Na terceira pregação do Advento o pe. Raniero Cantalamessa explica que a paz interior e no mundo se realizam confiando na certeza de ser amados por Deus
Roma, 19 de Dezembro de 2014 (Zenit.org) Antonio Gaspari
"O homem é fraco e sozinho num universo muito maior do que
ele e, além disso, ainda mais ameaçador agora, com as actuais descobertas
científicas, as guerras, as doenças incuráveis, o terrorismo... Mas
nada disso pode nos separar do amor de Deus. Deus criou todas estas
coisas e as têm na sua mão! Deus existe e isto basta!"
Com estas palavras, o padre Raniero Cantalamessa concluiu esta
manhã, a terceira pregação de Advento dirigida ao Papa e à Cúria Romana.
O pregador da Casa Pontifícia explicou que a conquista da paz interior e
do coração foi o principal trabalho de todos os grandes buscadores de
Deus, começando com os Padres do Deserto.
Entre as diferentes correntes, em particular indicou a prática da
oração do coração, ou oração ininterrupta, amplamente praticada no
Cristianismo Oriental e que o livro “Contos de um peregrino russo” é a
expressão mais fascinante.
Não se trata de uma paz vazia e fim em si mesma, disse o capuchinho,
mas de uma tranquilidade plena, parecida com aquela dos bem-aventurados,
um viver na terra a condição dos santos no céu. Neste sentido citou
Santo Agostinho que indicava nas Confissões “o ideal da paz do coração”;
um ideal que Dante Alighieri sintetizou no verso: “Na Sua vontade está a
nossa paz”.
Segundo o padre Cantalamessa, a concepção de Agostinho da paz
interior como a adesão à vontade de Deus tem uma confirmação e um
aprofundamento nos místicos. Mestre Eckhart escreveu sobre: "Quanto mais
se penetra em Deus, mais se penetra na paz. Quem já tem o seu eu em
Deus tem a paz; quem tem o seu eu fora de Deus não tem a paz”.
"Não se trata só de aderir à vontade de Deus, mas não de não ter
outra vontade fora a de Deus, de morrer totalmente à própria vontade”;
tanto assim que Santo Inácio de Loyola falava de doutrina da “santa
indiferença”, ou seja, “colocar-se em um estado de total disponibilidade
e acolher a vontade de Deus". E Jesus disse: "Quem quiser vir após mim,
renuncie a si mesmo".
Para o pregador da Casa Pontifícia, "a experiência da paz interior
torna-se o critério principal em todo discernimento. Deve-se acreditar
ser vontade de Deus a escolha que, depois de muita ponderação e oração, é
acompanhada por maior paz do coração”.
Na história, há uma longa corrente de santos, bem-aventurados e
mártires que compreenderam profundamente a paz espiritual: em primeiro
lugar, Teresa do Menino Jesus, disse o padre Raniero, como mestra e
modelo; em seguida, o mártir heróico do nazismo, Dietrich Bonhoffer,
que, enquanto estava na prisão e aguardando a execução, escreveu: "A
partir de forças amigas e maravilhosamente envoltos esperamos ansiosos o
futuro. Deus está conosco, à noite e pela manhã, estará connosco todos
os dias novamente”. Ou até mesmo São Francisco de Assis, que - disse
Cantalamessa - superou a tristeza e as preocupações por causa da
resistência de alguns confrades ao seu ideal alegando que "Deus existe, e
é o suficiente!"
"Para superar quaisquer preocupações e reencontrar cada vez a paz de
coração, é preciso confiar na certeza de ser amados por Deus”, destacou.
Citou, portanto, São Paulo que na Carta aos Romanos escreveu: “Nem a
morte nem a vida, nem os anjos nem os principados; nem presente nem
futuro, nem potências, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra
criatura poderá separar-nos do amor de Deus em Cristo Jesus nosso
Senhor".
Antes de terminar a sua terceira e última pregação do Advento, pe.
Raniero Cantalamessa, pediu paz entre o céu e a terra, entre todos os
povos e aquela nos nossos corações, concluindo com uma conhecida citação
de Santa Teresa de Ávila: "Nada te perturbe, nada de assuste; tudo
passa, Deus não muda; a paciência tudo alcança; quem tem Deus nada
falta. Só Deus basta”.
(19 de Dezembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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