Em uma entrevista exclusiva à ANSA, o autor do atentado de João Paulo II fala sobre aquele 13 de maio de 1981, quando quis matar o Papa e todas as mentiras ligadas ao evento, inclusive a aparição de Emanuela Orlandi que diz é uma prisioneira no Vaticano
Roma, 27 de Abril de 2014 (Zenit.org) Salvatore Cernuzio
Narra, relembra, cita o Evangelho, revela segredos, mas
especialmente delira Ali Agca, o autor do atentado de Wojtyla, na
entrevista exclusiva concedida em dias passados à ANSA. “João Paulo II
merece ser definido a melhor pessoa do século”, mas o único santo é
Deus. “Eu o queria definitivamente matar”, a sua sobrevivência é um
milagre. Não me arrependo do atentado. Emanuela Orlandi é prisioneira do
Vaticano, o Papa deve libertá-la. São algumas das passagens da
conversa com o homem que aterrorizou o mundo quando, no dia 13 de maio
de 1981, disparou na Praça de São Pedro três tiros ao Pontífice polaco
ferindo-o gravemente.
Um gesto que não causa nele nenhum tipo de remorso porque – diz –
“estava decidido pelo sistema divino”. “Eu queria definitivamente matar o
Papa e queria morrer na Praça de São Pedro por suicídio ou
linchamento”, afirma na entrevista. Forte pela sua experiência de
atirador, tinha certeza de ter se saído bem no projecto; precisamente por
isso Alí se convenceu ao longo dos anos “com provas pessoais
indiscutíveis” que naquela manhã de maio “Deus realizou um milagre na
Praça de São Pedro". "Tudo o que aconteceu - diz ele - foi planeado e actuado pelo sistema divino”. E acrescenta: "Nossa Senhora de Fátima foi
uma simples mensageira que não sabia o significado último do milagre e
da mensagem de Fátima".
Quando lhe perguntaram sobre o que sente ao ver a pessoa que ele quis
matar sendo elevada aos altares, Agca menospreza: “o mundo tem que
saber que só existe um santo: este é Deus único eterno omnipotente
criador e dominador do Universo incalculável. Deificar um ser humano ou
uma outra criatura é um pecado sem perdão contra Deus invisível”. “Se
definimos a santidade humana como um modelo humano melhor a ser proposto
e apresentar à humanidade – acrescenta – então João Paulo II merece ser
definido a melhor pessoa do século. Também João XXIII era uma pessoa óptima que merece amor e respeito”. Porém - diz Ali - "não devemos
confundir amor humano com adoração divina. Os profetas, os papas e os
assim chamados santos cristãos e muçulmanos, todos são mortos
inconscientes que serão ressuscitados por Jesus Cristo no Juízo
Universal, portanto, a ideia da intercessão é uma ilusão que deve ser
abandonada totalmente”.
O autor do atentado recorda o encontro com Wojtyla na prisão de
Rebibbia, onde o Santo lhe concedeu o seu perdão. Um momento que lembra
“como um dos actos mais belos e mais importantes da minha vida”. “Como
disse o mesmo Papa, aquele encontro histórico era um milagre decidido
por Deus. Fiquei impressionado pela sinceridade e honestidade do papa
polaco. Ele era um homem que tinha um amor sincero desinteressado", diz
ele.
E sugere de “propor o Papa polaco à humanidade inteira como um irmão
a ser imitado na sua imensa bondade, honestidade e sinceridade”. Apesar
de que "santidade é uma prerrogativa exclusiva e indiscutível de Deus
único unido eternamente. Quando se fala da santidade deste ou daquele
profeta – reafirma Agca - eu o rejeito e condeno categoricamente. Por
isso, o fanatismo islâmico me excomungou no mundo".
