Porta-voz de João Paulo II, Joaquín Navarro Vals relata o sofrimento do pontífice quando soube dos factos
Cidade do Vaticano, 25 de Abril de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
O porta-voz da Santa Sé na época de João Paulo II, Joaquín
Navarro Valls, deu uma breve conferência para os jornalistas que estão
em Roma para acompanhar a canonização de João XXIII e do papa polaco.
Centenas deles vieram do exterior.
Perguntado por ZENIT sobre como João Paulo II viveu a crise dos
abusos sexuais cometidos por clérigos e se o papa tinha entendido desde o
primeiro momento a enormidade do problema, Valls afirmou: “Eu acho que
ele não tinha entendido, assim como ninguém tinha entendido. Se você se
lembra, esse câncer começou numa área geográfica limitada, os Estados
Unidos, com casos limitados. E eram casos acontecidos fazia vinte ou
trinta anos, o que, de qualquer modo, não diminui a gravidade do
problema”.
O ex-porta-voz recordou que as denúncias “pouco a pouco foram
crescendo e o papa se preocupou muito, porque, para ele, era difícil
entender o problema devido à pureza do seu pensamento. Aceitar essa
realidade era algo incrível, mas ele aceitou”.
E, naturalmente, “começou a tomar decisões. Ele chamou a Roma todos
os cardeais dos EUA, porque não podia trazer todos os bispos por causa
da quantidade. E todos os cardeais vieram e começou a discussão sobre os
casos que começavam a surgir. Também começou imediatamente a tomada de
decisões, que eram de natureza jurídica”.
“Uma das decisões importantes e que mais ajudou foi dar plenos
poderes, de acordo com a lei eclesiástica ou fora da lei eclesiástica
vigente, ao dicastério da Doutrina da Fé, ao cardeal Ratzinger. Começou
um processo de esclarecimento para entender o que fazer”.
Ainda sobre o tema, ele se referiu ao caso do padre mexicano Marcial
Maciel, fundador da Legião de Cristo: “Me perguntaram esses dias,
inevitavelmente, sobre um caso concreto. O caso do padre Maciel. Não
digo que é o mais grave porque não vou avaliar uma coisa que não me
compete”.
Valls continuou: “O processo canónico foi começado no pontificado de
João Paulo II e terminou no primeiro ano de Bento XVI. E fui eu, nesta
sala, que divulguei, no dia seguinte, os resultados daquela
investigação”.
Também sobe o caso Maciel, a jornalista Valentina Alazraki disse que,
no México, o escândalo é citado como uma mancha no processo de
canonização de João Paulo II. Ela perguntou: “[O papa] estava informado?
Ele decidiu iniciar o processo?”.
Navarro Valls disse que João Paulo II “não foi informado porque,
quando morreu, o processo não tinha terminado. É decisão da Congregação
para a Doutrina da Fé. Mas o primeiro passo foi enviar monsenhor
Scicluna para os Estados Unidos para falar com todas as pessoas que
disseram ser vítimas daquele problema. Isso aconteceu durante o
pontificado de João Paulo II: naturalmente, ele foi informado por essa
pessoa”.
“Certificar a veracidade num processo dessas dimensões, envolvendo
tantas pessoas, inclusive uma em Barcelona, no México, etc., tudo isso
levou tempo. E quando todo o material trazido por Scicluna foi avaliado,
João Paulo II já tinha falecido”.
Aconteceu o conclave “e, nos primeiros dias do novo pontificado, não
me lembro exactamente da data, eu disse ao papa Bento: ‘Santo Padre, está
acontecendo isso, é um caso muito triste e temos que informar a opinião
pública’”.
“O papa não ficou muito tempo reflectindo, me fez só duas ou três
perguntas. O problema era como e quando informar a opinião pública. E
ele me disse: ‘Amanhã mesmo’. E no dia seguinte eu informei. Estes são
os tempos históricos desse processo. João Paulo II morreu quando o
processo ainda estava em andamento, ou seja, não tínhamos o resultado
daqueles dados, mas ele sabia que tinha começado uma investigação, um
aprofundamento, durante o pontificado dele”.
(25 de Abril de 2014) © Innovative Media Inc.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário