D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Roma, 11 de Fevereiro de 2013
Confessando
que recebeu a notícia da resignação de Bento XVI com “surpresa” e
“emoção”, até pelos laços que o ligam à pessoa do Santo Padre, D.
António Marto afirmou, em conferência de imprensa no Paço Episcopal, às
12h30 de hoje, que o anúncio não foi totalmente inesperado. “No
livro-entrevista «Luz do Mundo», o Papa já tinha dado a entender que
poderia vir a tomar esta decisão; só não esperava que fosse tão cedo,
pensava que seria, talvez, no final do Ano da Fé”, no próximo mês de
Novembro.
“Este é um gesto que merece todo o respeito e, até, admiração,
porque é de muita lucidez, coragem e humildade, de grande alcance
histórico e para o futuro da Igreja”, considerou D. António. “O Santo
Padre explica muito bem os motivos que o levaram a esta decisão, por
sentir que a idade avançada e o limite das forças o impedem de cumprir
adequadamente a missão papal, que requer grande vigor para fazer face a
todos os problemas da Igreja”.
Referindo desconhecer as causas específicas para a decisão de Bento
XVI nesta data, o Bispo de Leiria-Fátima recordou que aquando da visita
do Papa a Fátima, em 2010, não notou sinais de debilidade física e que
“nessa altura julgo que ainda não pensava nisso”.
Sobre o papado de Bento XVI, D. António considerou que “deixou a sua
marca num período turbulento da história, de crise global de civilização
e de cultura, que atinge os povos e não deixa imune a Igreja”. Sendo um
“génio teológico”, com um “discurso simples, profundo e poético”, este
Papa “chamou a Igreja ao essencial da fé, que é a grande questão hoje”,
apontando “a beleza da fé” e “o encanto e a importância do cristianismo
para a cultura e para a história” da humanidade. Por outro lado, este
Papa “será lembrado” pelo seu “grande empenho pela transparência na vida
da Igreja e pela purificação dos pecados dos filhos da Igreja”, bem
como a sua “capacidade de escuta e de diálogo” e a “relação de
cordialidade profunda com todos”, apesar de “não ter um grande dote de
‘ator’ como tinha João Paulo II”.
Essa é a imagem que guarda da sua própria relação com Joseph
Ratzinger, que conheceu enquanto aluno, em Roma, aos 25 anos de idade.
O futuro…
D. António lembrou ainda que “a vida da Igreja irá processar-se
normalmente, pois quem guia a Igreja não é só o Papa, mas o Espírito
Santo e os bispos que em cada diocese guiam o Povo de Deus”. E quanto ao
novo Papa, não quis “fazer futurologia”, adiantando apenas que se
espera para já uma reflexão sobre a própria vida da Igreja, “que não se
reduz à Europa”, onde se regista uma “fase de cultura cansada, esgotada e
que se reflecte na vivência do cristianismo”. Isso “não se nota nem na
África nem na América Latina”, considerou o Bispo, concluindo que
“talvez precisemos de um Papa que seja capaz de olhar mais para além da
Europa e trazer uma certa vitalidade que existe nos outros continentes
para toda a Igreja”.
Tudo aponta para que haja “fumo branco” até à Páscoa, a 31 de Março,
segundo declarações do padre Frederico Lombardi, porta-voz do Vaticano,
anunciando a reunião do conclave para 15 a 20 dias após a data da
resignação anunciada por Bento XVI para o dia 28 de Fevereiro.
A notícia foi divulgada pelo gabinete de informação e comunicação de Fátima após a colectiva de imprensa desta manhã.
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