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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Depois dos ídolos do 68, estavam o niilismo e o suicídio… Com Deus, Cammilleri salvou a sua vida

O popular intelectual autor de «Os monstros da Razão» 

Rino Cammilleri, desencantado da mitologia do 68, encontrou
no Evangelho um manual para a vida
Actualizado 10 de Fevereiro de 2014

ReL

Rino Cammilleri (www.rinocammilleri.com) é um sociólogo, politólogo e jornalista muito conhecido entre os católicos italianos pelos seus ensaios de apologética cristã, as suas novelas históricas e as suas colaborações no Il Giornale, Il Timone e A Nova Bussola Quotidiana.

Laureado em Ciências Políticas em Pisa com uma tese sobre o político e pensador conservador espanhol Donoso Cortés, participou na sua juventude no então muito esquerdista "Movimento Estudantil".

Nessa época estava muito afastado da fé mas as suas inquietudes levaram-no a um cristianismo firme. Ele sempre se declarou um convertido, como é o caso de outras grandes figuras do jornalismo católico italiano, como Vittorio Messori ou Lucetta Scaraffia.

Autor de livros como "Il Kattolico", "Pequeno manual de apologética", "É Deus católico?", "O Evangelho segundo eu", "A verdadeira história da inquisição", e, muito difundido em espanhol, "Os monstros da Razão", Cammilleri recorda que a alternativa à fé católica e a vida em Deus era o niilismo e o suicídio. Explicava-o numa entrevista na agência Zenit em italiano com Antonio Gaspari em 2011.

Baptizado, mas longe da fé
“Como quase todos os ateus e agnósticos actuais da Itália fui baptizado no rito católico, mas depois, como sucede frequentemente, equivoquei o caminho. Por ignorância. Por negligência. Porque é verdade que o baptismo te converte em cristão, mas para actuar como cristão necessita-se, de facto, uma conversão”, explicou.

"Eu frequentava a Faculdade de Ciências Políticas em Pisa nos anos setenta e acabei contagiando-me. Mas, antes que os demais, levei até o fundo a minha revolução pessoal. E no fundo estava o niilismo. Quer dizer, o suicídio", aponta.

"Devo tudo à minha conversão, fruto em parte do raciocínio e em parte (como todas as conversões) da graça. Imagine-se que inclusive tinha deixado os meus estudos para ser cantor em Milão... Em resumo, que toquei o fundo. Mas Deus “agarrou-me” logo quando estava indeciso se acabar com a minha vida ou adiá-lo".

O Evangelho, um manual
Os detalhes pessoais conta-os no seu livro de 2011 “Como me converti em c.c.p. (católico, crente e praticante)” (só em italiano) e não gosta de desfiá-los em entrevistas. Mas sim explica o significado que tem histórias de conversão como a sua.

Assegura que converter-se é descobrir que "o Evangelho outra coisa não é senão o manual da perfeita manutenção de nós mesmos. Se não se aplica o manual (e, portanto, não se crê no Construtor) a vida se frustra. Entendamo-nos bem: a conversão não elimina a cruz, pelo contrário. Para isso, podes ver as desventuras de São Paulo desde o dia da sua queda do cavalo em diante. Mas faz-te descobrir qual é o sentido da vida. O sentido justo, quero dizer. E esta é a pérola maravilhosa pela qual o mercador evangélico entende que vale a pena vender tudo para apropriar-se dela".

Não é para super-homens...
Cammilleri insiste em que o Evangelho não é para os perfeitos, os super-homens, mas sim precisamente para as pessoas feridas e pecadoras.

"Basta pensar no Bom Ladrão, beatificado por Cristo em pessoa. A sua vida inteira é tudo menos exemplar e o seu final tampouco é melhor. Dizia outro convertido, Oscar Wilde, que a Igreja católica é para santos e pecadores; para as boas pessoas basta a Igreja anglicana. A Deus interessa-lhe quem se põe à prova, não quem o consegue. Permita-me a comparação: também no amor humano a paixão é preferível ao aborrecido tram-tram".

Não há dois convertidos iguais
Cammilleri, além de ser convertido, leu e escreveu muito sobre outros convertidos. E aprendeu assim várias coisas.

"As conversões nunca são iguais, porque Deus (assim se disse) sabe contar só até um. Portanto, o relato de uma conversão não é muito exemplar. Mas tem uma indubitável utilidade “testemunhal”, como bem sabem os publicitários. Quem lê os resumes dos convertidos, descobre que o cristianismo, também hoje, é abraçado totalmente, até fazer dele a única razão de vida, por gente (permita-me a imodéstia) não banal. No meu caso, que é o que conheço melhor, é o de uma pessoa que tinha assimilado até o fundo os mitos do 68, até quase antecipar os tempos. Cada época proporciona os seus mitos aos jovens. Mas os mitos matam. Seguir os ídolos propostos pelo próprio tempo leva ao suicídio. Ou a uma vida equivocada porque está fora do objectivo. Dizia Santo Agostinho (outro convertido) que estamos feitos para a Felicidade. Quer dizer, para Deus. E que o nosso coração está inquieto até que não descansa n’Ele. Ele convertido é a pessoa que entendeu isto".

As épocas e as conversões
Cammilleri põe em contexto a experiência da conversão, seja debaixo o domínio do cruel paganismo romano antigo, ou o dos nossos tempos hedonistas e egoístas.

"Cada época teve os seus convertidos, porque cada geração nasce com o Pecado original. Também nos tempos de Jesus existiam os Herodes e os Pilatos, gente que tinha consagrado a sua existência aos ídolos (que são sempre os mesmos: Sexo, Dinheiro e Poder). Hoje a sociedade hedonista de massa esmaga a mais gente, produz mais “drop out”, (desligados) como dizem os sociólogos. Aumenta o número dos que cedem, dos que não o conseguem e se rendem. Basta ligar a televisão para ver quantos são os que estão dispostos a tudo pelo êxito, com tal de “emergir”. Mas não há que crer que os convertidos há que procura-los entre os fracassados e os perdedores: também o mesmo Jesus foi, no plano terrestre, um perdedor e um fracassado. Não, muitos se converteram precisamente porque alcançaram os seus objectivos e se deram conta de que estavam vazios. Quem procura o verdadeiro sentido da vida encontra-o, porque Deus mesmo se faz encontrar. Mas precisamente está aqui a linha divisória: se um no seu coração, e com todo o coração, procura a Verdade, Deus antes ou depois converte-o. Se um, no fundo, só se procura a si mesmo, encontrará também ele o que procura: nada.

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