Glossário de Bioética: a "doce morte" acabou significando também "dar morte a uma pessoa com prognóstico negativo"; uma "morte rápida", porém, não é sinónimo de "morte digna".
Roma, 06 de Novembro de 2013
A “morte doce” acabou significando "dar morte a uma pessoa
com prognóstico negativo", embora a "morte rápida" não seja sinónimo de
"morte com dignidade": pode ser entendida como "morte doce”, afinal,
aquela que é vivida com coragem e na companhia dos entes queridos;
facilitar a morte de alguém é um ato prejudicial ao corpo social,
diferentemente da suspensão de cuidados desnecessários, dos quais ela
deve ser bem diferenciada.
Literalmente, eutanásia significa "morte doce"; na linguagem comum,
ela significa "morte provocada (a fim de evitar o sofrimento grave)",
que mal se distingue do suicídio assistido de uma pessoa que consente
nessa prática. Dentro do contexto da eutanásia, inclui-se a suspensão da
assistência médica voltada a salvar a vida, ou seja, a determinação de
não reanimar o paciente caso haja risco urgente para a vida, ou de
suprimir os medicamentos e até mesmo a hidratação e a alimentação.
Fala-se, assim, de eutanásia activa e passiva (ou omissiva).
A razão
A eutanásia realmente preserva a dignidade da pessoa? Seu objectivo
declarado é duplo: evitar o sofrimento e a possível diminuição da
dignidade da pessoa. Entretanto, para combater o sofrimento existem
excelentes medicamentos; já a questão da dignidade da pessoa é mais
complexa: haverá mesmo algo que diminua a dignidade de uma pessoa?
Morrer de velhice é mais digno que morrer de câncer?
A dignidade humana é inerente à pessoa, em qualquer situação, em
qualquer idade, em qualquer estado de saúde ou de desenvolvimento sócio-económica. É um mito a ideia de que seja preciso criar situações
para preservá-la, já que nada a elimina, nem mesmo o pior dos algozes.
Ao contrário: é obrigação moral de todos respeitá-la. Esse mito vem da
ideia de que ser dependente dos outros, principalmente em casos extremos
de dependência, não seria "digno do ser humano", que, na sociedade
pós-moderna, é visto como aquele que tem uma característica fundamental e
suprema: a autonomia, a independência. Qualquer coisa que diminua ou
elimine a autonomia é hoje considerado como um ataque contra o status do
ser humano, levando-o inclusive a perder o título de "pessoa": seria o
caso da criança, do embrião, do ancião ou do doente mental que depende
dos outros.
O que deve ser assegurado de todas as maneiras é que a pessoa receba
todos os cuidados a que tem direito, incluindo os paliativos, e que
transcorra a etapa final da vida nas condições mais serenas possíveis. A
questão, assim, é “ajudar a morrer bem”, o que não significa "decidir
quando", mas "como": isto é, no melhor ambiente e com o melhor
atendimento e companhia. A eutanásia é apenas um atalho para não se
abordar o problema dos direitos reais do moribundo.
De que tipo de cultura nasce a ideia de escolher quando morrer? O
slogan "Eu decido quando e onde morrer" é um exagero com propósitos polémicos. Pouquíssima gente ficará paralisada sem poder expressar a
própria opinião e precisando de alguém que lhe escolha o tratamento
médico adequado. Esse slogan nasce também de uma cultura de autonomia
extrema, na qual o meu valor reside na minha capacidade de me auto-gerir:
é claro que isto é bom, mas não diminui o valor da pessoa que precisa
ser cuidada até nas necessidades mais simples. Suspender o tratamento é
válido apenas se o tratamento é insuportável ou não é eficaz.
O sentimento
Não se pode supor que qualquer um vá decidir antecipadamente o que
escolher quando estiver doente. Mas há um aspecto social que precisa ser
levado em conta: o cuidado das pessoas gravemente doentes deve ser uma
exigência legal das autoridades locais e do Estado, que devem facilitar a
situação das famílias e dos indivíduos. Hipocrisia é falar contra a
eutanásia fingindo-se que a pessoa deprimida ou idosa não é abandonada
pela sociedade. Ao mesmo tempo, é muito fácil para o Estado simplesmente
permitir a eutanásia em vez de dar o melhor das suas possibilidades
para ajudar os doentes.
in
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