Embaixadores junto à Santa Sé apresentaram as mudanças que esses papas fizeram no Continente da Esperança
Roma, 23 de Abril de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
Os pontificados de João Paulo II e João XXIII e sua relação
com a América Latina, tem sido o tema de um café da manhã–reunião
desta terça-feira 15 de Abril em Roma. Participaram embaixadores e
jornalistas de vários países latino-americanos. Estavam na mesa três
embaixadores junto à Santa Sé, o do Brasil, Fontes Pinto; o do México,
M. Palacios; e o de Guatemala, Alfonso Roberto Mata Fahsen. O evento foi
organizado pela Fundação de Promoção Social da Cultura (www.Fundacionfpsc.org), a Agência Mediatrends Prestomedia, um observatório
independente que estuda as tendências da informação internacional.
O embaixador do México destacou a mudança nas relações entre a
Igreja e o Estado durante o pontificado de João Paulo II e sua viagem ao
México, detalhando os precedentes liberais e anti-católicos de governos
que desde o início do século XIX produziram uma perseguição à Igreja
com a guerra dos cristeros, a proibição da educação religiosa a
trabalhadores e camponeses e com um projecto socialista para repartir a
terra.
A primeira das cinco viagens de João Paulo II ao México, em Janeiro
de 1979, causou uma mobilização impressionante, disse. Visitou todas as
grandes metrópoles do país e se declarou um fervoroso guadalupano. O
embaixador azteca recordou que já em 1992, foram negociadas reformas
constitucionais e chegou-se a uma acordo com plenas relações
diplomáticas com a Santa Sé e a reforma do status da Igreja particular.
Esclareceu, entretanto, que ainda hoje há outras questões em aberto,
como o aborto ou uniões de pessoas do mesmo sexo.
Um detalhe interessante que acrescentou é que os 35 milhões de
mexicanos que veneraram as relíquias do Papa Polaco, estimularam a
visita de Bento XVI. Concluiu afirmando que mantêm João Paulo II fresco
na memória, mais do que João XXIII, embora reconhecendo a sua
importância. Lembrou também a grande quantidade de processos de
canonização de mártires cristeros que foram abertos desde então e que a
canonização da madre Maria Guadalupe parece quase uma excepção no
santoral do país onde de 8 a cada 10 são homens e mártires.
O embaixador da Guatemala junto à Santa Sé, Alfonso Roberto Mata
Fahsen, depois de lembrar que João Paulo II visitou o país em três
ocasiões, destacou que a primeira foi em 1983, quando Guatemala estava
terminando um conflito armado interno que durou quase 30 anos, com uma
ditadura no governo, com uma situação muito difícil. Recordou que o
pedido de clemência do Papa evitou a execução de um grupo de
guerrilheiros condenados. Sua mensagem era ser portador de paz e de
harmonia e não a caso “as negociações começaram poucos anos depois,
quase desconhecidas, porque a portas fechadas, às quais participei”,
disse.
Em 1996, a segunda visita foi marcada pelo encontro com a juventude,
que favoreceu a ideia das jornadas mundiais. E a terceira já com o
governo democrático, o Papa realizou a visita ao Santuário de Estipulas,
onde depois aconteceram as reuniões de pacificação. E foi embora
dizendo: “levo Guatemala no coração”.
O embaixador brasileiro Fontes Pinto, por sua vez, disse que a
situação da história da Igreja no Brasil foi o oposto da situação no
México, porque em seu país, a Igreja sempre esteve muito próxima do
Estado. Percorreu desde o império à independência e posteriormente ao
nascimento da república, chegando a João XXIII.
O diplomata lembrou, no início da década de 60, as grandes discussões
existentes, com dom Helder Camara, o Vaticano II, a teologia da
libertação e as grandes perguntas da população sobre o futuro da Igreja.
Depois com Paulo VI, as discussões sobre a teologia da libertação,
mas com João Paulo II também estão as suas viagens: em 1980, 1991 e
1993. A do 80 com mais de 15 dias pelo país. O embaixador concluiu que
João Paulo II deixou um sentido de grande unidade e comunhão. E símbolo
disso é que uma Igreja composta por homens tão diferentes, hoje tem uma
Conferência Episcopal mais unida e que as palavras do Papa polaco aos
bispos brasileiros ainda são um ponto de união entre eles.
Vários embaixadores presentes indicaram a relação desses dois papas
com os seus respectivos países, o da Argentina, Juan Pablo Cafiero
recordou a paz alcançada por João Paulo II quando os militares de ambos
os países no poder queriam fazer uma guerra por questões fronteiriças,
mudando a história da América do Sul. O do Peru, Juan Carlos Gamarra
Skeels, da grande recepção dada ao Santo Padre e do fervor despertado na
população.
O embaixador na Venezuela, Germán José Mundarain Hernández, destacou o
papel de João XXIII com o tema das encíclicas, e que a visita de João
Paulo II foi muito marcada pelo tema musical e uma visita que foi uma
contribuição muito grande à calma e reconciliação, disse.
O embaixador do Uruguai junto à Santa Sé, Daniel Ramada Pendibene no
entanto, indicou que a figura de João XXIII, em um país marcado pelo
laicismo como o seu, ocasionou uma mudança mais profunda do que a de
João Paulo II do qual, entretanto, a memória é mais viva porque mais
recente, devido às suas encíclicas e aos ensinamentos do Concílio
Vaticano II, que tirou a Igreja do centro e a colocou como servidora
dando-lhe assim o devido protagonismo.
Os embaixadores de Honduras, Carlos Ávila Molina, e de Costa Rica,
Fernando Sánchez Campos, recordaram o papel de João Paulo II no contexto
dos anos 80 na América Central. E o embaixador da Costa Rica
acrescentou que o Papa convidou-os para sair da sua posição isolada a
fim de interessar-se como mediador de paz dos outros países da região.
[Trad.TS]
(23 de Abril de 2014) © Innovative Media Inc.
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