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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Fotógrafo de João Paulo II: Eu vi-o sofrer muito, nunca reclamar

Arturo Mari, fotógrafo de Wojtyla, que tirou umas 6 milhões de fotos durante o seu pontificado explica como foi poder acompanha-lo durante este período


Roma, 23 de Abril de 2014 (Zenit.org) Rocio Lancho García


O fotógrafo Arturo Mari teve a honra de seguir durante 27 anos a João Paulo II e imortalizar através da câmara o seu pontificado. Mari afirma que o papa polaco foi “um santo em vida por tudo o que pude ver, escutar”, disse numa conferência com jornalistas na Universidade da Santa Cruz, por causa da próxima canonização de Wojtyla , que será realizada neste domingo, 27 de Abril.

Da mesma forma, recorda que junto a ele percorreu o mundo, “tocamos todas as piores situações” e mencionou alguns encontros que recorda de forma especial, destacando que foi uma vida muito intensa. Desta forma, na sua opinião, a viagem mais bela foi a da Terra Santa, que aconteceu em Março do ano 2000.

Desta viagem em concreto, destaca que “era preciso ver a atmosfera com os olhos”. Ele recorda de uma forma especial do olhar do Santo Padre nessa peregrinação, que Mari podia observar com facilidade porque encontrava-se muito perto dele e afirma que “não era o Papa, não era João Paulo II”, mas “era Deus que fez esse percurso na frente dos nossos olhos”. E de um modo concreto, quis destacar a subida ao Calvário, que fisicamente supunha um esforço para ele, e ali João Paulo II chorou. “São momentos que não podem ser esquecidos, são momentos que tocam o coração, que nos fazem crescer na fé, na adesão à Igreja”, diz emocionado o fotógrafo.

Respondendo à pergunta de uma jornalista sobre como é que o Papa fazia nas viagens de avião, o fotógrafo disse que João Paulo II não dormia durante o vôo. “Ele revisava todos os discursos, do primeiro ao último, retocando, detalhando, porque não confiava muito nas traduções, ele queria ver se tinham entendido bem o seu pensamento em um discurso”, recorda Arturo Mari. E sobre isso acrescenta que também preparava outros discursos durante os voos. Menciona por exemplo voltando de Angola, depois de meia hora de voo pegou umas folhas e uma hora mais tarde o Santo Padre chamou a um monsenhor da Secretaria de Estado para avisar-lhe que tinha preparado o seu trabalho para a audiência geral da quarta-feira. Nestes momentos no avião, também se dedicava à leitura de livros, explica o fotógrafo.

Das 6 milhões de fotografias estimadas que Arturo Mari fez durante o pontificado do Papa João Paulo II, ele reconhece que "não tenho uma fotografia mais bonita, para mim todas são boas e bonitas porque sempre quis dar e comunicar os momentos mais interessantes do Papa e acho que consegui”. Ainda assim, fala especialmente dessa famosa imagem do Santo Padre beijando a cruz na sua última Sexta-feira santa. O pontífice polaco naquela ocasião não pôde ir ao Coliseu para a tradicional Via Sacra. Mari afirma que “nessa fotografia pode-se resumir, na minha opinião, 27 anos de um pontificado”. Desde a capela na qual João Paulo II acompanhava a retransmissão da Via Sacra, tomou a cruz, apoiou-a na testa, beijou o Cristo e apoiou-a no seu coração. “Para mim, estando perto, pude assistir os momentos mais interessantes, mais duros, mais fortes, ele sempre mencionou o mistério da Cruz, essa Cruz na qual sempre se apoiou no trabalho pastoral, com essa Cruz foi em meio a milhões de pessoas”, explica o fotógrafo. Voltando a essa fotografia da Sexta-feira Santa, Mari explica que nas mãos do Papa polaco podem-se ver as unhas vermelhas de sangue pela força com que aperta a cruz.

Por outro lado, o fotógrafo de João Paulo II, destaca que para ele Woytyla não escreveu 14 encíclicas, mas 15. A número 15, diz ele, não a escreveu, mas a viveu com a sua vida, “foi o sofrimento da doença que viveu”. Da mesma forma afirma que “pude ver o sofrimento e nunca escutei uma lamentação”.

Falando sobre a relação que o papa polaco tinha com a sua imagem e como ela era percebida no mundo, o fotógrafo observa que não era algo que o preocupasse, “eram outros os problemas que tinha em mente”. A este respeito acrescenta que “poder acariciar com a minha pele a sua pele, este carisma que ele exalava. Este carisma que me deu um privilégio, poder captar durante o tempo algo novo”.

Para finalizar, deteve-se no período de maior sofrimento de Wojtyla. Durante este tempo, afirma, "nunca se envergonhou de nada. Talvez fosse eu que de minha parte quisesse captar o melhor possível algumas situações que em princípio tentei. Depois não porque parecia que tinha que tirar o seu pensamento, o seu credo”. E conclui indicando que “ele, com esta doença, tem ensinado muitas coisas” e “ensinou-me o passo de uma vida à outra com muita serenidade, não falo de normalidade, mas de serenidade. E são momentos em que você entende que Deus existe”.

[Trad.TS]

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