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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Vaticano: "Que o tráfico humano seja crime contra a humanidade

Solicitado pela Plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, por iniciativa do Papa Francisco. Também solicita a criação de uma agência internacional para combater esse crime


Roma, 21 de Abril de 2015 (Zenit.org) Sergio Mora


A sessão plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, que acontece desde o dia 17 até a tarde de hoje, 21 de Abril, na Casina Pio IV, no Vaticano, pouco antes de concluir ofereceu uma conferência de imprensa.

Um dos pontos centrais propostos é que o tráfico de pessoas ou tratat seja qualificado como crime contra a humanidade, como lhes pediu o Santo Padre Francisco, porque assim poderá superar as barreiras ou lacunas das legislações nacionais. Além da criação de uma agência internacional que permita medidas concretas para combater o tráfico de seres humanos.

Participaram da conferência a professora Margaret Archer, presidente da Pontifícia Academia das Ciências Sociais; e dois dos seus membros, os professores Stefano Zamagni e Pierpaolo Donati.

Foi uma plenária enriquecida por outras categorias que se juntaram aos académicos, como os operadores sociais do mundo das ONGs, e diplomatas e responsáveis das execuções das políticas, (policy markers), indicaram.

Recordaram também que o último informe da Organização das Nações Unidas em Viena, indica que o 70% dos escravizados são mulheres e meninas, e o 72% dos traficantes são homens. Mas, além do problema do sexo, a novidade é que o tráfico não está destinado somente à exploração sexual, ou à prostituição, mas também para que as pessoas sejam iniciadas no trabalho forçado, em sectores da economia, incluindo doméstica.

"Porque a novidade também é que existem empresas que trabalham com a terceirização, o que favorece o fenómeno. Isso requer também a responsabilidade social das empresas", disse o professor Zamagni.

É importante também combater a ideia de que "o fenómeno do tráfico é tão antigo quanto a humanidade e, portanto, normal", quando hoje estamos na era da globalização. Por isso, disse o professor da Universidade de Bolonha, "é necessário destruir isso, e não pensar que é necessário conviver com o fenómeno".

Outro ponto é que "em um mundo no qual conta a oferta e a procura, não se pode deixar de ter em conta a demanda", disse ele. E assim, o empresário não pode dizer 'não sabia', se um preço de contrato é muito baixo.

Além do mais, claramente fica de pé a necessidade da luta contra a criminalidade organizada, que usa a violência e a corrupção.

Destacou que “também é preciso acabar com a ideia de que ‘esses fenómenos ocorrem em âmbitos maus da sociedade’. Não é assim, embora não haja nenhuma coerção directa, porque se dão opções sem saída para um imigrante, este é um modo de reduzir a liberdade de escolha”. Além do mais, estas opções limitadas servem, por exemplo, para justificar aqueles que dizem: legalizemos a prostituição.

Outro dos problemas que ficaram claros é no âmbito do Direito internacional, que deve optar entre Sullivan, com os seus 7 princípios e, mais recentemente os propostos por John Rugier, aprovados em Novembro de 2011. Porque não é possível aceitar ambos.

Verificou-se também que é necessário definir uma autoridade mundial como a Wto, mas em matéria de tráfico de seres humanos, para fazer aplicar os protocolos que foram assinados, como o de Palermo, com 90% das assinaturas da comunidade internacional, mas ratificado por poucas nações.

Ou, por exemplo, que indique um ‘não compro’ ou destaque quem vê um negócio possível se por trás há fenómenos de escravidão.

E concluiu o professor Zamagni, "depois está a questão jurídica. O Papa quer que se defina o tráfico como crime contra a humanidade. Ou seja, uma tipologia nova superior à lei posivita dos Estados".

O professor Donati entretanto pediu para se erradicar preconceitos, como o de confundir o imigrante que foge da pessoa escravizada. “Os imigrantes que fogem em embarcações não são escravos que irão trabalhar na prostituição, mas principalmente pessoas que solicitam o estatuto de refugiados". E disse que, no caso das pessoas escravizadas é recomendado o repatriamento voluntário, ao contrário dos imigrantes que podem ser repatriados sem o seu consentimento.

Também lembrou que com a criminalização de certos crimes, como a prostituição, se conseguiu poucos resultados, e que, por isso, é prioritário reduzir a solicitação. Aqui entra um problema de cultura, também um problema económico no trabalho forçado, como na prostituição.

Portanto, um ponto importante para combater o tráfico de órgãos é incentivar a doação de órgãos. Promover entre as pessoas as cartas que autorizam a doação de seus órgãos em caso de morte e explicar aos fieis, nos colégios, e nas associações que sensibilizam a opinião pública, dirigindo-se não só aos indivíduos, mas também às redes sociais e à sociedade civil.

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