidade. Nesta perspetiva, quando ainda era arcebispo de Munique,
Bento XVI havia explicado: Podemos afirmar que Deus criou o universo
para que pudesse entrar em uma história de amor com a humanidade. Ele o
criou de modo que o amor pudesse existir. Por trás disso estão palavras
de Israel que nos conduzem diretamente ao Novo Testamento... Deus criou o
universo e desta forma é capaz de tornar-se um ser humano, derramar seu
amor em nós e nos convidar a retribuir esse amor.
27. Esta imagem nupcial inicia-se no Antigo Testamento. Aprendemos
ali que Deus nos ama de forma íntima, com ternura e anseio. “Sobretudo
os profetas Oseias e Ezequiel descreveram esta paixão de Deus pelo seu
povo, com arrojadas imagens eróticas.” Em Oseias, Deus promete “seduzir”
Israel “falando-lhe de forma carinhosa”, até que ela “responda como nos
dias de sua juventude” e me chame de “seu esposo” (cf. Os 2, 1416). Em
Ezequiel, Deus fala a Israel em imagens sensoriais: “Estendi o manto
sobre ti para cobrir a nudez. Eu te fiz um juramento, estabelecendo uma
aliança contigo – oráculo do Senhor Deus – e passaste a ser minha.
Banhei-te na água [...] e te ungi com óleo. [...] Ficaste extremamente
bela e chegaste à realeza.” (Ez 16,713) Encontramos linguagem semelhante
em Isaías, Jeremias e nos Salmos. O livro do Cântico dos Cânticos
também impulsionou pregações ao longo dos séculos utilizando o
matrimónio para explanar a intensidade do amor de Deus para com o seu
povo.
A Bíblia não é sentimentalista em relação ao amor conjugal
28. O casamento entre Deus e o seu povo não pode ser empedernido. “O
relacionamento de Deus com Israel é descrito com as metáforas do noivado
e do matrimónio”, desta forma quando o povo de Deus peca, essa queda
torna-se um tipo de ‘adultério e prostituição’. Em Oseias, o amor de
Deus por Israel o coloca na posição do esposo traído por uma esposa
infiel. Assim Ele fala a Oseias: “Vai amar de novo aquela mulher
adúltera, amada por um amante. É dessa forma que o Senhor ama os filhos
de Israel, apesar de o terem trocado por outros deuses.” (Os 3,1).
29. Quando o povo de Deus se esquece de seus mandamentos, negligencia
em seu meio o pobre, procura a segurança proveniente de forças
estrangeiras ou se volta para falsos deuses – as palavras adultério e
prostituição são os termos apropriados para descrever sua infidelidade.
30. Ainda assim, Deus permanece inabalável. O Papa Francisco, em uma
recente reflexão sobre o texto de Ezequiel 16, percebe como Deus fala
palavras de amor mesmo quando Israel lhe é infiel. Israel peca,
esquece-se do único Deus, prostitui-se ao buscar falsos deuses. Porém
Deus não abandona o povo da aliança. O arrependimento e o perdão sempre
são possíveis. Sua misericórdia significa que Ele busca o bem de Israel
enquanto este foge d’Ele. “Mulher abandonada e aflita, o Senhor te
chama. Esposa da juventude um dia abandonada, contigo fala o teu Deus.
Por um breve instante eu te abandonei, com imenso amor de novo te
recolho […] com amor eterno voltei a me apaixonar por ti” (Is 54, 68).
Deus persevera em seu amor pelo seu povo, mesmo que caíamos, mesmo
quando insistimos em tentar viver sem Ele.
31. Nos mesmos moldes, o amor cristão envolve muito mais do que
emoção. Este inclui o erótico e o afetivo, mas também a escolha. O amor é
uma missão que recebemos, uma disposição para acolher; uma convocação à
qual aderimos. Este tipo de amor possui dimensões que descobrimos à
medida que nos rendemos a ele. Este tipo de amor procura e segue o Deus
cuja aliança de fidelidade nos ensina o que é o amor. Deus nunca troca
Israel por uma parceira mais atraente. E Ele também não se torna
desencorajado pela rejeição. Ele nunca é temperamental. Deus deseja
somente o melhor, o verdadeiro, e o supremo bem para o seu povo. Como o
seu amor por Israel é uma paixão ardente – ninguém ao ler os profetas
pode negar isso – este aspeto ‘erótico’ do amor divino é sempre
fermentado com Sua fidelidade sacrificial. O eros de Deus sempre está
integrado à Sua compaixão e paciência.
