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sexta-feira, 25 de abril de 2014

No seu leito de morte, o dissidente Dinh Dang Dinh baptizou-se católico: «Quero ser filho de Deus»

Movido pelo exemplo de Cau, dissidente baptizado na prisão 

Dinh-Dang-Dinh nos seus últimos dias, com os seus seres queridos,
ordenou o seu legado e a sua vida espiritual
Actualizado 14 de Abril de 2014

ReL

Há pouco contávamos em ReL a história do dissidente e poeta e músico vietnamita J.B. Nguyen Huu Cau, que se baptizou nas cadeias comunistas em 1986, e que saiu da cadeia recentemente depois de passar nela quase 39 anos, nos quais rezou o Rosário todos os dias, às vezes 5 vezes por dia, e compôs hinos e poemas religiosos.

Já desde a cardeia, Nguyen Huu Cau ensinava que "o amor de Deus e da Virgem mudaram-me. Não tenho rancor contra os meus "irmãos e irmãs" (do regime). Todos temos as mesmas raízes. Descendemos do rei Hung Vuong. Por isto devemos amar-nos uns aos outros. Creio na Trindade e na Virgem Maria: isso ajudou-me a superar as insidías do destino e impediu-me de acabar com tudo suicidando-me durante os anos de cadeia".

Agora sabemos graças à agência AsiaNews que o exemplo do poeta encarcerado inspirou outros detidos políticos, como é o caso de Dinh Dang Dinh.

De "cidadão exemplar" a "inimigo do povo"

Dinh Dang Dinh tinha sido militar reconhecido pelo regime e era professor de química num instituto: estava bem situado no novo sistema comunista e não tinha porque "meter-se em sarilhos".

Mas dedicou muitos esforços nos últimos anos a lutar contra um projecto de escavações de uma mina de bauxita nos Altiplanos centrais do Vietname, algo que considerava nefasto para o meio ambiente e que contava com tradição no país, já que o general Giap, vencedor vietnamita contra a metrópole francesa, também se tinha oposto a isso.

Dinh escreveu uma carta aberta de protesto e conseguiu 3.000 adesões de intelectuais num país onde a liberdade de pensamento e expressão está muito restringida.

E foi então quando os seus inimigos se asseguraram que o molesto intelectual e patriota exemplar fosse para a cadeia: em 2012 foi condenado (num julgamento mais que duvidoso) a 6 anos de prisão por "propaganda contra o Estado" e "abuso das liberdades democráticas".
Assim foi o julgamento de Dinh em 2012
Comprovou-se uma vez mais que o comunismo tem uma percentagem pequena de ideologia fanática, e uma muito maior de estrutura corrupta ideada para enriquecer a sua elite.

Dinh só passou dois anos na prisão, onde adoeceu de cancro de estômago. As autoridades não lhe permitiram tratar-se e só quando já estava em fase terminal, em 25 de Fevereiro, lhe "suspenderam" a pena.
Dinh Dang Dinh com os seus seres queridos nos
seus últimos dias
O professor Dinh voltou à sua casa em Dak Nong, nos Altiplanos centrais, com os seus... E ali decidiu fazer-se católico, nas últimas semanas da sua vida.

A Dinh inspirou-lhe o que a sua filha lhe contava de Nguyen Huu Cau, outro dissidente que como ele tinha sido "patriota exemplar" até que criticou a corrupção... Mas que tinha estado encarcerado 39 anos, não só dois. Nguyen Huu Cau tinha-se feito católico na prisão, e durante décadas isso o fez forte e sábio.

Dinh quis imitá-lo. O professor de química disse que queria ser, nas suas palavras, "um filho de Deus".

Um sacerdote redentorista chegou a propósito desde Saigão para administrar-lhe o baptismo. A filha de Dinh conta a saída do hospital, ele rezava e pedia a Deus que lhe aliviasse os sofrimentos. 

Morreu em 4 de Abril com paz, serenidade, rodeado dos seus familiares e uma fé que e fortalecia.

No passado dia 6 de Abril os seus restos foram transladados a Ho Chi Ming City e colocados numa capela dos redentoristas, meta nos dias passados de uma incessante peregrinação de dissidentes, activistas e simples cidadãos que quiseram render homenagem à sua memória, assim como nos funerais celebrados em 7 de Abril pelo secretário-geral da Comissão Justiça e Paz da Conferência episcopal vietnamita.


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