Basílica Vaticana, Sábado Santo, 19 de Abril
Roma, 22 de Abril de 2014 (Zenit.org)
O Evangelho da ressurreição de Jesus Cristo começa referindo
o caminho das mulheres para o sepulcro, ao alvorecer do dia depois do
sábado. Querem honrar o corpo do Senhor e vão ao túmulo, mas
encontram-no aberto e vazio. Um anjo majestoso diz-lhes: «Não tenhais
medo!» (Mt 28, 5). E ordena-lhes que levem esta notícia aos
discípulos: «Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a
Galileia» (28, 7). As mulheres fogem de lá imediatamente, mas, ao longo
da estrada, sai-lhes ao encontro o próprio Jesus que lhes diz: «Não
temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me
verão» (28, 10). «Não tenhais medo», «Não temais»: essa é uma voz que
encoraja a abrir o coração para receber este anúncio.
Depois da morte do Mestre, os discípulos tinham-se dispersado; a
sua fé quebrantara-se, tudo parecia ter acabado: desabadas as certezas,
apagadas as esperanças. Mas agora, aquele anúncio das mulheres, embora
incrível, chegava como um raio de luz na escuridão. A notícia
espalha-se: Jesus ressuscitou, como predissera... E de igual modo a
ordem de partir para a Galileia; duas vezes a ouviram as
mulheres, primeiro do anjo, depois do próprio Jesus: «Partam para a
Galileia. Lá Me verão». «Não temais» e «ide para a Galileia».
A Galileia é o lugar da primeira chamada, onde tudo começara!
Trata-se de voltar lá, voltar ao lugar da primeira chamada. Jesus
passara pela margem do lago, enquanto os pescadores estavam a consertar
as redes. Chamara-os e eles, deixando tudo, seguiram-No» (cf. Mt 4, 18-22).
Voltar à Galileia significa reler tudo a partir da cruz e da
vitória; sem medo, «não temais». Reler tudo (a pregação, os milagres, a
nova comunidade, os entusiasmos e as deserções, até a traição) reler
tudo a partir do fim, que é um novo início, a partir deste supremo acto de amor.
Também para cada um de nós há uma «Galileia», no princípio
do caminho com Jesus. «Partir para a Galileia» significa uma coisa
estupenda, significa redescobrirmos o nosso Baptismo como fonte viva,
tirarmos energia nova da raiz da nossa fé e da nossa experiência cristã.
Voltar para a Galileia significa antes de tudo retornar lá, àquele
ponto incandescente onde a Graça de Deus me tocou no início do caminho. É
desta fagulha que posso acender o fogo para o dia de hoje, para cada
dia, e levar calor e luz aos meus irmãos e às minhas irmãs. A partir
daquela fagulha, acende-se uma alegria humilde, uma alegria que não
ofende o sofrimento e o desespero, uma alegria mansa e bondosa.
Na vida do cristão, depois do Baptismo, há também outra «Galileia», uma «Galileia» mais existencial: a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo,
que me chamou para O seguir e participar na sua missão. Neste sentido,
voltar à Galileia significa guardar no coração a memória viva desta
chamada, quando Jesus passou pela minha estrada, olhou-me com
misericórdia, pediu-me para O seguir; voltar para Galileia significa
recuperar a lembrança daquele momento em que os olhos d’Ele se cruzaram
com os meus, quando me fez sentir que me amava.
Hoje, nesta noite, cada um de nós pode interrogar-se: Qual é a minha Galileia? Trata-se de fazer memória, ir de encontro à lembrança. Onde é a minha Galileia? Lembro-me
dela? Ou esqueci-a? Procura e a encontrarás! Ali o Senhor te espera.
Andei por estradas e sendas que ma fizeram esquecer. Senhor, ajudai-me!
Dizei-me qual é a minha Galileia. Como sabeis, eu quero voltar lá para
Vos encontrar e deixar-me abraçar pela vossa misericórdia. Não tenhais
medo, não temais, voltai para a Galileia!
O Evangelho é claro: é preciso voltar lá, para ver Jesus ressuscitado
e tornar-se testemunha da sua ressurreição. Não é voltar atrás, não é
nostalgia. É voltar ao primeiro amor, para receber o fogo que Jesus acendeu no mundo, e levá-lo a todos até aos confins da terra. Voltai para a Galileia sem medo.
«Galileia dos gentios» (Mt 4, 15; Is 8, 23): horizonte do Ressuscitado, horizonte da Igreja; desejo intenso de encontro... Ponhamo-nos a caminho!
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