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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Bento XVI viverá próximo do novo Papa, dentro do Vaticano, mas não exercerá como seu conselheiro

No mosteiro ´Mater Ecclesiae´

Dedicar-se-á a orar e escrever. Viverá discretamente, oculto. E sem intenção de entorpecer o trabalho do novo Papa.

Actualizado 13 Fevereiro 2013

Álex Rosal / ReL


Uma das preocupações que aflorou na mente de muitos cardeais na passada segunda-feira foi a possibilidade da coexistência de um novo Papa à vez do "Papa emérito", vivendo além disso a poucos metros de distância dentro do recinto do Vaticano. Desde há 600 anos que não se colocava esta questão e quase ninguém pensava que poderia reproduzir-se nos nossos dias.

Dois papas vivos
Que vivam dois pontífices ao mesmo tempo, ainda que um seja emérito e esteja limitado na sua saúde e capacidades físicas é, quando menos, um inconveniente lógico que se colocaram na manhã de segunda-feira muitos curiais: Se o novo Papa toma alguma decisão controversa terá uma réplica por parte do emérito Bento XVI? Exercerá Bento XVI de influente sombra que condicione a liberdade prática do novo Papa? O novo Pontífice ver-se-á na necessidade de consultar o governo da Igreja com o seu predecessor?

Um Papa emérito que será exemplar
Ainda que a comoção pela notícia de renúncia ao papado seja grande, e as inquietudes sobre como poderia ser a coexistência de dois papas aglomeraram-se na mente de cardeais e monsenhores, a tranquilidade fez-se presente rapidamente. "Bento XVI será um emérito exemplar", disseram alguns prelados.

Em muitos estava ainda fresca a memória do comportamento exemplar que teve sempre o cardeal Ratzinger na vida da cúria romana. À frente da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Ratzinger manteve-se sempre alheio às intrigas e ou tomas de poder tão comuns noutros dicastérios da Cidade Santa, completamente absorto no seu trabalho e pendente de dar resposta rápida às demandas de João Paulo II, com quem despachava uma vez por semana.

Não exercerá de conselheiro do novo Papa
Como sublinha o jornalista italiano Vittorio Messori, bom conhecedor do cardeal Ratzinger-Bento XVI graças ao seu famoso livro-entrevista "Informe sobre a fé": "A discrição proverbial de Joseph Ratzinger assegura que não existirá nenhuma interferência com o governo do sucessor. Estamos convencidos de que rejeitará inclusive o papel de «conselheiro» cheio de anos, mas também de experiência e de sabedoria, inclusive ainda que houvesse petições explícitas do novo papa reinante. Na sua perspectiva de fé, o único verdadeiro «conselheiro» do pontífice é o Espírito Santo que, debaixo da abóbada da Sixtina, o assinalou com o dedo".

"Repugna-lhe intervir no que não é da sua competência"
Por sua parte, o cardeal espanhol Julián Herranz, pessoa próxima e de confiança de Bento XVI, já que encabeçou a equipa de três cardeais que investigaram o escândalo VatiLeaks, assinala que "Bento XVI é um homem de uma delicadeza humana e espiritual enorme, jamais se lhe ocorreria intervir no que é competência de outro, repugnar-lhe-ia. Não creio que nesse sentido vá haver nenhum problema. O que não afasta para que o novo Papa, em algum momento o em alguma ocasião, não vá pedir o conselho de Bento XVI".

Onde viverá?
Bento XVI retirar-se-á para o mosteiro de monjas de clausura ´Mater Ecclesiae´, situado no interior do Vaticano, não muito longe dos apartamentos do Papa.

O mosteiro, que actualmente está sendo reabilitado, foi construído em 1992 por desejo de João Paulo II, e encontra-se dentro dos jardins vaticanos.

O edifício consta de quatro andares e entre o segundo e terceiro piso há doze celas monásticas, enquanto na parte baixa do edifício estão o refeitório, a cozinha e la enfermaria, entre outras dependências, informa Efe.

A parte de nova construção tem dois níveis e conta com uma superfície de 450 metros quadrados, que alberga a capela e o coro, assim como uma biblioteca no andar superior.

Nos últimos vinte anos alternaram-se neste convento diferentes ordens de monjas de clausura, primeiro as clarissas, depois as beneditinas e as visitadoras, que em Novembro de 2012 tiveram que deixar o mosteiro devido aos trabalhos de reestruturação.


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