Entrevista com o primaz arménio, Kissag Mouradian: Não se menciona nem número, nem pessoas, mas simplesmente se cita os fieis martirizados durante a Primeira Guerra Mundial, durante o genocídio
Roma, 24 de Abril de 2015 (Zenit.org) Sergio Mora
Ontem, quinta-feira 23, em uma liturgia realizada na cidade
de Yerevan, na sede patriarcal do Catholicosato de Echmiadzin, presidida
por Karekin II, a Igreja Arménia elevou a mártires as vítimas do
massacre de mais de um milhão de arménios na Turquia. Há poucos dias, o
arcebispo Kissag Mouradian, primaz da Igreja Apostólica Arménia, na
Argentina, esteve em Roma para participar da missa em comemoração do
genocídio celebrada pelo Papa Francisco. ZENIT teve a oportunidade de
entrevista-lo e apresentamos aos nossos leitores as respostas.
***
ZENIT: Por que vieram para esta missa do Papa Francisco?
Arcebispo Mouradian: Viemos a Roma para participar nesta Santa Missa
por ocasião do centenário e porque temos um sentimento pelo Papa
Francisco. Comemoramos que as vítimas do genocídio, a partir do 23 de Abril de 2015, serão declaradas mártires, ou seja, beatificadas. Não
somente as vítimas do genocídio, mas também todas aquelas pessoas que
pagaram com o martírio de sangue.
ZENIT: Por qual razão foram massacrados?
- Arcebispo Mouradian: Eles não só foram massacrados por serem arménios, mas também por serem cristãos. Mas claro que em 1,5 milhões de
pessoas nem todas eram, mas todos eram cristãos arménios. Os massacres
foram organizados com um duplo significado, tanto religioso, porque
cristãos, quanto porque arménios. A intenção dos turcos, como disse o
premier turco da época, Talat Pasha, era ‘deixar só um arménio para
colocá-lo em um museu’. Até 1915, o Império Turco que tinha perdido
bastante território do que era o Império Otomano, não queria perder o
lado arménio e escolheu aniquilá-los.
ZENIT: A Turquia não quer reconhecer que foi um genocídio, porque teme que reivindiquem o seu território?
- Arcebispo Mouradian: Uma vez aceitaram que os expulsaram das suas
casas e mataram os seus filhos, o passo seguinte é esse. E a Turquia não
quer chegar a esse segundo passo.
ZENIT: Vi fotos de pessoas até mesmo crucificadas...
- Arcebispo Mouradian: Sim, houve muita crueldade, tudo o que se possa imaginar.
ZENIT: Qual é a fórmula de beatificação?
- Arcebispo Mouradian: Não se menciona nem número, nem pessoas, mas
simplesmente cita os fieis martirizados durante a Primeira Guerra
Mundial, durante o genocídio.
ZENIT: Onde estão os arménios hoje?
- Arcebispo Mouradian: Hoje existem 3 milhões na Arménia. Depois do
genocídio se espalharam pelos países árabes, Síria, Líbano, Egipto,
Jordânia, Chipre, ou seja, os países próximos, depois que chegaram aos
países mais distantes, especialmente na França, uma parte nos EUA e
outra na América do Sul, incluindo Uruguai, Argentina e Brasil.
ZENIT: ¿Arménia hoje, o seu território e seu povo, onde estão?
- Arcebispo Mouradian: Arménia, nosso país, tem um 30 por cento de
seu antigo território, que se tornou parte da União Soviética, e
tornou-se independente em 1991, após a queda da Cortina de Ferro.
ZENIT: A Igreja arménia não depende de Roma, certo?
- Arcebispo Mouradian: Os armênios temos nosso rito, nossas cerimónias, somos autocéfalos com duas sedes, a de Echmiadzin de todos
os Arménios e a outra na Cilícia, perto de Beirute. E dois patriarcados,
um em Jerusalém e outro em Constantinopla..
ZENIT: Qual é o seu papel actual na Igreja Armênia?
- Arcebispo Mouradian: sou primaz da Argentina, o que corresponde à
Santa Sé de Etchmiadzin de todos os Arménios. Até o ano 83 a América
Latina era só uma diocese hoje são três: Argentina, Brasil e Uruguai.
ZENIT: Você conhecia Bergoglio na Argentina?
- Arcebispo Mouradian: Sim, até mesmo acabamos de presenteá-lo com uma Jachka, cruz de pedra típica do nosso país.
(24 de Abril de 2015) © Innovative Media Inc.
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