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segunda-feira, 20 de abril de 2015

II Catequese preparatória da Festa da Família 2015





II Catequese preparatória da Festa da Família 2015



A missão do amor

Deus opera por meio de nós. Temos uma missão. Há um propósito neste mundo para nós: receber o amor de Deus e manifestá-lo aos outros. Deus busca curar um universo ferido. Convida-nos a sermos suas testemunhas e operários nesta obra.

A Sagrada Escritura oferece a substância e a forma do significado do amor

21. A história começa com o fato de termos sido criados à imagem de Deus. Na história, Deus convoca e forma um povo. Ele faz uma aliança connosco: primeiro por meio de Israel, depois por Cristo e pela sua Igreja. Nesta relação, Deus nos ensina a amar como Ele ama.
22. Com outras palavras, uma vez que fomos criados para a comunhão, aprendemos que o amor é a nossa missão. O dom de nossa existência precede e modela o que fazemos e como vivemos. Em suma: “o modo de Deus amar torna-se a medida do amor humano”.
23. A humildade é o requisito para se viver desta forma. Isso requer que conformemos os nossos corações a Deus e vejamos o mundo por meio de Seus olhos. O melhor caminho é Deus, embora nem sempre o mais fácil.
24. A Bíblia é plena de imagens do amor de Deus. Ele se apresenta como um pai acolhedor de seu filho retornando à casa, e para quem realiza um banquete (cf. Lc 15, 1132). Ele é o pastor em busca de sua ovelha perdida (cf. Lc 15, 37). Deus é uma mãe que conforta seus filhos (cf. Is 66, 13). Deus é um amigo que doa sua vida em favor dos outros, e chora quando seus amigos sofrem (cf. Jo 11, 35). Ele é um pedagogo que nos conduz a amar e servir aos outros como nossos irmãos (cf. Mt 22, 39). Deus é o jardineiro que de nós cuida até produzirmos bons frutos (cf. Jo 15,1). Ele é o Rei que nos convida para o banquete de núpcias de seu filho (cf. Mt 22, 114). Deus ouve o clamor do homem cego e para a fim de perguntar: O que você quer que eu faça por você? (cf. Mc 10, 4652). Deus é acolhedor, pleno de compaixão para com seu povo, quando este está faminto oferece-lhe comida e doa-se a si mesmo (cf. Mt 26,26).

O matrimónio é uma essencial imagem bíblica do amor de Deus

25. Todas essas imagens e muitas outras nos ajudam a perceber a profundidade do amor de Deus. Elas enfatizam o tipo de amor a que somos chamados a testemunhar em nossas próprias vidas. O Papa Bento XVI observou que uma imagem fundamental nos oferece um contexto para todas as outras: “Deus ama o seu povo”. A revelação bíblica, com efeito, antes de tudo é expressão de uma história de amor, a história da aliança de Deus com os homens. Eis porque a história do amor e da união entre um homem e uma mulher na aliança do matrimónio foi assumida por Deus como símbolo da história da salvação.
26. A imagem do matrimónio é central para a descrição da aliança de Deus com Israel, e mais adiante, com a Igreja. Assim ensina o Papa Bento XVI: “O matrimónio baseado num amor exclusivo e definitivo torna-se o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, vice-versa”. Tema central na Sagrada Escritura é aliança com Deus, e o matrimónio é uma metáfora privilegiada para descrever o relacionamento d’Ele com a humanidade. Nesta perspetiva, quando ainda era arcebispo de Munique, Bento XVI havia explicado: Podemos afirmar que Deus criou o universo para que pudesse entrar em uma história de amor com a humanidade. Ele o criou de modo que o amor pudesse existir. Por trás disso estão palavras de Israel que nos conduzem diretamente ao Novo Testamento... Deus criou o universo e desta forma é capaz de tornar-se um ser humano, derramar seu amor em nós e nos convidar a retribuir esse amor.
27. Esta imagem nupcial inicia-se no Antigo Testamento. Aprendemos ali que Deus nos ama de forma íntima, com ternura e anseio. “Sobretudo os profetas Oseias e Ezequiel descreveram esta paixão de Deus pelo seu povo, com arrojadas imagens eróticas.” Em Oseias, Deus promete “seduzir” Israel “falando-lhe de forma carinhosa”, até que ela “responda como nos dias de sua juventude” e me chame de “seu esposo” (cf. Os 2, 1416). Em Ezequiel, Deus fala a Israel em imagens sensoriais: “Estendi o manto sobre ti para cobrir a nudez. Eu te fiz um juramento, estabelecendo uma aliança contigo – oráculo do Senhor Deus – e passaste a ser minha. Banhei-te na água [...] e te ungi com óleo. [...] Ficaste extremamente bela e chegaste à realeza.” (Ez 16,713) Encontramos linguagem semelhante em Isaías, Jeremias e nos Salmos. O livro do Cântico dos Cânticos também impulsionou pregações ao longo dos séculos utilizando o matrimónio para explanar a intensidade do amor de Deus para com o seu povo.

