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quarta-feira, 23 de abril de 2014

«A New Age, nociva e subtil, cativa milhões de pessoas, por exemplo com películas como Avatar»

O padre Gonzalo Len explica o desafio da «nova era» 

Uma cena de Avatar, película que propõe uma mescla de
panteísmo e ecologismo materialista com estética new age
Actualizado 11 de Abril de 2014

Gilberto Pérez/ReL

O padre Gonzalo Len é um sacerdote pertencente ao Sodalício de Vida Cristã, uma sociedade de vida apostólica de cujo Conselho Superior formou parte até há pouco. Agora vive em Roma.

Ainda que a sua figura seja pouco conhecida em Espanha, Len é um dos maiores especialistas internacionais na New Age. E acaba de publicar um libro, New Age. O desafio (Editora Stella Maris) que prologou o bispo de Ciudad Rodrigo, monsenhor Raúl Berzosa. Religión en Libertad entrevistou o padre Gonzalo Len.

- Porquê escrever sobre a New Age?
- Porque representa um grande desafio para a Nova Evangelização. É um fenómeno muito difundido na cultura, que transmite uma visão da realidade que é incompatível com a fé e que pretende ocupar o lugar da fé nas pessoas. A razão para escrever é a de ajudar a que se conheça a New Age, que se compreenda a sua mensagem nociva e inconsistente e que se veja a sua incompatibilidade com a fé da Igreja.

- Como se prepara um católico para enfrentar-se com este veneno aparentemente inócuo?
- É difícil abarcar o universo informe que é a New Age. Qualquer um se pode perder facilmente em alguns dos seus ramos. Por isso recomendo tratar de conhecer os seus aspectos mais essenciais, a sua incompatibilidade com a fé e as nefastas consequências que pode ter nas pessoas. E logo aprofundar em alguma das suas práticas ou terapias, aquela que esteja mais presente no próprio ambiente (reiki, eneagrama, flores de Bach, etc.).

- Na actualidade, todas as modas fluem com muita rapidez, não sucedeu o mesmo com a New Age? Realmente continua tendo vigência na actualidade?
- Continua tendo vigência, sem dúvida. É certo que algumas formas da sua mensagem perderam actualidade. Por exemplo, hoje não se fala tanto da nova era de aquário, da mudança epocal em torno do ano 2000. Já levamos vários anos do terceiro milénio e não se deu essa grande mudança, supostamente ditada pelas estrelas.

Por isso o acento já não está tão posto numa mudança global mas sim mais na mudança pessoal, numa espécie de nova era individual.

Outra consideração é que normalmente se conhecem muitas expressões da New Age mas não necessariamente lhes associa o nome New Age. E isto poderia levar a pensar que a New Age é algo que ficou no passado. Sem dúvida, quando se compreende tudo o que está debaixo do grande guarda-chuva da New Age, fica muito clara a sua vigência.

- Em numerosas ocasiões, há muitos aspectos da New Age que entraram nas nossas vidas, que os vemos e não percebemos nada de mal nisso. Somos capazes de reconhecer que há elementos de New Age em películas como Avatar, qualificamos de New Age a música de Enya, tão perigoso é a New Age?
- Sem dúvida é perigoso, como o pode ser qualquer manifestação cultural que não seja autenticamente humana. Talvez o particular perigo da New Age é que se apresenta como uma mensagem (vamos dizê-lo assim) doce, suave e luminosa. Não apresenta a sua mensagem com firmeza nem planeia críticas impiedosas que a cada um poderiam prevenir.

E sem dúvida se tem uma mensagem forte e que implica um radical questionamento à fé da Igreja. A New Age é muito nociva porque muito subtilmente vai afectando o olhar da fé. Um bom exemplo disto é a película Avatar: cativou milhões de pessoas (é a mais bem sucedida de toda a história) e transmitiu a ideologia New Age com muita inteligência. Não creio ter visto uma expressão de grande alcance tão claramente New Age como o é esta película. 


