O Vaticano retoma o papel de mecenas
Roma, 11 de Novembro de 2013
O Festival Internacional de Música e Arte Sacra foi
recentemente encerrado na basílica de São Paulo Extramuros com a
execução da Nona Sinfonia de Beethoven por uma orquestra e um coral do
Japão, sinalizando a universalidade da arte e do diálogo entre as
culturas. O evento ajudou a consolidar uma relação renovada entre a
religião, particularmente a Igreja Católica, e a criatividade.
Quem visita Roma, especialmente as suas basílicas e igrejas, não
pode deixar de reflectir sobre os muitos tesouros que foram acumulados ao
longo dos séculos na cidade, em particular graças ao mecenato dos
pontífices e das muitas congregações religiosas presentes na Cidade
Eterna, bem como de muitas famílias aristocráticas que gravitaram em
torno à corte dos papas, muitas vezes relacionadas com o papado por
vínculos familiares e enraizadas em Roma para gozar dos privilégios
associados a essa posição.
O “Venti Settembre” pôs fim não só ao poder temporal do papado, mas
também aos faustos que o cercavam. Se isto permitiu a realização das
aspirações nacionais dos italianos e a abertura de uma nova era de
liberdade e igualdade, também determinou, por outro lado, uma crise nas
artes: uma vez perdidos os antigos patrocínios, pintores, escultores e arquitectos não voltaram a encontrar fomentadores poderosos de obras
artísticas que fossem tão generosos como tinha sido o Papa Rei.
A Roma italiana deixou de ser aquele antigo centro de atracção para os
artistas europeus, a meta do "Grand Tour" dos amantes da beleza, que
tantas presenças tinha atraído e tantos testemunhos literários tinha
produzido. E o motivo desse fim de ciclo foi justamente o fim da corte
pontifícia.
Assiste-se hoje a um renascimento da função de mecenato que foi
característica dos papas ao longo dos séculos. A Santa Sé estará
presente na próxima Bienal de Veneza, por exemplo. Destacam-se também o
diálogo aberto com as modernas formas de criatividade, o trabalho
apaixonado no campo da cultura, realizado pelo cardeal Ravasi, e a
proposta de monsenhor Georg Gänswein de elaborar, em acordo com o Estado
italiano, uma espécie de compartilhamento da soberania sobre a Cidade
Eterna com a Sé Apostólica.
Tudo isso, no entanto, ficaria restrito ao diálogo entre o clero e os
artistas, entre homens da Igreja e homens da cultura, se o apoio de
muitos mecenas não permitisse a realização de importantes iniciativas
capazes de envolver o público, o que é precisamente o caso do Festival
de Música e Arte Sacra: se as grandes basílicas são reconhecidamente um
local ideal para receber apresentações musicais grandiosas, também surge
o desejo espontâneo de organizá-las de acordo com o seu original
esplendor.
Esse compromisso tornou possível o financiamento de inúmeras obras de
restauração. A sacralidade dos lugares em questão os torna ainda mais
adequados para elevar a mente à contemplação da beleza produzida pelo
homem. É reconfortante pensar em tantas pessoas que, no final de um dia
repleto de notícias de crise, de motivos de preocupação e da escalada da
discórdia, encontram a serenidade, a alegria e o equilíbrio interior
que só a música pode dar, presságio de um futuro mais harmonioso e
sereno. Dostoiévski escreveu que a beleza salvará o mundo, e há quem
diga que seremos salvos pela fé. A combinação de beleza e fé só pode
tornar a nossa salvação ainda mais certa.
in
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