O filme "Joyeux Noël - Feliz Natal, conta a Trégua de Natal acontecida durante a Grande Guerra entre os soldados franceses, alemães e escoceses
Roma, 23 de Dezembro de 2014 (Zenit.org) Gianluca Badii
"Estou aqui para provar alguma coisa em que eu acredito: que
a guerra é inútil e sem sentido, a mais bestial prova de idiotice da
raça terrestre”. Assim escrevia Oriana Fallaci no seu Niente e Cosí sia, livro do testemunho sobre a guerra do Vietname.
A guerra, de fato, uma inútil prova de força de homens e nações
convencidos de que, graças às armas e à brutalidade, é possível subjugar
e governar povos, apagando os direitos e a dignidade dos homens.
Existem, porém, sentimentos capazes de atravessar transversalmente os
eventos, capazes de ligar os corações superando as diferenças
ideológicas e raciais.
Este é o caso da Trégua de Natal de 1914 entre os soldados alemães,
franceses e escoceses, representada no comovente filme de 2005, Joyeux
Noël – Feliz Natal. O filme, escrito e dirigido por Christian Carion e
apresentado fora de competição no Festival de Cannes em 2005, conta a
história de dois cantores de ópera que estão na frente alemã na véspera
de Natal, para animar com seus cantos as tropas.
Basta o primeiro verso de Silent Night para atrair a atenção do
"inimigo" escoceses, que responde ao som de gaitas com Adeste Fidelis.
Também o exército francês se une aos cantos e assim os três diferentes
exércitos se unem e decidem declarar trégua por uma noite, para ter a
possibilidade de festejar todos juntos o Santo Natal. O terreno de
guerra muda assim em um terreno de partilha, no qual trocam Whisky e
champagne, abraços e sorrisos, esperanças e sonhos. Os soldados sabem
que enfrentam a ira dos próprios superiores, mas a alegria do Natal é
mais forte do que o medo pelas autoridades.
Então, na noite de Natal, os soldados das diferentes facções decidem
"enterrar seus mortos no dia em que Cristo nasceu". Infelizmente, a
guerra é uma máquina exterminadora, e, passado o dia de Natal, as tropas
foram obrigadas a voltar a matar-se.
Neste filme, que narra fatos realmente acontecidos, assistimos
momentos de grande impacto emotivo, como o jogo de futebol entre os
soldados que até o dia anterior combatiam um contra o outro. A religião e
a sacralidade do Natal conseguem abrir caminho ao longo das trincheiras
e o capelão católico escocês tem a possibilidade de celebrar a Santa
Missa. Todos participam na missa, e, em uma cena que lembra o final de
Horizonte de Glória de Stanley Kubrick, os soldados não conseguem conter
as lágrimas ao ouvir a Ave Maria.
Há espaço também para a ironia, com o debate sobre qual nome deve ser
dado a um gato que passava por ali: Felix, para os alemães, Nestor,
para os Franceses. E é justamente a sequência do gato que pode ser
tomada como metáfora explicativa do filme. Seja que se chame Felix ou
que se chame Nestor, aquele gato é o mesmo, com a mesma capacidade de
transmitir alegria e felicidade, tanto aos franceses quanto aos alemães.
Assim, seja que um homem vista o uniforme escocês, francês ou alemão,
permanece sempre um homem, com as mesmas esperanças, com os mesmos
medos, mas, especialmente, com a mesma vontade de interromper uma inútil
guerra, de reencontrar a própria humanidade.
Assim, é possível superar as diferenças culturais, é possível superar
aquelas barreiras mentais que trouxeram milhões de vítimas; um soldado
francês pode responder com o próprio "Joyeux Noël" ao "Frohe
Weihnachten" de um soldado alemão, rindo juntos.
A guerra, mesmo que apenas por uma noite, teve que render-se diante
de um universal pacifismo; o absurdo do conflito armado foi desmascarado
pela força do sentimento popular. Hoje, mais do que nunca, aquele filme
nos pode ajudar a viver o Natal não somente sob o signo das piadas.
Em uma sociedade em que o valor da solidariedade tem sido
constantemente minado pelo egoísmo e pela vaidade, e onde essas mesmas
barreiras que levaram à Grande Guerra cem anos atrás ainda estão
presentes e fortes entre nós, pensar naqueles soldados que depuseram as
armas para celebrar juntos o nascimento do Menino Jesus pode nos ajudar a
recordar por que Cristo veio entre nós e o celebramos na Noite de
Natal: a união de todos os homens e o amor ao próximo.
(23 de Dezembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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