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terça-feira, 2 de setembro de 2014

Carta de gratidão de uma microbióloga nigeriana a Meriam Ibrahim, modelo de «autêntica feminidade»

Obianuju Ekeocha fundou a Cultura Africana da Vida 

Testemunho de vida, de maternidade, de matrimónio,
de amor e de fé, disse a doutora Ekeocha.
Actualizado 30 de Julho de 2014

C.L./ ReL

Obianuju Ekeocha é licenciada em Microbiologia pela Universidade da Nigéria e doutora em Ciências Biomédicas pela Universidade de East London. Nigeriana e católica, reside em Inglaterra, onde trabalha em Canterbury no âmbito da Biomedicina.

Faz parte da African Culture of Life [Cultura Africana da Vida], que procura "defender a santidade e a dignidade da vida em África mediante a informação, a sensibilização e a informação", o que a levou a denunciar publicamente Melinda Gates, a esposa de Bill Gates, cuja Fundação comum promove princípios exactamente opostos.

Na última entrada do seu blogue, publicada em 24 de Julho, a doutora Ekeocha dirige uma formosa carta a Meriam Ibrahim, a jovem sudanesa de 27 anos condenada à morte por ser cristã e casar-se com um cristão, e que deu à luz a sua filha com as pernas acorrentadas pelos seus carcereiros, depois de negar-se a renunciar à sua fé e a aceitar o islão. Depois da sua libertação, foi recebida pelo Papa Francisco.

De seguida traduzimos as interessantes reflexões desta jovem microbióloga na sua missiva de agradecimento a Meriam como testemunho... Não só da fé.

"Carta de agradecimento de uma mulher africana a Meriam Ibrahim"

A grande notícia da chegada de Meriam Ibrahim a Itália encheu-me de tanta alegria como entusiasmo. As imagens desta mulher africana tão graciosa e bela saindo do avião com o seu bebé nos braços atraía a atenção depois da sua inconcebível dor e sofrimento na prisão sudanesa.

Assim pensei que devia, numa carta muito simples, deixar por escrito as minhas reflexões e pensamentos de gratidão a esta intrépida filha de África cuja liberdade se celebra hoje no mundo inteiro.

Em nome de todas as mulheres de África, agradeço-te, Meriam Ibrahim, por mostrares ao mundo a coragem indómita que constitui o coração da autêntica feminidade. Digo isto porque a tua dor e a tua perseguição estiveram intimamente ligadas à tua feminidade. E por isso o teu triunfo foi o mais potente testemunho de vida, de maternidade, de matrimónio, de amor e de fé.

Tu és realmente a imagem viva da fé e da virtude, um verdadeiro símbolo de força e valentia. És, na minha humilde opinião, uma autêntica mulher com substância, uma mulher africana com substância, e a tua história enche o meu coração de coragem e audácia na minha própria vocação de defender a nossa cultura africana da vida, do matrimónio, da maternidade, da fé e da família, não importa o difícil, vergonhoso ou doloroso que possa resultar para mim.

Porque debaixo de uma intensa perseguição, negaste-te a rejeitar a tua fé cristã. Debaixo a ameaça de extremistas, permaneceste em pé como testemunha e mártir. Debaixo pena de ser encarcerada, não renegaste o teu marido nem renunciaste ao teu matrimónio. Debaixo as pesadas grilhetas da prisão, mostraste energia e resistência para dar vida, para dar à luz. Debaixo da certeza de uma sentença de morte, tiveste a determinação de alimentar a tu preciosa pequenita.

Graças ao teu poderoso exemplo, o mundo foi testemunha da força de uma jovem mulher africana que, nas piores condições, ofereceu um testemunho heróico das virtudes de fé, matrimónio e maternidade. As tuas incalculáveis provas dos últimos meses foram o mais brilhante raio de luz que atravessou as nuvens mais negras para contradizer um mundo moderno que nos diz que a fé não importa nada, que a liberdade religiosa não tem nenhuma importância, que o matrimónio é o que queiramos nós que seja, que a maternidade deve ser uma escolha que façamos só nas condições mais propícias, que as nossas crianças só devem nascer se chegam no momento mais conveniente.

Tu, minha irmã africana, converteste-te num pára-raios das feministas radicais do nosso tempo, que repudiam e denegam todas as virtudes que tu encarnas.

No teu corpo levaste as marcas e as cicatrizes de uma verdadeira cristã, esposa, mãe e mártir, e assim nos mostraste o que é ser uma mulher libertada e com autoridade, encanta-me dizer que não é o que os ideólogos radicais ocidentais nos estão dizendo. Eles tentam dizer-nos que às mulheres africanas há que dar-lhes poder, que tem que ser "sexualmente libertadas", egoístas, individualistas e orgulhosamente autónomas. Mas tu, Meriam, com o teu exemplo, nos ensinaste que a mulher africana libertada é a mulher que é livre para viver e praticar a sua fé, amar o seu marido e proteger os seus filhos, os nascidos e os não nascidos. Uma mulher libertada é uma mulher de fé e de família. Esta é a verdade que deve ser pregada em toda a África.

Hoje o mundo olhava-te quando respiravas o ar fresco da liberdade e quando fazias a tua primeira paragem, não na Casa Branca, mas sim na Casa Santa Marta, que é também a casa do Santo Padre, o Papa Francisco. Em vez de dar-lhe a mão ao presidente, como muitas outras teriam ansiado, escolheste a mão papal. E em vez de uma recepção política escolheste a bênção apostólica para ti e a tua família. Escolheste o Papa antes que o presidente dos Estados Unidos! És uma mulher de grande sabedoria e força e realmente África cultiva-te, louva-te e celebra-te.

Regozijamo-nos contigo e por ti. Regozijamo-nos porque no fim estás livre. E além do nosso regozijo, rezo para que mais mulheres (da nossa África e de todos os cantos do mundo) se olhem tão profundamente na tua experiência como para emular-te.

Rezo para que as mulheres de fé levem o seu valente testemunho até ao extremo do martírio. Rezo para que as mulheres grávidas escolham a todo o custo a vida para os seus filhos. Rezo para que as mulheres sejam esposas e mães sejam fiéis ao seu compromisso e à sua vocação.

Rezo para que, mais além da nossa alegria global, nos adorne somente uma porção da virtude heróica do autêntico feminismo de Meriam Ibrahim, purificado e forjado na intensa prova da perseguição religiosa.


in


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