Matrimónio, amor e o sacrifício de Cristo na cruz
32. O amor de Deus é retratado de forma muito vivaz na Carta aos
Efésios, capítulo 5. Neste trecho, São Paulo emprega a analogia do
matrimónio em relação a Cristo e à Igreja. Paulo incita tanto os maridos
quanto as mulheres a “serem submissos uns aos outros no temor de
Cristo” (Ef 5,21). O matrimónio cristão não é, portanto, uma negociação
de direitos e responsabilidades, mas antes uma manifestação de uma mútua
doação. É muito mais radical do que qualquer igualitarismo. De fato,
Paulo escreve que “o marido é a cabeça da mulher, como Cristo também é a
cabeça da Igreja” (Ef 5,23). Mas o que isso significa no contexto e na
prática? Paulo conclama os maridos a um amor abnegado que espelha o
sacrifício de Cristo na cruz. Paulo, em profunda contraposição a outros
códigos conjugais do mundo antigo, destrói o machismo e a exploração,
quando ensina uma dinâmica à imagem de Deus: “Maridos, amai vossas
mulheres como Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef
5,25). A partir da leitura de Efésios 5, a Igreja fala do matrimónio
enquanto sacramento e convoca os casais a esse tipo de comunhão
cruciforme e de sacrifício pelo outro.
33. Jesus capacita os cristãos a falar confiantemente sobre o amor de
Deus. Ele concede a aliança de Deus, em sua plenitude, a todos os
povos, e assim, realiza-se a história de Israel como uma narrativa
universal da redenção. Jesus incorpora o amor-doação pois Ele é,
literalmente, a Palavra de Deus feita carne. Ele ama a Igreja como sua
esposa, e isso é amor altruísta – provado pelo sangue derramado na cruz –
que se propõe como modelo para o tipo de amor e serviço necessários em
cada casamento e família cristã.
34. Como ensinou o Papa Bento XVI: “O olhar fixo no lado trespassado
de Cristo de que fala João (cf. 19, 37), compreende [...] ‘Deus é amor’
(1Jo 4, 8). É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de
lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele
olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar”.
35. Hoje, para muitos, ‘amor’ é um pouco mais que um calorzinho no
coração ou uma atração física. Estas coisas até têm o seu lugar,
contudo, o verdadeiro amor – um amor que se aprofunda, suporta e
satisfaz o coração humano ao longo de toda uma vida – cresce a partir do
que ofertamos aos outros, e não do que tiramos para nós mesmos. O
Senhor Jesus morreu na cruz para a nossa salvação. Aquela capacidade
radical e libertadora de abandonar nossas prerrogativas e nos ofertarmos
aos outros é o elemento que torna coeso todo o ensinamento católico
sobre o matrimónio e a família. O ensinamento católico autêntico sobre o
matrimónio e a família faz a separação entre amor verdadeiro e todas as
outras falsas formas.
36. A Sagrada Escritura possui muitas outras formas complementares e
sobrepostas de descrever o amor de Deus, mas a do matrimónio é a que se
sobressai. A aliança entre Deus e seu povo – primeiro Israel e depois a
Igreja – é como um casamento. Este casamento nem sempre é fácil, mas o
pecado nunca possui a última palavra. A fidelidade de Deus revela como o
amor verdadeiro e a fidelidade realmente são. Jesus Cristo, que nos
acolhe a todos como membros da família de Deus, dá-nos uma definição
nova e inaudita do amor, oferece-nos novas possibilidades para
vivenciá-lo.
Questões para partilha
- Por que o amor de Deus assemelha-se ao matrimónio?
- De que forma o amor de Deus se distingue do nosso modo de amar?
- O que é o verdadeiro amor e como fazer para reconhecê-lo? Quais são
as semelhanças e as diferenças entre a noção cultural de amor romântico e
o amor da Aliança de Deus?
- Pode pensar em algum momento de sua vida no qual o amor de Deus lhe ajudou a amar de uma forma mais intensa e honesta?
Todas as catequeses preparatórias do VIII Encontro Mundial das Famílias - Filadélfia 2015 - podem ser acedidas em http://familia.patriarcado-lisboa.pt/Catequeses. |
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