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terça-feira, 21 de abril de 2015

A iconoclastia dos jihadistas

Estudo publicado na revista La Civiltà Cattolica mostra que tal iconoclastia não tem o seu fundamento doutrinário no Islão tradicional, nem sunita e nem xiita, mas em algumas correntes do islamismo salafita ou radical


Roma, 20 de Abril de 2015 (Zenit.org) Nicola Rosetti


Os jihadistas em suas acções terroristas não pouparam obras de arte e tudo o que gira em torno do mundo das imagens. Basta pensar que, em 2001, os Talibãs explodiram com dinamite os gigantescos budas de Bamiyan, no Afeganistão. Em 2004, mataram o cineasta holandês Theo Van Gogh. Finalmente, este ano, atacaram em Paris os cartoonistas do Charlie Hebdo e os turistas desarmados que foram visitar o Museu do Bardo em Tunis.

Este conjunto de circunstâncias levou o padre Giovanni Sale a reflectir sobre o tema do aniconismo no Islão e sobre o tema da iconoclastia no contexto do terrorismo. O ensaio foi publicado na última edição da revista Civiltà Cattolica do último sábado, 18.

Para o padre Sale, “a iconoclastia praticada pelos militantes do Isis, e em anos anteriores, pelos afegãos, não tem o seu fundamento doutrinal no aniconismo praticado pelo islão tradicional, tanto sunita quanto xiita, mas encontra a sua origem em algumas correntes do islamismo salafita ou radical, como por exemplo, aquele de matriz wahhabita".

Na verdade, apenas um versículo do Alcorão trata com muito desdém do tema das imagens: "Ó vós que credes, na verdade o vinho, o maysir, as pedras idolátricas, as flechas de adivinhação são apenas uma infâmia, obras de Satanás; evitem-nas” (Alcorão V, 90). Portanto, "de acordo com estudiosos do tema, não existe no Alcorão uma proibição concreta sobre as representações, embora seja explicitamente condenada a adoração dos ídolos, como já tinha acontecido na Bíblia".

Uma proibição mais explícita, afirma ainda o padre Sale, aparece pela primeira vez em alguns hadith, os ditos atribuídos ao profeta Maomé e seus seguidores", onde as imagens são proibidas. Na verdade, elas "são ilegais e proibidas porque aviltam a santidade do espaço ritual da oração e porque através de sua criação tem-se a pretensão de emular um ato que só pertence a Deus, ou seja, aquele de criar seres vivos”.

Em vez disso, com o surgimento do whhabismo que o aniconismo toma formas da violenta iconoclastia. Este movimento, lembra o jesuíta, “se desenvolveu na península arábica no século XVIII por obra de um pregador carismático, ibn Abd al-Wahhab (1703-1792), que se apoiava nas doutrinas religiosas ensinadas por um estudioso medieval, Ahmad ibn Taymiyya ( morto em 1328).

Tais ensinamentos, argumenta ainda o padre Sale, “substancialmente professam “a ciência da unicidade de Deus", entendida de forma radical. Qualquer coisa que distrai o fiel desta verdade, como, por exemplo, o culto dos anjos, dos espíritos ou a visita às tumbas dos justos (incluindo a do Profeta) ou de particulares mesquitas, é considerado idolatria".

O editor da revista Civiltà Cattolica conclui dizendo que “À luz de tudo o que foi exposto, fica claro que as recentes devastações e destruições de monumentos antigos, assim como o assassinato de turistas estrangeiros que visitam lugares de cultura dos militantes do Isis, não devem ser lidos em referência à tradição aniconica islâmica, comum também no hebraísmo, e nem à sua história, muitas vezes inspirada na tolerância e na "protecção" dos membros da religião do livro, como na adopção de princípios rigoristas extraídos da doutrina wahhabita, interpretada acriticamente e fora de controle de instituições religiosas consolidadas e legítimas”.

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