Entrevista com um pároco romano que trabalha com Igrejas orientais
Cidade do Vaticano, 25 de Abril de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
Em meio aos preparativos da canonização de João XXIII, o
pároco da igreja romana da Transfiguração, pe. Batista Pansa, nascido na
cidade de João XXIII e encarregado da pastoral com comunidades de
diversas Igrejas cristãs orientais em Roma, recordou nesta quarta-feira,
no media center do Vaticano, alguns particulares sobre João XXIII.
Entrevistado por ZENIT, ele ressaltou a importância da encíclica
Pacem in Terris, que, junto com as relações de confiança criadas por
aquele papa com os países do Leste, afastou o perigo de uma hecatombe
nuclear, em particular durante a crise dos mísseis em Cuba.
Qual é a sua relação com João XXIII?
Padre Battista Pansa: Eu sou de Bérgamo, a terra onde ele nasceu, e
tive uma relação pessoal com a família Roncalli. Quando o papa Roncalli
foi eleito, eu tinha 9 anos, mas me lembro que, quando ele ainda era
patriarca de Veneza, veio até Bérgamo e eu o vi de longe. Sempre tive
alguma relação com a família dele, particularmente com o irmão dele,
Saverio, e, quando fui ordenado sacerdote, na quarta-feira santa de
1974, celebrei uma das primeiras missas na casa natal de João XXIII, na
localidade de Sotto il Monte, onde os irmãos de João XXIII estavam me
esperando, Saverio e Assunta.
Qual foi o ponto mais importante da sua exposição no media center da Santa Sé?
Padre Battista Pansa: Destacar a encíclica Pacem in Terris. Ela
ajudou a melhorar as relações entre o Leste e o Oeste, evitando um
confronto que não ia ter vencedores nem vencidos, porque seria a
destruição de tudo. A Pacem in Terris foi definida por Bento XVI, uma
pessoa de grande profundidade, como a Rerum Novarum para o próximo
século. A encíclica de Leão XIII marcou a doutrina social da Igreja
durante cem anos.
A Pacem in Terris realmente conseguiu afastar o perigo de uma terceira guerra mundial?
Padre Battista Pansa: A Pacem in Terris não nasceu por acaso. João
XXIII tinha tido uma série de relações e de contactos. Não vamos esquecer
que ele foi visitador apostólico na Bulgária em 1925 e, oito anos
depois, foi delegado apostólico na Turquia e na Grécia. Ele tinha um
tecido de relações com o mundo do Leste, fazia amizades e, através das
amizades, tecia relações de confiança. Ele foi o homem do diálogo com o
Oriente e deixou uma porta aberta de diálogo inclusive com a União
Soviética, mesmo no tempo de Estaline. Ele procurava a paz.
E na crise dos mísseis em Cuba?
Padre Battista Pansa: O apelo à paz que ele fez na Rádio Vaticano
conseguiu deter os mísseis que os navios soviéticos estavam
transportando para Cuba, quando estava preparado o bloqueio naval dos
EUA para interceptá-los. O conselheiro de João XXIII, o cardeal Pietro
Paván, que participou da redacção da Pacem in Terris, foi um ponto de
apoio nos Estados Unidos, junto com um dominicano de Massachussets que
participava das reuniões com os soviéticos e mantinha o papa informado
sobre o que eles pensavam do outro lado da cortina de ferro. Atenção: o
papa João XXIII é apresentado como “o Papa Bom”, mas ele não era um bonacheirão simplório. Ele era um homem que tinha uma enorme rede de
relações internacionais.
(25 de Abril de 2014) © Innovative Media Inc.
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