Em 1962, os dois estados correram o risco de começar a terceira guerra mundial. Agora, em vez disso, podem ser um exemplo de como é possível superar as diferenças na América Latina e em todo o mundo
Roma, 22 de Dezembro de 2014 (Zenit.org)
Quarta-feira, 17 de Dezembro, surpreendentemente, o
presidente norte-americano, Barack Obama, e o presidente cubano, Raul
Castro, anunciaram um acordo histórico, em dois discursos veiculados
simultaneamente após a libertação do técnico norte-americano Alan Gross,
detido por cinco anos em Cuba e a libertação dos três cidadãos cubanos
detidos nos EUA.
Obama e Castro disseram que "os Estados Unidos e Cuba concordaram em restabelecer as relações diplomáticas entre eles".
Os dois países que, já em 1962, quase foram motivo para o estopim da
terceira guerra mundial, após 53 anos de embargo económico, com
contínuos actos de hostilidade de ambos os lados, anunciaram ao mundo a
vontade de retomar as relações no sentido de um acordo de paz e,
possivelmente, de cooperação.
O aspecto mais surpreendente deste anúncio é que ambos os presidentes
agradeceram o Papa Francisco e a diplomacia do Vaticano. E isso é
realmente sem precedentes.
Obama disse: "Agradeço Sua Santidade o Papa Francisco pelos seus esforços, para que o mundo apareça como deve ser”.
E Castro voltou-se para a Santa Sé, dizendo: "Agradeço o apoio do
Vaticano e do Papa Francisco por ter ajudado a melhorar as relações
entre EUA e Cuba".
Mas o que aconteceu? Ninguém estava ciente de como trabalhou a diplomacia vaticana.
Os dois inimigos, Cuba e Estados Unidos, reabriram um diálogo que
poderia levar a uma paz completa e a uma cooperação próspera e
duradoura.
O Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, revelou durante
uma entrevista à Rádio Vaticano que o reinício das relações diplomáticas
entre os EUA e Cuba é o resultado de um trabalho “realizado durante
muitos anos” pela Santa Sé o “papel do Papa Francisco foi fundamental”.
Deve ser dito que Cuba sempre manteve relações diplomáticas com a Santa Sé, mesmo quando se tornou comunista.
Como dito pelo Cardeal Parolin, o Papa Francisco, teve o mérito de
ter tomado a iniciativa de escrever a Obama e Castro, convidando-os a
“superar as dificuldades existentes entre os dois Países e encontrar um
ponto de acordo”.
Historicamente os papas sempre pregaram e promoveram a paz. Quanto a
Cuba, mesmo que não foi reconhecido publicamente, a intervenção do Papa
João XXIII foi decisiva na prevenção de que os Estados Unidos e a União
Soviética começassem um conflito armado com mísseis nucleares em 1962.
À tradicional política de paz da Santa Sé, o Papa Francisco
acrescentou a ênfase na "cultura do encontro", no diálogo para construir
pontes, na partilha do sofrimento das vítimas, no encontra entre as
pessoas para superar as diferenças, curando as feridades passadas e
colaborando em projectos novos de paz e desenvolvimento.
De acordo com o Secretário de Estado o degelo entre Washington e a
Havana é um exemplo de como é possível superar os conflitos na América
Latina. Um modelo que "irá inspirar outros líderes para ter a mesma
coragem e buscar o caminho do diálogo e do encontro".
Trata-se de uma belíssima boa notícia que alimenta a esperança em todos aqueles que sonham com a paz.
Papa Francisco, disse o secretário de Estado, mostra que "é possível
chegar a entender-se; é possível chegar a compreender-se; é possível
chegar a colaborar e a encontrar também os caminhos para as
dificuldades que nos separam”.
As reacções foram diferentes. O povo de Cuba foi às ruas para
demonstrar entusiasmo para o que está acontecendo. Um número
significativo de americanos está se dirigindo a Cuba, contornando as
restrições à liberdade de viagens.
Nos Estados Unidos, a comunidade política está dividida, o Partido
Democrata reconheceu que as políticas agressivas e de contraste contra
Cuba não funcionaram, de facto, favoreceu que ela tenha caído nas mãos
dos soviéticos.
Parte do Partido Republicano, em vez disso, criticou a abertura feita
por Obama e pediu mais garantias pedindo reformas reais e duradouras
para o povo cubano.
Pesquisas feitas entre a população americana se mostraram bastante favoráveis ao acordo.
Até mesmo as Conferências Episcopais dos dois países se mostraram satisfeitas pela decisão histórica.
Conforme relatado pela Agência Fides, mons. Oscar Cantu, bispo
norte-americano de Las Cruces e presidente da Comissão Episcopal
"Justiça e Paz", foi muito apreciado ao anúncio feito publicamente pelo
Presidente Obama e pediu a remoção de todas as restrições de viagens a
Cuba, a promoção do comércio, o levantamento das restrições sobre
negócios e finanças e, especialmente propôs apoiar o povo cubano na sua
busca pela democracia, os direitos humanos e a liberdade religiosa.
A Conferência Episcopal de Cuba agradeceu ao Senhor, na véspera do
Natal, pelos "novos horizontes de esperança" que "iluminam a vida do
povo cubano".
"Esperamos - escreveram - que a vontade expressa pelos Presidentes
dos Estados Unidos e Cuba contribua para o bem estar material e
espiritual do nosso povo".
Assim como tinha acontecido com a vigília de oração que parou a
guerra desencadeada contra a Síria, assim como aconteceu com o documento
conjunto assinado pelos representantes das religiões contra a
escravidão, o Papa Francisco conseguiu levar a paz onde as nações Unidas
e os embaixadores dos governos fracassaram.
Acima e além das Nações Unidas, o Papa Francisco consegue falar e
tocar o coração das pessoas, homens e mulheres, que por anos viveram em
conflito uns contra os outros, os ouve-os, os tranquiliza, curar suas
feridas, e os convence sobre a possibilidade da paz e do
desenvolvimento.
A renovada intenção entre os EUA e Cuba, de ter boas relações
diplomáticas, de desenvolver paz e cooperação em um lugar onde se viu o
risco de ver explodir a Terceira Guerra Mundial, é a mais bela e boa
notícia de 2014.
(22 de Dezembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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