Meditando no Evangelho da Transfiguração, o Pontífice explica que a própria renúncia não significa "abandonar a Igreja", mas serví-la "com uma dedicação mais adequada às minhas forças"
Cidade do Vaticano,
Às 12h horas de hoje o Santo Padre Bento XVI saiu pela
janela do seu escritório no Palácio Apostólico Vaticano para rezar o Ângelus com os fieis e os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
Publicamos a seguir as palavras do Papa antes da oração mariana.
***
Queridos irmãos e irmãs!
No segundo domingo da Quaresma, a liturgia sempre nos apresenta o
Evangelho da Transfiguração do Senhor. O evangelista Lucas coloca
especial atenção no fato de que Jesus foi transfigurado enquanto orava: a
sua é uma profunda experiência de relacionamento com o Pai durante uma
espécie de retiro espiritual que Jesus vive em um alto monte na
companhia de Pedro, Tiago e João , os três discípulos sempre presentes
nos momentos da manifestação divina do Mestre (Lc 5,10; 8,51; 9,28). O
Senhor, que pouco antes havia predito a sua morte e ressurreição (9,22),
oferece a seus discípulos uma antecipação da sua glória. E também na
Transfiguração, como no baptismo, ouvimos a voz do Pai Celestial: "Este é
o meu filho, o eleito; ouvi-o" (9, 35). A presença de Moisés e Elias,
representando a Lei e os Profetas da Antiga Aliança, é muito
significativa: toda a história da Aliança está focada Nele, o Cristo,
que faz um novo "êxodo" (9,31) , não para a terra prometida, como no
tempo de Moisés, mas para o céu. A intervenção de Pedro: "Mestre, é bom
para nós estarmos aqui" (9,33) representa a tentativa impossível de
parar esta experiência mística. Santo Agostinho diz: "[Pedro] ... no
monte... tinha Cristo como alimento da alma. Por que deveria descer para
voltar aos trabalhos e dores, enquanto lá encima estava cheio de
sentimentos de santo amor por Deus e que inspiravam-lhe uma santa
conduta? "(Sermão 78,3).
Meditando sobre esta passagem do Evangelho, podemos tirar um
ensinamento muito importante. Primeiro, o primado da oração, sem a qual
todo o trabalho do apostolado e da caridade é reduzido ao activismo. Na
Quaresma aprendemos a dar o justo tempo à oração, pessoal e comunitária,
que dá fôlego à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é um
isolar-se do mundo e das suas contradições, como Pedro quis fazer no
Tabor, mas a oração traz de volta para o caminho, para a acção. "A
existência cristã - escrevi na Mensagem para esta Quaresma – consiste
num contínuo subir o monte do encontro com Deus, para depois descer
trazendo o amor e a força que provém dele, a fim de servir os nossos
irmãos e irmãs com o mesmo amor de Deus "(n. 3).
Queridos irmãos e irmãs, sinto essa Palavra de Deus especialmente
dirigida a mim, neste momento da minha vida. O Senhor me chama para
“subir o monte”, para me dedicar ainda mais à oração e à meditação. Mas
isto não significa abandonar a Igreja, pelo contrário, se Deus me pede
isso é para que eu a possa continuar servindo com a mesma dedicação e o
mesmo amor com o qual fiz até hoje, mas de um modo mais adequado à minha
idade e às minhas forças. Invoquemos a intercessão da Virgem Maria: que
ela sempre nos ajude a seguir o Senhor Jesus, na oração e nas obras de
caridade.
[Depois da oração do Ângelus o Santo Padre dirigiu estas palavras aos peregrinos de língua portuguesa:]
Queridos peregrinos de língua portuguesa que viestes rezar comigo o Ângelus: obrigado pela vossa presença e todas as manifestações de afecto e
solidariedade, em particular pelas orações com que me estais
acompanhando nestes dias. Que o bom Deus vos cumule de todas as bênçãos.
in
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