Um conhecido escritor católico, no jornal italiano Corriere della Sera, se pergunta sobre as aparentes contradições do pontificado de Bergoglio
Roma, 29 de Dezembro de 2014 (Zenit.org) Massimo Nardi
No dia 24 de Dezembro, foi publicado no Corriere della Sera
um artigo de Vittorio Messori com o título “As dúvidas sobre a virada do
Papa Francisco”
Neste artigo, o conhecido escritor católico propõe uma "reflexão
pessoal", na verdade, "uma espécie de confissão", sobre a
"imprevisibilidade" do Papa Francisco, destinada a perturbar "a
tranquilidade do católico médio” com uma série de escolhas que poderiam
parecer também contraditórias.
Messori enumera alguns aspectos do Pontificado de Bergoglio que, em
sua opinião, poderiam causar confusão, para depois concluir, com a
humildade própria do crente, que “chefe único e verdadeiro da Igreja é
aquele Cristo omnipotente e omnisciente, que sabe melhor do que nós qual
seja a melhor escolha para seu temporário representante terreno": e isso
explica porque, na perspectiva milenária da história, “todo Papa
desempenhou o seu papel apropriado e, no final, se demonstrou
necessário”.
O artigo publicado pelo jornal Milanês é uma oportunidade para entender melhor o pontificado do Papa Francisco.
O primeiro elemento de reflexão é sobre o papel histórico do papa
Francisco. No mundo em que nós costumamos chamar de "avançado", os
cenários de escravidão, guerra, mercantilização, exploração
descontrolada e negação da dignidade humana estão mais presentes do que
nunca. E diante de tudo isso, o que fazem os grandes da terra? De tempo
em tempo se reúnem e produzem um documento morno, em nome da realpolitik, que termina normalmente com um nada feito.
Só um homem, da varanda da praça de São Pedro e nas principais
instâncias internacionais, se atreve a gritar para despertar as
consciências, se atreve a falar de "globalização da indiferença"
acusando os perversos mecanismos do poder. Aquele homem é o Papa
Francisco. Totalmente compatível com o ensinamento de Jesus nos
Evangelhos.
O Papa Francisco, em sua entrevista para Eugenio Scalfari explicou:
"Eu acredito em Deus. Não em um Deus católico, não existe um Deus
católico, existe Deus. E acredito em Jesus Cristo, na sua encarnação".
Este conceito representa, talvez, uma negação da Igreja como "corpo
místico de Cristo"? Absolutamente não. A Igreja mantém o seu carácter de
universalidade, mas o Papa Francisco é, ao mesmo tempo, consciente de
que as grandes religiões do mundo têm uma base comum. Basta pensar que o
cristianismo, o judaísmo e o islamismo são chamados de "religiões
abraâmicas" porque vêem em Abraão um pai comum da fé.
Podemos recordar o caso em que, no "Sermão da Montanha", Jesus não
quebra a continuidade com Abraão, mas diz: "Não penseis que vim revogar a
Lei ou os Profetas; Não vim para abolir, mas para cumprir" (Mt 5, 17).
Esclarecedora, a tal respeito, a leitura do último livro do padre Antonio Spadaro, Oltre il muro. Dialogo tra un musulmano, un rabbino e um Cristiano, Rizzoli, 2014, (Além
do muro. Diálogo entre um muçulmano, um cristão e um rabino), que traz
na capa uma frase simbólica do Papa Francisco: "Precisa-se da coragem do
diálogo. Construir a paz é difícil, mas viver sem a paz é um tormento".
Messori argumenta que há uma contradição entre o Papa Francisco que
rejeita o proselitismo como uma ferramenta para difundir a fé católica e
a situação da América Latina, onde há uma perda de católicos para o
protestantismo pentecostal.
Mais uma vez, porém, o Pontífice argentino explicou que: "A Igreja
não cresce por proselitismo, mas por atracção de testemunhas". O
significado é claro: a fé não é um "produto" que é vendido com as
técnicas de marketing. E o Papa não é uma "contabilidade", que leva em
conta o número de fiéis.
Como podemos esquecer a cena maravilhosa narrada no Evangelho, quando
Jesus, pressionado pela multidão, pergunta: "Quem tocou na minha
roupa?". Jesus não se preocupa com o clamor que o circunda, mas daquela
alma individual que se dirige a ele em busca de ajuda.
Dito isso, deve-se notar que a personalidade e o estilo pontifical do
papa Francisco estão exercendo uma atracção tal que, em todo o mundo,
tem havido uma recuperação significativa de consenso com relação à fé
católica.
É o "populismo" isto?, se pergunta Messori. Da nossa parte nos
limitamos a observar que, na linguagem leiga, haverá sempre uma palavra,
um termo, uma definição, para tentar ler com corrosiva ironia as coisas
mais belas. Também isso é um sintoma da “dor de viver” contemporânea,
contra a qual Francisco lançou seu desafio.
Messori centra-se no compromisso comunicativo da Igreja, definindo
“terrível” a responsabilidade de quem hoje deva “anunciar o Evangelho”,
mostrando que “o Cristo não é um fantasma desaparecido e remoto, mas o
rosto humano do Deus criador”.
Neste sentido, lembramos de um congresso realizado em Roma na
Comunidade de Santo Egídio, por ocasião do Dia Mundial das Comunicações
Sociais, 2014. Recordamos em particular, as palavras da jornalista
Elisabetta Piqué, que há anos conhece Bergoglio: "O Papa Francisco não
tem uma estratégia de media, nele não há nada estudado, mas, em um mundo
desprovido de líderes autênticos, as pessoas gostam dele justamente por
isso”.
Acreditamos que estas palavras constituam também uma resposta eficaz
às "contradições" aparentes de Bergoglio: um sacerdote sério, humilde,
rigoroso e, ao mesmo tempo, animado pelo Evangelho do sorriso, da paixão
de estar com as pessoas. Um Pontífice da Igreja Universal, que não
perdeu a vocação do "sacerdote da rua".
"Precisa-se sair para fora – afirmava o arcebispo Bergoglio no ano
2000 - e falar com as pessoas reunidas nas varandas. Temos que sair das
nossas conchas e dizer que Jesus vive, e afirma-lo com alegria, mesmo
que às vezes pareça um pouco louco”. É o programa que hoje está levando
como Pontífice, com o nome de Francisco.
(29 de Dezembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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