A velha senhora vivia só, o marido falecera havia muito e os filhos tinham constituído família do outro lado do oceano. Como companhia tinha os seus animais de estimação e a amizade de alguns vizinhos…bem não era totalmente assim, porque a sua grande companhia era a Sagrada Família de Nazaré. Tinha conservado e sempre exposto o presépio que as crianças faziam no Natal; para quê guardar as imagens da sua verdadeira família, eram a sua companhia, conversava com todos e assim não lhe pesava a solidão. Maria, a Mãe do Menino, era a sua confidente, conversavam de tudo, até com ela se lamentava do aumento do custo de vida. E Ela consolava-a e até lhe dizia o que fazer e como o fazer. Como era doce rezarem as duas o terço da noite, afinal rezava para ela, a conversar com ela, e quase sempre adormecia no seu regaço. A José pedia conselhos, principalmente quando se desarranjavam as coisas em casa, e não era que sempre lhe aparecia algum vizinho para a ajudar! Fora certamente José que lhe dera o recado. E ao Menino cantava cantigas de embalar, tinha que ajudar a tomar conta da Criança. Até O mantinha no colo, como era belo o seu Menino, que não troçava do seu cantar…
A médica de família tinha-lhe dito que precisava de fazer exercício e ela era obediente; naqueles dias bonitos, com o Outono a findar, em que o céu é mais azul e o sol brilha como que a anunciar que o Senhor vai descer à terra que criou, ela gostava de dar o seu passeiozinho a pé. As varandas e as janelas dos prédios até estavam mais bonitas com os Meninos Jesus a dizer a todos os homens e mulheres que os amava que vinha por eles e para eles. Como gostava de pedir àquele Menino de braços abertos que olhasse pelo mundo e pelos seus filhos que estavam longe. Se não fossem os telefonemas e a ajuda da menina do 2º direito, que lhos mostrava no computador, até se esquecia de que tinha uma família tão grande. “Sabes Menino Jesus eu falo com eles e até os estou a ver, mas gostava tanto de os abraçar!”.
Terminado o passeio chegou a casa um pouco mais cansada do que o costume, mas também não admirava, os anos já pesavam e andara mais que o habitual, distraíra-se a conversar com os Meninos Jesus das janelas… Quando abria a porta de casa a menina do 2º direito apareceu-lhe com um envelope na mão: “Olhe uma carta tem aqui uma carta e veio registada, veio da América.” Abriu-a sob o olhar curioso da jovem e quando leu, exclamou com a alegria duma criança que recebe um presente - é um bilhete, um bilhete de avião, vou passar o Natal com os meus!
Maria Teresa Conceição
(professora aposentada)
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