Na pergunta seguinte, Alí Agca confirma que tinha recebido a ordem de
matar o Papa Wojtyla do ayatollah Khomeini um ano antes no Irão, como já
escrito no seu livro “Tinham me prometido o paraíso”. Além das ordens
recebidas, no entanto, o seu atentado – afirma – “foi um milagre
decidido pelo sistema divino”. O resto não tem importância. E o
ayatollah Khomeini “é um louco primitivo que foi para o inferno que não
merece nem sequer ser citado aqui”. A verdadeira preocupação hoje
deveria ser “como salvar o mundo do terrorismo diabólico das
organizações mafiosas como Al Qaeda, Boko Haram, Hezbollah e semelhantes
com um plano Marshall científico cultural de desnazificação do mundo
islâmico".
Além do mais (Ali afirma Ali em um delírio político religioso) o
Vaticano deveria "beatificar" Karl Marx "como o mais importante apóstolo
de Jesus Cristo”, o “verdadeiro profeta da humanidade inteira”. E
juntamente com o presidente Obama e Putin, o parlamento europeu e
“homens excelentes como Bill Gates, doador de 60 mil milhões de dólares aos
pobres”, a Santa Sé deveria unir-se para proclamar “uma nova religião
mundial: o cristianismo perfeito do monoteísmo absoluto”, juntamente com
“uma nova ordem mundial: o socialismo científico dentro do estado de
direito laico democrático”.
Questionado sobre os lados ainda obscuros que envolvem o facto do
atentado a Wojtyla, Alí confirma que “nada ficou humanamente em segredo
sobre o meu atentado ao Papa”. Ataca depois a imprensa internacional que
– diz – “foi condicionada e utilizada muitas vezes pelos serviços
secretos e outros poderes incapazes de transpor o abismo que existe
entre o progresso material e o colapso espiritual moral do mundo". "Não
sabendo como construir uma nova civilização mundial da Liberdade -
Igualdade - Fraternidade", a imprensa se preocupou “das mentiras
primitivas de milhares de conspirações inexistentes”.
Por trás do seu atentado a João Paulo II e o mistério de Nossa
Senhora de Fátima, existe um “verdadeiro sentido religioso”, afirma o
homem que apontou a pistola ao Pontífice. E não é certo o que escreve
L’Osservatore Romano no dia 15 de maio de 1981: “O atentado ao Papa não
foi realizado por este pobre jovem Ali Agca, mas dos demónios
materializados nas mãos deste jovem”.
Uma "grande revelação", esta, que, segundo o autor do atentado, “não
corresponde à verdade”: “Eu, Ali Agca, tenho a certeza absoluta de que
foi o Deus- o sistema divino que me levou para a Praça de São Pedro e
não Satanás e os seus demónios como muitos acreditam no Vaticano”. Entre
outras coisas, disse ele, também é necessário distinguir a "diferença
incalculável " entre " um milagre divino", como, de fato, foi o seu
atentado ao Papa e “um crime psicopático injustificável como o
assassinato de Aldo Moro".
Neste sentido, Agca não se arrependeu de seu ato, mas sim diz que
está “muito feliz de ter estado no centro de um plano divino”; embora
isso tenha lhe custado "30 anos de inferno em confinamento solitário".
Anos nos quais descobriu “o verdadeiro Deus santíssimo invisível” e
“abandonou definitivamente o fanatismo islâmico”, para abraçar “o
cristianismo perfeito do monoteísmo absoluto”.
Terminando de falar sobre o atentado as últimas palavras da
entrevista são para falar da desaparição de Emanuela Orlandi. Segundo
Agca, “alguns serviços secretos ocidentais sabem perfeitamente que
Emanuela Orlandi se encontra actualmente nas mãos do governo vaticano”.
Corresponde agora ao Papa Francisco “ordenar ao governo vaticano para
libertar imediatamente Emanuela Orlandi, hospeda provavelmente em algum
convento de clausura”, porque “libertando Emanuela Orlandi – conclui – o
Vaticano ter-se-á libertado da prisão de uma pequena mentira inútil”.
[Trad.TS]
(27 de Abril de 2014) © Innovative Media Inc.
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