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sábado, 19 de abril de 2014

A misericórdia de Deus supera até mesmo a traição

Padre Raniero Cantalamessa explica a traição de Judas com a idolatria do dinheiro, mas Judas também poderia ter sido perdoado pela infinita misericórdia de Deus


Roma, (Zenit.org) Antonio Gaspari


Por que Judas traiu a Cristo? E porque, diferente dos outros, se suicidou? A traição e a idolatria do dinheiro é um pecado que condena de forma eterna? Ou a misericórdia de Deus sempre salva, mesmo os pecados mais graves?

Estas e outras perguntas foram respondidas pelo Pe. Raniero Cantalamessa, durante a a pregação da sexta-feira santa que pronunciou hoje à tarde na basílica de São Pedro em Roma.

O, pregador da casa Pontifícia lembrou que Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, “se tornou o traidor” (Lc 6, 16).

Não o era originalmente, mas foi se transformando por causa da idolatria do dinheiro.

O Evangelho nos diz que Judas "era um ladrão e, como tinha a bolsa, tirava o que nela se colocava" (Jo 12, 6).

Padre Cantalamessa acrescentou que “o dinheiro, não é um dos tantos; é o ídolo por  excelência; literalmente, “o ídolo de metal fundido” (cf. Ex 34, 17).

"O apego ao dinheiro, diz a Escritura, é a raiz de todos os males" (1 Tm 6, 10).

De acordo com o pregador da Casa Pontifícia, "Por trás de cada mal da nossa sociedade, está o dinheiro, ou, pelo menos, também o dinheiro. Ele é o Moloch de bíblica memória, ao qual se imolavam jovens e crianças (cf. Jer 32, 35).

A este respeito, o padre Cantalamessa disse que por trás de actos desumanos, como o tráfico de drogas, a prostituição, o fenómeno das várias máfias, a corrupção política, fabricação e comercialização de armas, a venda de órgãos humanos retirados de crianças... há um "grande Velho" que existe realmente, não é um mito; “chama-se Dinheiro!”.

"Como todos os ídolos , - explicou - o dinheiro é ‘falso e mentiroso': promete segurança e, em vez disso, a tira; promete liberdade e em vez disso a destrói".

Referindo-se às muitas vítimas desta idolatria e à morte de Judas que se enforcou, padre Cantalamessa repetiu: "Por quem o fizeram? Valia a pena? Fizeram realmente o bem dos filhos e da família, ou do partido, se é isso procuravam? Ou, pelo contrário, destruíram a si mesmos e os outros? O deus dinheiro se encarrega de punir, ele mesmo, os seus próprios adoradores”.

"Mas Jesus - disse o pregador - nunca abandonou a Judas e ninguém sabe onde ele caiu quando se jogou da árvore com a corda no pescoço: se nas mãos de Satanás ou de Deus”.

Na Divina Comédia, Dante Alighieri fala de Manfred, filho de Frederico II e rei da Sicília, que na sua época todos acreditavam que tinha sido condenado porque morto excomungado.

Na Divina Comédia, Manfred moribundo confia ao poeta ‘que voluntariamente perdoa’ e do Purgatório escreve: “Terríveis foram os meus pecados, mas a bondade infinita com seus grandes braços sempre acolhe aquele que se arrepende”.

Para o padre Cantalemessa a história de Judas deveria levar-nos a “jogar-nos também nós aos braços abertos do crucifixo” porque a questão mais  importante "não é a sua traição, mas a resposta que Jesus dá a isso”.

Ao contrário de Pedro, que teve confiança na misericórdia de Deus, continuou o pregador, "o maior pecado de Judas não foi ter traído a Jesus, mas ter duvidado da sua misericórdia".

Jesus é misericordioso porque "procurou o rosto de Pedro depois de sua negação para dar-lhe o seu perdão" e orou na Cruz: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23 , 34).

Para garantir a experiência da Misericórdia (destacou Pe. Cantalamessa) existe o sacramento da reconciliação. A confissão (acrescentou) permite-nos experimentar em nós misericórdia e a ternura de Deus.

Para explicar o que pode fazer a Páscoa em cada um de nós o pregador da Casa Pontifícia concluiu repetindo as palavras do poeta Paul Claudel:

"Deus meu, ressuscitei e ainda estou com você!
Dormia e estava deitado como um morto na noite.
Deus disse: “Seja feita a luz” e eu despertei como se dá um grito! […]
Meu Pai, que me gerou antes da aurora,
coloco-me na tua presença.
O meu coração está livre e a minha boca está limpa, o corpo e o espírito estão de jejum.
Sou absolvido de todos os meus pecados
que confessei um por um.
O anel das núpcias está no meu dedo e o meu rosto está limpo.
Sou como um ser inocente na graça
Que tu me concedestes”.

[Trad.TS]

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