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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Baltasar Gracián, o jesuíta dos sábios conselhos a quem lêem líderes e empresários


A arte da prudência

A sua obra está sendo redescoberta nos últimos anos pelas suas inteligentes lições de vida.

Actualizado 4 Fevereiro 2013

Carmelo López-Arias / ReL


De certeza que Baltasar Gracián (1601-1658) não suspeitou nunca que três séculos e meio depois de escrever em 1647 o seu Oráculo manual e arte de prudência, esta obra se converteria num best-seller no âmbito empresarial, só iniciado no seu tempo. Assim foi, e nos últimos anos a obra, redescoberta pelos especialistas do management, conheceu novas edições em todos os idiomas cultos, até converter-se no número um nas listas de livros de negócios no Japão ou Estados Unidos entre aqueles que aspiram a emular Bill Gates ou Steve Jobs.

Agora publicou-se em Espanha Gracián: o jesuíta que ensinava a triunfar (Plenum/Áltera), cujo autor, Luis Folgado, selecciona e estrutura os melhores aforismos da obra do jesuíta aragonês.

O seu tio Antonio era capelão de São João dos Reis em Toledo, e da sua mão conheceu e quis aprofundar-se na vida religiosa. Aos dezoito anos ingressou na Companhia de Jesus, e depois de ordenar-se sacerdote as suas apreciadas qualidades pedagógicas levaram-no a conventos de toda a Espanha: Calatayud, Lérida, Huesca, Zaragoza, Madrid, Valência...


A imagem mais conhecida
de Baltasar Gracián.
Gracián teve sérios problemas com a sua ordem porque publicou algumas das suas obras, como a mais célebre (O censurador) debaixo pseudónimo e sem autorização dos seus superiores e assinalado por alguns companheiros que o acusavam de fazer-lhes objecto dos seus ataques. Além disso, a sua filosofia moral, proposta segundo os seus opositores sem a devida fundamentação teológica, despertava algumas suspeitas doutrinais. O obrar humano abordado quase como uma técnica indiferente do seu fim chocava com a distante no tempo mas intelectualmente fresca polémica com Nicolás Maquiavel.

Durante um tempo foi castigado a um duro jejum de pão e água e - o pior para ele - sem escrever. Superou a provação, mas faleceu poucos anos depois.

Nietzsche não poupou em elogios a A arte da prudência: "A Europa não produziu nada mais fino nem mais complicado em matéria de subtileza moral". E assim é. Folgado apresenta 254 sentenças de Gracián, cada uma delas explicada, e é profunda a sabedoria que destilam, aplicável a diversos âmbitos da vida.

Destacaremos dez que, adequadas ou não ao âmbito dos negócios no que agora se valorizam, servem além disso para instruir-nos na integridade da vida moral e sobrenatural.

Conselhos de Baltasar Gracián (síntese)
1.    Elege um modelo elevado. Mais para superá-lo que para imitá-lo. Aspira mais a avançar até o excelso que a competir com outros. Em vez de invejar o que triunfa, luta por alcançar as tuas próprias metas.

2.    Trata sempre com pessoas de princípios. Com eles cada um pode arriscar-se e ganhar a sua confiança. É preferível competir com gente responsável que triunfar com gente ruim. Afasta-te de gente que não cumpre os seus compromissos, já que carecem de virtude.

3.    Combina o saber com a correcta intenção. A intenção malévola é um veneno que prejudica as tuas perfeições. Infeliz eminência a que se põe ao serviço da ruindade! Para todos los âmbitos da vida.

4.    Não tenhas espírito de contradição. Ainda que sejas inteligente, ao ser um permanente contraditor, dificultas tudo, e não escapas de ser impertinente, ainda sendo entendido.

5.    Aprende a sofrer, e serás feliz. Deves ter paciência suficiente para tolerar todas as tolices e necessidades. Às vezes sofremos muito por causa daqueles de quem dependemos para viver, sendo esta uma boa ocasião para vencer nossos impulsos e dominar-nos a nós mesmos.

6.    Que não te apanhe o vício de ser presumido. Não te convertas num monstro de estupidez, como o são todos os presuntuosos, discutidores, caprichosos, petulantes, extravagantes, exibidores, burlescos, intrometidos, contraditórios, sectários e todo o tipo de homens sem medida nem controle.

7.    Se dás muita paz, receberás muita vida. A chave do feliz viver é deixar os demais viver. Tudo consegue quem não se mete em nada do que não lhe importa. Não há maior despropósito que tomar tudo com sério propósito.

8.    Cuida-te ao interpretar o que te contam. O ouvido é a segunda porta da verdade e primeira da mentira. Rara vez te trazem a verdade pura, e menos quando vem de longe. Sempre traz algo de mescla dos ânimos por onde passou.

9.    Não procures fama detractando aos demais. O melhor sinal de que alguém carece de méritos é dedicar-se a tirar méritos aos demais. Foge sempre, como homem sensato, de ser o livro de registro das infâmias alheias.

10.    Nunca te queixes. O que se queixa se desacredita. É mais provável que quem te escuta se moleste em vez de compadecer-se. Melhor é cumprir com alegria os nossos deveres, para garantir-nos a compreensão por eles.


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