Missa de acção de graças do Papa pela canonização do evangelizador do Brasil
Roma, 24 de Abril de 2014 (Zenit.org)
O papa Francisco presidiu nesta quinta-feira, às seis da
tarde, na Igreja romana de Santo Ignácio de Loyola, a missa de acção de
graças pela canonização de São José de Anchieta. O Santo Padre assinou
no dia 3 de Abril o decreto de canonização do padre Anchieta,
juntamente com o de outros beatos canadenses: a mística missionária
Maria da Encarnação (Guyart) e o bispo Francisco de Montmorency-Laval.
Os três tinham sido beatificados em 1980 por João Paulo II.
A canonização do jesuíta de Tenerife José de Anchieta foi feita
através do processo chamado ‘equipolente’, já que não responde a um
milagre recente, mas se reconhece o seu intenso trabalho de
evangelização no Brasil, realizado na segunda metade do século XVI.
Na sua chegada à igreja, o Pontífice argentino foi recebido com
aclamações e aplausos pelos muitos fiéis e curiosos que se aglomeravam
nas portas do templo. E é que Roma se encontra tomada por milhares de
peregrinos de vários países que vieram para a capital italiana
participar, no próximo domingo, da canonização de João XXIII e João
Paulo II.
A igreja de Santo Ignacio recebeu cerca de mil pessoas durante a
celebração. A delegação canária, com umas oitenta pessoas, está
encabeçada pelos dois bispos das Canárias, monsenhor Bernardo Álvarez
(Tenerife) e monsenhor Francisco Cases (Gran Canária), o presidente do
Governo regional, Paulino Rivero, o do Conselho de Tenerife, Carlos
Alonso, e o prefeito de La Laguna (cidade natal de São José de Anchieta) Fernando Clavijo, entre outros. Representando o Governo Espanhol, o
ministro José Manuel Soria, que também é canário.
Na Eucaristia, que tem sido em português, participaram as primeiras
autoridades religiosas do Brasil: os cardeais Damasceno, Hummes, Braz e
Scherer. Mesmo assim, o Santo Padre fez sua homilia em espanhol. A
seguir, reproduzimos as palavras do Papa durante Francisco durante a
missa de acção de graças:
No trecho do Evangelho que acabamos de ouvir os discípulos não
conseguem acreditar na alegria que têm porque “não podem crer por causa
dessa alegria”, assim diz o Evangelho. Olhemos a cena: Jesus
ressuscitou, os discípulos de Emaús narraram a sua experiência. Pedro
também conta o que viu. Logo, o mesmo Senhor aparece na sala e lhes diz:
“A paz esteja convosco”. Vários sentimentos invadiram os corações dos
discípulos: medo, surpresa, dúvida e, finalmente, alegria. Uma alegria
tão grande que, por esta alegria “não conseguem crer”. Estavam atónitos,
pasmados, e Jesus, quase mostrando um sorriso, pede a eles algo para
comer e começa a explicar-lhes, devagar, a Escritura, abrindo o seu
entendimento para que pudessem compreendê-la. É o momento da maravilha do
encontro com Jesus Cristo, onde tanta alegria nos parece mentira; mais
ainda, assumir o gozo e a alegria nesse momento é arriscado e sentimos a
tentação de refugiar-nos no cepticismo, “não é para tanto”. É mais fácil
acreditar em um fantasma do que em Cristo vivo. É mais fácil ir a um
quiromante que adivinhe o seu futuro, que joga as cartas, do que confiar
na esperança de um Cristo triunfante, de um Cristo que venceu a morte. É
mais fácil uma ideia, uma imaginação do que a docilidade a esse Senhor
que surge da morte e vai lá saber as coisas às quais nos convida. É o
processo de relativizar tanto a fé que termina nos distanciando do
encontro, da carícia de Deus. É como se “destilássemos” a realidade do
encontro com Jesus Cristo no alambique do medo, no alambique da
excessiva segurança, do querer controlar, nós mesmos, o encontro. Os
discípulos tinham medo da alegria... E nós também.
A leitura dos Actos dos Apóstolos nos fala de um paralítico. Escutamos
somente a segunda parte dessa história, mas todos conhecemos a
transformação deste homem: aleijado desde o nascimento, prostrado na
porta do Templo para pedir esmola, sem nunca atravessar sua soleira; e
como os seus olhos se fixaram nos Apóstolos, esperando que lhe dessem
algo. Pedro e João não podiam dar-lhe nada do que ele procurava: nem
ouro, nem prata. E ele, que sempre tinha ficado na porta, agora entra
por conta própria, dando saltos, e louvando a Deus, celebrando as suas
maravilhas. E a sua alegria é contagiosa. Isso é o que hoje nos fala a
Escritura: as pessoas se admiravam, e assombradas vinham correndo para
ver essa maravilha.
É que a alegria do encontro com Jesus Cristo, essa que nos dá tanto
medo de assumir, é contagiosa e grita o anúncio, e aí cresce a Igreja. O
paralítico crê. “A Igreja não cresce por proselitismo, cresce por atracção”; a atracão testemunhal deste gozo que anuncia Jesus Cristo.
Esse testemunho que nasce da alegria assumida e logo transformada em
anúncio. É a alegria fundamental. Sem este gozo, sem esta alegria, não é
possível fundar uma igreja, uma comunidade cristã. É uma alegria
apostólica, que irradia, que expande. Me pergunto: Como Pedro, sou capaz
de sentar-me com o meu irmão e explicar devagar o dom da Palavra que
recebi? É contagiá-lo da minha alegria! Sou capaz de convocar ao meu
redor o entusiasmo daqueles que descobrem em nós o milagre de uma vida
nova, que não é possível controlar, à qual devemos docilidade porque nos
atrai, nos leva; essa vida nova nascida do encontro com Cristo?
Também São José de Anchieta soube comunicar o que ele tinha
experimentado com o Senhor, “o que tinha visto e ouvido” dele; o que o
Senhor lhe comunicou nos seus exercícios. Ele, junto com Nóbrega, é o
primeiro jesuíta que Ignácio envia à América. Um garoto de 19 anos. Era
tal a alegria que tinha, tal o gozo, que fundou uma nação, colocou os
fundamentos culturais de uma nação em Jesus Cristo. Não tinha estudado
teologia, não tinha estudado filosofia; era um garoto, mas tinha sentido
o olhar de Jesus Cristo e se deixou alegrar, e optou pela luz. Essa foi
e é a sua santidade. Não teve medo da alegria.
São José de Anchieta tem um belo hino à Virgem Maria, a quem,
inspirando-se no cântico de Isaías 52, compara com a mensagem que
proclama a paz, que anuncia o gozo da Boa Nova. Que ela, que nessa
madrugada do domingo, sem dormir pela esperança, não teve medo da
alegria, nos acompanhe na nossa peregrinação, convidando todos a se
levantarem, a renunciar à paralisia, para entrarmos juntos na paz e na
alegria que Jesus, o Senhor Ressuscitado, nos presenteia.
( RED - IV / Trad.TS)
(24 de Abril de 2014) © Innovative Media Inc.
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