A Bíblia não é sentimentalista em relação ao amor conjugal

28. O casamento entre Deus e o seu povo não pode ser empedernido. “O relacionamento de Deus com Israel é descrito com as metáforas do noivado e do matrimónio”, desta forma quando o povo de Deus peca, essa queda torna-se um tipo de ‘adultério e prostituição’. Em Oseias, o amor de Deus por Israel o coloca na posição do esposo traído por uma esposa infiel. Assim Ele fala a Oseias: “Vai amar de novo aquela mulher adúltera, amada por um amante. É dessa forma que o Senhor ama os filhos de Israel, apesar de o terem trocado por outros deuses.” (Os 3,1).
29. Quando o povo de Deus se esquece de seus mandamentos, negligencia em seu meio o pobre, procura a segurança proveniente de forças estrangeiras ou se volta para falsos deuses – as palavras adultério e prostituição são os termos apropriados para descrever sua infidelidade.
30. Ainda assim, Deus permanece inabalável. O Papa Francisco, em uma recente reflexão sobre o texto de Ezequiel 16, percebe como Deus fala palavras de amor mesmo quando Israel lhe é infiel. Israel peca, esquece-se do único Deus, prostitui-se ao buscar falsos deuses. Porém Deus não abandona o povo da aliança. O arrependimento e o perdão sempre são possíveis. Sua misericórdia significa que Ele busca o bem de Israel enquanto este foge d’Ele. “Mulher abandonada e aflita, o Senhor te chama. Esposa da juventude um dia abandonada, contigo fala o teu Deus. Por um breve instante eu te abandonei, com imenso amor de novo te recolho […] com amor eterno voltei a me apaixonar por ti” (Is 54, 68). Deus persevera em seu amor pelo seu povo, mesmo que caíamos, mesmo quando insistimos em tentar viver sem Ele.
31. Nos mesmos moldes, o amor cristão envolve muito mais do que emoção. Este inclui o erótico e o afetivo, mas também a escolha. O amor é uma missão que recebemos, uma disposição para acolher; uma convocação à qual aderimos. Este tipo de amor possui dimensões que descobrimos à medida que nos rendemos a ele. Este tipo de amor procura e segue o Deus cuja aliança de fidelidade nos ensina o que é o amor. Deus nunca troca Israel por uma parceira mais atraente. E Ele também não se torna desencorajado pela rejeição. Ele nunca é temperamental. Deus deseja somente o melhor, o verdadeiro, e o supremo bem para o seu povo. Como o seu amor por Israel é uma paixão ardente – ninguém ao ler os profetas pode negar isso – este aspeto ‘erótico’ do amor divino é sempre fermentado com Sua fidelidade sacrificial. O eros de Deus sempre está integrado à Sua compaixão e paciência.

