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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O Natal supera a guerra

O filme "Joyeux Noël - Feliz Natal, conta a Trégua de Natal acontecida durante a Grande Guerra entre os soldados franceses, alemães e escoceses


Roma, 23 de Dezembro de 2014 (Zenit.org) Gianluca Badii


"Estou aqui para provar alguma coisa em que eu acredito: que a guerra é inútil e sem sentido, a mais bestial prova de idiotice da raça terrestre”. Assim escrevia Oriana Fallaci no seu Niente e Cosí sia, livro do testemunho sobre a guerra do Vietname.

A guerra, de fato, uma inútil prova de força de homens e nações convencidos de que, graças às armas e à brutalidade, é possível subjugar e governar povos, apagando os direitos e a dignidade dos homens. Existem, porém, sentimentos capazes de atravessar transversalmente os eventos, capazes de ligar os corações superando as diferenças ideológicas e raciais.

Este é o caso da Trégua de Natal de 1914 entre os soldados alemães, franceses e escoceses, representada no comovente filme de 2005, Joyeux Noël – Feliz Natal. O filme, escrito e dirigido por Christian Carion e apresentado fora de competição no Festival de Cannes em 2005, conta a história de dois cantores de ópera que estão na frente alemã na véspera de Natal, para animar com seus cantos as tropas.

Basta o primeiro verso de Silent Night para atrair a atenção do "inimigo" escoceses, que responde ao som de gaitas com Adeste Fidelis. Também o exército francês se une aos cantos e assim os três diferentes exércitos se unem e decidem declarar trégua por uma noite, para ter a possibilidade de festejar todos juntos o Santo Natal. O terreno de guerra muda assim em um terreno de partilha, no qual trocam Whisky e champagne, abraços e sorrisos, esperanças e sonhos. Os soldados sabem que enfrentam a ira dos próprios superiores, mas a alegria do Natal é mais forte do que o medo pelas autoridades.

Então, na noite de Natal, os soldados das diferentes facções decidem "enterrar seus mortos no dia em que Cristo nasceu". Infelizmente, a guerra é uma máquina exterminadora, e, passado o dia de Natal, as tropas foram obrigadas a voltar a matar-se.

Neste filme, que narra fatos realmente acontecidos, assistimos momentos de grande impacto emotivo, como o jogo de futebol entre os soldados que até o dia anterior combatiam um contra o outro. A religião e a sacralidade do Natal conseguem abrir caminho ao longo das trincheiras e o capelão católico escocês tem a possibilidade de celebrar a Santa Missa. Todos participam na missa, e, em uma cena que lembra o final de Horizonte de Glória de Stanley Kubrick, os soldados não conseguem conter as lágrimas ao ouvir a Ave Maria.

Há espaço também para a ironia, com o debate sobre qual nome deve ser dado a um gato que passava por ali: Felix, para os alemães, Nestor, para os Franceses. E é justamente a sequência do gato que pode ser tomada como metáfora explicativa do filme. Seja que se chame Felix ou que se chame Nestor, aquele gato é o mesmo, com a mesma capacidade de transmitir alegria e felicidade, tanto aos franceses quanto aos alemães. Assim, seja que um homem vista o uniforme escocês, francês ou alemão, permanece sempre um homem, com as mesmas esperanças, com os mesmos medos, mas, especialmente, com a mesma vontade de interromper uma inútil guerra, de reencontrar a própria humanidade.

Assim, é possível superar as diferenças culturais, é possível superar aquelas barreiras mentais que trouxeram milhões de vítimas; um soldado francês pode responder com o próprio "Joyeux Noël" ao "Frohe Weihnachten" de um soldado alemão, rindo juntos.

A guerra, mesmo que apenas por uma noite, teve que render-se diante de um universal pacifismo; o absurdo do conflito armado foi desmascarado pela força do sentimento popular. Hoje, mais do que nunca, aquele filme nos pode ajudar a viver o Natal não somente sob o signo das piadas.

Em uma sociedade em que o valor da solidariedade tem sido constantemente minado pelo egoísmo e pela vaidade, e onde essas mesmas barreiras que levaram à Grande Guerra cem anos atrás ainda estão presentes e fortes entre nós, pensar naqueles soldados que depuseram as armas para celebrar juntos o nascimento do Menino Jesus pode nos ajudar a recordar  por que Cristo veio entre nós e o celebramos na Noite de Natal: a união de todos os homens e o amor ao próximo.

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