A expansão portuguesa dos séculos XV e XVI produziu um fecundo encontro de culturas e a irradiação do cristianismo por paragens longínquas da África, Ásia, América e Oceânia. Assim, a ilha do Ceilão visitada pelos portugueses desde princípios de Quinhentos tornou-se berço de uma florescente Cristandade, graças ao zelo apostólico de franciscanos, jesuítas, dominicanos e agostinhos.
Porém, a conquista pelos holandeses de todas as posições portuguesas naquela ilha, entre 1638 e 1658, arruinou essa Cristandade, dilatada por mais de um século. Com efeito, os hereges concederam aos hindus e muçulmanos templos, ídolos, mesquitas, festas públicas e só aos católicos perseguiram, maltrataram e vedaram o acesso à prática religiosa.
É neste adverso enquadramento da Ilha Taprobana que decorreu o apostolado fervoroso e heróico do Padre José Vaz, da Congregação do Oratório de Goa, entre 1687 (ano em que entrou na ilha, disfarçado de mendigo) e 1711 (data da sua morte).
Peregrinou, com indizível fadiga e correndo riscos, por vários lugares – Jáfana, Mantota, Vanym, Potulão, Cândia, Columbo, Nigumbo. Diligenciou no sentido de se descobrir aos católicos, sem ser conhecido dos hereges holandeses. Cada ano corria uma vez quase toda a ilha, que tem duzentas léguas de perímetro. E com igual desvelo buscava a muitas almas, como a uma só. Se achava nos caminhos pessoas cristãs que tinham passado muito tempo sem se confessarem, parava ainda que no meio dos matos, ouvia-as de confissão e dava-lhes a instrução possível para que ficassem doutrinadas, confessadas e compungidas.
Seguia sempre o mesmo método na realização de uma missão: quando chegava ao lugar, mandava convocar a gente; recitada a ladainha de Nossa Senhora, explicava os actos da confissão para se prepararem para ela. Nos domínios holandeses só fazia exercícios da missão, de noite, aturando no confessionário até às três da manhã; logo depois rezava a missa, dava a comunhão, fazia casamentos e pregava; mas antes de amanhecer acabava todo o exercício e partia para outro; nunca ficava numa paragem duas noites, sem necessidade precisa. E havendo-a, mudava-se duma casa para outra do mesmo território.
Ao sair da ermida em que tinha acabado a missão, deixava no altar uma oferta ao ermideiro. Este estava encarregado de ensinar doutrina ao povo, nos domingos e dias santos e fazer-lhes práticas espirituais, lendo aquelas que estavam escritas em livro que cada igreja e ermida tinham. Procurava, dessa forma, assegurar a continuidade da prática religiosa na ausência do sacerdote.
Quando encontrava pedintes pelo caminho, repartia com eles o arroz que levava para a comitiva. Converteu apóstatas na fé, hereges holandeses, gentios... Passou por diversos perigos, tais como ataques de animais ferozes ao atravessar os matos, bastas vezes na senda de cristãos em aldeias isoladas; enormes dificuldades ao vadear os rios e regatos, coalhados de lagartos não menos ferozes; intempéries, calúnias, perseguições...
Quando encontrava pedintes pelo caminho, repartia com eles o arroz que levava para a comitiva. Converteu apóstatas na fé, hereges holandeses, gentios... Passou por diversos perigos, tais como ataques de animais ferozes ao atravessar os matos, bastas vezes na senda de cristãos em aldeias isoladas; enormes dificuldades ao vadear os rios e regatos, coalhados de lagartos não menos ferozes; intempéries, calúnias, perseguições...
O Padre Vaz realizou alguns prodígios. Em 1697, tendo deflagrado uma peste geral de bexigas, este e os demais missionários foram extremamente caritativos, fazendo o ofício de enfermeiros, improvisando hospitais, confessores, catequistas, cozinheiros, preparando panelões de arroz, coveiros, etc. No lapso de um ano, tempo que durou a peste no mesmo reino, mais de mil gentios se converteram ao catolicismo.
É muito fervorosa a devoção pelo Padre José Vaz, em Goa. Milhares e milhares de peregrinos, vindos da Índia, do Sri-Lanka e doutras paragens afluem anualmente ao seu Santuário em Sancoale (Salcete) para participar na sua novena e festa, em 16 de Janeiro. É, sem dúvida, a festividade mais concorrida em Goa, depois da de S. Francisco Xavier.
Passamos a contar com mais um santo – desta feita um santo português – a quem podemos invocar nas nossas preces: o Padre José Vaz que já nos finais de Seiscentos e na primeira década da centúria seguinte, deixava a sua terra natal de Goa “para ir para as periferias”, no dizer do Papa Francisco – primeiro para o Canará e depois para o Ceilão, actual Sri-Lanka. Com efeito, o bem-aventurado Padre José Vaz vai ser canonizado pelo Santo Padre no dia 14 de Janeiro de 2015, no Sri-Lanka. Um testemunho edificante que nos poderá transportar para outras periferias, ancorados numa fé autêntica e fervorosa.
Maria de Jesus dos Mártires Lopes
Historiadora
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