- Pode um católico compaginar a sua vida de fé cristã, com algumas práticas relacionadas com a New Age? Em muitos centros médicos, em empresas, pratica-se reiki, meditação transcendental, yoga… Realmente afecta a fé católica?
- Definitivamente a mensagem da New Age não é compatível com a vida cristã. E por isso é importante considerar que as diversas práticas da New Age trazem consigo umas ideias que normalmente não se fazem explícitas mas que por isso não é que deixem de influenciar negativamente. Não são recomendáveis as terapias New Age.

- New Age e desafio. É realmente um desafio para o cristão, ou é simplesmente uma crença mais dentro do supermercado de crenças que oferece a sociedade actual?
- Não vejo a New Age como uma crença, entre outras. A New Age tem como uma característica central a de ser um grande supermercado de crenças e terapias. É certo que hoje em dia há muitas crenças que não são New Age, mas apresentam-se como algo muito específico e determinado.

No caso da New Age, e esse é um dos grandes desafios, está-se perante uma grandíssima oferta de crenças e terapias (em não poucos casos contraditórias) para escolher ao gosto do cliente. O centro está na pessoa e isso é tentador. Não oferece um ideal transcendente que eleve e engrandeça à pessoa mas sim oferece os seus produtos para que a pessoa os escolha segundo a sua medida. O ponto de partida é o eu e o ponto de chegada é o mesmo (empequenecido) eu. 

- Chesterton afirmou numa ocasião: “Quando se deixa de crer em Deus, de seguida crê-se em qualquer coisa”. É isso o que sucede com a New Age?
- Inclusive pode-se dizer: o problema do nosso tempo não é que as pessoas não creiam nada mas sim que o crêem todo. E isto não só sucede ao que não crê ou ao que crê vagamente. Também pode suceder a qualquer cristão que deixa de cultivar com esmero a vida de fé.

A vida cristã é um caminho que há que percorrer cada dia. Quando não se avança, retrocede-se. Neste sentido, a fé deve ser integral, quer dizer, viver-se a nível da mente, do coração e das obras. Nem pura doutrina, nem puro sentimento, nem pura acção. As três dimensões integradas.

- A que se deve essa urgência de crer em algo?

- Porque a pessoa é um ser teologal, tem fome de Deus, nostalgia de infinito. Seja consciente ou não, procura Deus, e procura ser salvo. No coração humano há, por assim dizer, um centro: ou ali está Deus ou ali está algo ou alguém que não é Deus mas ocupando o lugar de Deus. E as consequências não são as mesmas. 

- O New Age é um reflexo do nosso tempo ou uma resposta ao mesmo?
- A New Age apresenta como resposta aos males do nosso tempo e sem dúvida não é assim uma manifestação desses males. Apresenta-se como uma resposta ao alimento podre da Modernidade mas na realidade não é mas sim a sua sobremesa. Em nenhum momento logra sair daquilo que critica. A sua grande resposta alternativa longe de saciar o coração termina embotando-o.

Porquê? Em resume poderíamos dizer que a sua proposta de reconciliar o homem com Deus, consigo mesmo e com a criação (de abrir à pessoa à transcendência e de integrar o que aparece fragmentado), a resolve desaparecendo as relações numa espécie de dissolução-identificação da pessoa em deus-natureza. Tudo fica cá em baixo, num mesmo, na "experiência". Não há transcendência, não há renovação das relações, não há integração da realidade. Não sai daquilo que critica.
FICHA TÉCNICA
COMPRA ONLINE
Título:New Age. El desafio Ocio Hispano
Autor: Gonzalo LenAmazon
Editora: Editora Stella MarisLa Casa del Libro
Páginas: 224 páginasAmazon (e-book)
Preço:  9,90 euros





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1 comentário:

  1. extraordinário como há séculos a Igreja Católica tinha a capacidade de incorporar as crenças dos povos evangelizados ou a evangelizar e hoje parece mais preocupada em ver os pontos incompativeis... dizer que o yoga é negativo... parece-me muito radical ... será a nova evangelização eficaz ao estabelecer tão apertadas limitações ? há movimentos na Igreja, por exemplo o Carismático, que ao incorporar elementos de outras crenças conseguiram rápidas adesões. São só questões de reflecção que me parecem urgentes no actual contexto. Para a maioria do publico Avatar é uma mera pelicula de diversão e não um manual de pensamento.

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