A opinião de Justo Aznar, director do Instituto de Ciências da Vida na Universidade Católica de Valência, Espanha
Madrid, 18 de Dezembro de 2014 (Zenit.org)
É amplamente admitido que diversos organismos
internacionais, vários deles dependentes das Nações Unidas, promovem
unilateralmente políticas de controle da natalidade, especialmente nos
países em vias de desenvolvimento.
Tais políticas têm grande peso ético, o que não pode ser ignorado:
por isso, não parecem razoáveis para quem, como nós, defende a vida
humana.
Vale a pena repassar essas políticas contraceptivas na esteira de um
artigo publicado na revista “Fertility and Sterility” (102; 32-33,
2014), a fim de ressaltar de que modo elas são promovidas.
O artigo começa comentando que 50% das gravidezes são não desejadas.
Depois, afirma que, nos países em que as mulheres não são educadas
sexualmente e não têm plena liberdade para regular a sua maternidade, há
mais pobreza, mais instabilidade política e se perpetua a falta de
educação à medida que a população cresce. Por isso, segundo estas
instituições, seria razoável promover políticas que favoreçam o
planeamento dos nascimentos e o tamanho das famílias.
No entanto, também a juízo dos autores, este não é apenas um problema
dos países em vias de desenvolvimento, pois também se verifica, de
alguma forma, nos países desenvolvidos.
Segundo os autores do artigo, o problema não é religioso, mas de
saúde, e nisto eu acredito que eles têm razão. Neste sentido, eles
constatam que em países de maioria católica, como a França e a Itália, a
educação sexual é amplamente difundida, assim como o próprio aborto;
existem muitos serviços que orientam sobre como planear a família e,
nesses países, os índices de natalidade são baixos.
Eles afirmam ainda que as “políticas de abstinência”, acompanhadas de
outras acções educativas a que chamam de “abstinência mais”, são mais
bem-sucedidas para evitar práticas sexuais precoces e gravidezes não
desejadas do que os programas em que se propõe apenas a abstinência, aos
quais denominam “abstinência exclusiva”. Isto nos parece lógico, porque
as acções podem ser sempre mais eficazes se mais medidas forem adoptadas
para desenvolvê-las; neste sentido, é óbvio que os programas de
“abstinência mais” serão mais eficazes que os de “abstinência
exclusiva”.
Comentam também que a terapia hormonal contraceptiva pode ser um
adequado tratamento para diversas enfermidades, como o ovário
policístico, a acne, a endometriose, a insuficiência ovárica, as
hemorragias uterinas anormais, além de outras doenças. Sempre que não se
usem métodos que impeçam a implantação, o seu uso é moralmente
aceitável.
A separação entre Igreja e Estado, prosseguem, pode favorecer a
protecção dos direitos da mulher sobre o seu corpo e as suas decisões
sobre o uso ou não da contracepção, já que, a seu ver, um excesso de
controle religioso pode dificultar as políticas contraceptivas. O caso é
que é preciso promover não somente o controle da natalidade, e sim a
paternidade responsável.
Igualmente, aduzem que a conveniência de instaurar políticas
contraceptivas é avalizada por estudos que indicam que mais de 99% das
mulheres entre 15 e 44 anos, que mantêm actividade sexual, já usaram
métodos contraceptivos alguma vez na vida. A nosso juízo, parece
razoável admitir que os critérios morais não dependem de maiorias, e sim
de critérios objectivos sobre a verdade das coisas.
O artigo que comentamos apoia as políticas contraceptivas sem considerar nenhuma ração que possa ser contrária a elas.
Parece adequado, porém, recordar que o aborto provocado, além da sua
própria carga ética negativa, pode influenciar decisivamente na evolução
demográfica dos países desenvolvidos, que estão para enfrentar um cruel
inverno demográfico. As políticas contraceptivas levaram e estão
levando países, alguns de grande densidade de população, a ver invertida
a sua pirâmide demográfica, diminuindo o número de jovens e aumentando o
de idosos, com os graves problemas sociais que isto ocasiona. Em outros
países, dedicam-se grandes quantidades de recursos económicos a
promover o nascimento do terceiro filho, para evitar os comentados
problemas demográficos, gerando-se uma esquizofrenia social entre a
promoção de políticas contraceptivas e a dedicação de recursos económicos a promover o nascimento de mais crianças.
São muitas as razões, enfim, a se levar em consideração na hora de
planear políticas contraceptivas, e o artigo mencionado não o faz,
traduzindo a existência de uma fenda na promoção de tais políticas e na
promoção de acções que, no fundo, podem atentar, e cremos que atentam,
contra as liberdades individuais.
(18 de Dezembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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