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sábado, 20 de dezembro de 2014

Não há Paz sem fé no amor de Deus

Na terceira pregação do Advento o pe. Raniero Cantalamessa explica que a paz interior e no mundo se realizam confiando na certeza de ser amados por Deus


Roma, 19 de Dezembro de 2014 (Zenit.org) Antonio Gaspari


"O homem é fraco e sozinho num universo muito maior do que ele e, além disso, ainda mais ameaçador agora, com as actuais descobertas científicas, as guerras, as doenças incuráveis, o terrorismo... Mas nada disso pode nos separar do amor de Deus. Deus criou todas estas coisas e as têm na sua mão! Deus existe e isto basta!"

Com estas palavras, o padre Raniero Cantalamessa concluiu esta manhã, a terceira pregação de Advento dirigida ao Papa e à Cúria Romana. O pregador da Casa Pontifícia explicou que a conquista da paz interior e do coração foi o principal trabalho de todos os grandes buscadores de Deus, começando com os Padres do Deserto.

Entre as diferentes correntes, em particular indicou a prática da oração do coração, ou oração ininterrupta, amplamente praticada no Cristianismo Oriental e que o livro “Contos de um peregrino russo” é a expressão mais fascinante.

Não se trata de uma paz vazia e fim em si mesma, disse o capuchinho, mas de uma tranquilidade plena, parecida com aquela dos bem-aventurados, um viver na terra a condição dos santos no céu. Neste sentido citou Santo Agostinho que indicava nas Confissões “o ideal da paz do coração”; um ideal que Dante Alighieri sintetizou no verso: “Na Sua vontade está a nossa paz”.

Segundo o padre Cantalamessa, a concepção de Agostinho da paz interior como a adesão à vontade de Deus tem uma confirmação e um aprofundamento nos místicos. Mestre Eckhart escreveu sobre: "Quanto mais se penetra em Deus, mais se penetra na paz. Quem já tem o seu eu em Deus tem a paz; quem tem o seu eu fora de Deus não tem a paz”.

"Não se trata só de aderir à vontade de Deus, mas não de não ter outra vontade fora a de Deus, de morrer totalmente à própria vontade”; tanto assim que Santo Inácio de Loyola falava de doutrina da “santa indiferença”, ou seja, “colocar-se em um estado de total disponibilidade e acolher a vontade de Deus". E Jesus disse: "Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo".

Para o pregador da Casa Pontifícia, "a experiência da paz interior torna-se o critério principal em todo discernimento. Deve-se acreditar ser vontade de Deus a escolha que, depois de muita ponderação e oração, é acompanhada por maior paz do coração”.

Na história, há uma longa corrente de santos, bem-aventurados e mártires que compreenderam profundamente a paz espiritual: em primeiro lugar, Teresa do Menino Jesus, disse o padre Raniero, como mestra e modelo; em seguida, o mártir heróico do nazismo, Dietrich Bonhoffer, que, enquanto estava na prisão e aguardando a execução, escreveu: "A partir de forças amigas e maravilhosamente envoltos esperamos ansiosos o futuro. Deus está conosco, à noite e pela manhã, estará connosco todos os dias novamente”. Ou até mesmo São Francisco de Assis, que - disse Cantalamessa - superou a tristeza e as preocupações por causa da resistência de alguns confrades ao seu ideal alegando que "Deus existe, e é o suficiente!"

"Para superar quaisquer preocupações e reencontrar cada vez a paz de coração, é preciso confiar na certeza de ser amados por Deus”, destacou. Citou, portanto, São Paulo que na Carta aos Romanos escreveu: “Nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados; nem presente nem futuro, nem potências, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor".

Antes de terminar a sua terceira e última pregação do Advento, pe. Raniero Cantalamessa, pediu paz entre o céu e a terra, entre todos os povos e aquela nos nossos corações, concluindo com uma conhecida citação de Santa Teresa de Ávila: "Nada te perturbe, nada de assuste; tudo passa, Deus não muda; a paciência tudo alcança; quem tem Deus nada falta. Só Deus basta”.

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