Matrimónio, amor e o sacrifício de Cristo na cruz

32. O amor de Deus é retratado de forma muito vivaz na Carta aos Efésios, capítulo 5. Neste trecho, São Paulo emprega a analogia do matrimónio em relação a Cristo e à Igreja. Paulo incita tanto os maridos quanto as mulheres a “serem submissos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5,21). O matrimónio cristão não é, portanto, uma negociação de direitos e responsabilidades, mas antes uma manifestação de uma mútua doação. É muito mais radical do que qualquer igualitarismo. De fato, Paulo escreve que “o marido é a cabeça da mulher, como Cristo também é a cabeça da Igreja” (Ef 5,23). Mas o que isso significa no contexto e na prática? Paulo conclama os maridos a um amor abnegado que espelha o sacrifício de Cristo na cruz. Paulo, em profunda contraposição a outros códigos conjugais do mundo antigo, destrói o machismo e a exploração, quando ensina uma dinâmica à imagem de Deus: “Maridos, amai vossas mulheres como Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25). A partir da leitura de Efésios 5, a Igreja fala do matrimónio enquanto sacramento e convoca os casais a esse tipo de comunhão cruciforme e de sacrifício pelo outro.
33. Jesus capacita os cristãos a falar confiantemente sobre o amor de Deus. Ele concede a aliança de Deus, em sua plenitude, a todos os povos, e assim, realiza-se a história de Israel como uma narrativa universal da redenção. Jesus incorpora o amor-doação pois Ele é, literalmente, a Palavra de Deus feita carne. Ele ama a Igreja como sua esposa, e isso é amor altruísta – provado pelo sangue derramado na cruz – que se propõe como modelo para o tipo de amor e serviço necessários em cada casamento e família cristã.
34. Como ensinou o Papa Bento XVI: “O olhar fixo no lado trespassado de Cristo de que fala João (cf. 19, 37), compreende [...] ‘Deus é amor’ (1Jo 4, 8). É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar”.
35. Hoje, para muitos, ‘amor’ é um pouco mais que um calorzinho no coração ou uma atração física. Estas coisas até têm o seu lugar, contudo, o verdadeiro amor – um amor que se aprofunda, suporta e satisfaz o coração humano ao longo de toda uma vida – cresce a partir do que ofertamos aos outros, e não do que tiramos para nós mesmos. O Senhor Jesus morreu na cruz para a nossa salvação. Aquela capacidade radical e libertadora de abandonar nossas prerrogativas e nos ofertarmos aos outros é o elemento que torna coeso todo o ensinamento católico sobre o matrimónio e a família. O ensinamento católico autêntico sobre o matrimónio e a família faz a separação entre amor verdadeiro e todas as outras falsas formas.
36. A Sagrada Escritura possui muitas outras formas complementares e sobrepostas de descrever o amor de Deus, mas a do matrimónio é a que se sobressai. A aliança entre Deus e seu povo – primeiro Israel e depois a Igreja – é como um casamento. Este casamento nem sempre é fácil, mas o pecado nunca possui a última palavra. A fidelidade de Deus revela como o amor verdadeiro e a fidelidade realmente são. Jesus Cristo, que nos acolhe a todos como membros da família de Deus, dá-nos uma definição nova e inaudita do amor, oferece-nos novas possibilidades para vivenciá-lo.

Questões para partilha

  • Por que o amor de Deus assemelha-se ao matrimónio?
  • De que forma o amor de Deus se distingue do nosso modo de amar?
  • O que é o verdadeiro amor e como fazer para reconhecê-lo? Quais são as semelhanças e as diferenças entre a noção cultural de amor romântico e o amor da Aliança de Deus?
  • Pode pensar em algum momento de sua vida no qual o amor de Deus lhe ajudou a amar de uma forma mais intensa e honesta?
Todas as catequeses preparatórias do VIII Encontro Mundial das Famílias - Filadélfia 2015 - podem ser acedidas em http://familia.patriarcado-lisboa.pt/Catequeses

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