D. António Vitalino defende promoção das pessoas que vá para lá do «assistencialismo»
“Espero que os poderes públicos, embora sabendo que também têm de satisfazer os seus compromissos, sejam mais humanos porque a pessoa é que é o centro de todo o nosso compromisso, quer da Igreja, do Estado e de qualquer outra instituição”, alertou D. António Vitalino, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O bispo de Beja frisou que quando se “ofende a dignidade” da pessoa humana e da família não se cumpre a “missão” política.
No Alentejo, como por todo o território nacional, as instituições sociais ligadas à Igreja têm sido uma ‘almofada’ para muitas pessoas na actual crise económico-financeira: “Preocupa-nos a promoção das pessoas, não o simples assistencialismo”.
Nesse sentido, o entrevistado explica que têm equipas de reinserção, sobretudo ligadas à Cáritas diocesana, onde procuram “autonomizar” quem precisa da sua ajuda “através da realização pessoal e social”.
Para o bispo de Beja, a Igreja “deve ser profeta” que denuncia mas que também ajuda.
“Este tipo de sociedade sempre existiu mas por isso é que temos o poder judicial que tem de ser dotado de meios necessários para que se as pessoas actuem por ética, amor, princípios de cidadania”, alertou mais uma vez para que a população “sinta confiança em todos aqueles que escolhe”.
Bispo na diocese alentejana de Beja há 16 anos, o prelado indica o que considera que deve ser desenvolvido para que esta região seja mais apreciada, como na agricultura, que “tem muitas potencialidades” ou o turismo que “podia ser muito mais desenvolvido, apostando na qualidade” e menos em massas.
“Poderiam estabelecer-se mais empresas, a nível de matéria-prima, criar indústria de transformação que não temos; Na formação e educação há muito a fazer”, acrescentou.
A Igreja diocesana tem acompanhado este desenvolvimento, por exemplo, na área da conservação e inventariação/catalogação do património: “Esta conservação e manutenção custa muito dinheiro, entre as autarquias e o departamento tem-se conseguido alguns recursos”.
D. António Vitalino destaca que tanto os autarcas, como a população respeitam “muito a hierarquia e a Igreja”, uma instituição que “merece confiança” e tem o ambiente propício para evangelizar.
O interlocutor destacou ainda como positivo a barragem do Alqueva, que vai irrigar 110 mil hectares – “agora os agricultores podem semear com confiança” – e critica o Aeroporto de Beja que está praticamente parado – “uma estrutura que custou uns milhões”.
“Queremos e fazemos as coisas, investimos em betão e infraestruturas, mas depois não delineamos o seu funcionamento e a sua manutenção”, comentou.
O Cante Alentejano foi declarado Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, a 27 de Novembro, e o prelado de Beja considera que “tudo o que tem valor cultural deve ser reconhecido ou corre o risco de desaparecer”.
“Este reconhecimento é importante, é expressão de uma cultura que não existe noutro lado, vi este reconhecimento com muita alegria” acrescentou destacando também a acção do padre António Cartageno, que integrou a comissão científica, do padre Marvão, ou do cónego Aparício.
A entrevista ao bispo de Beja, publicada na última edição do Semanário digital ECCLESIA, que dedica um dossier à diocese alentejana.
LS/CB/OC
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