Carta do prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais aos pastores da Igreja
Roma,
Publicamos abaixo a carta que o Prefeito da Congregação para
as Igrejas Orientais, Sua Eminência, o Cardeal Leonardo Sandri, enviou
aos pastores da Igreja Universal pedindo apoio para a Terra Santa.
Excelência Reverendíssima:
A compaixão evangélica ajuda a compreender a necessidade da Colecta da
Sexta-Feira Santa em favor dos irmãos e das irmãs que nos Lugares da
Redenção, com os seus pastores, vivem o mistério de Cristo, o Crucifixo
que ressuscitou para a salvação da humanidade. É um dever antigo e
sempre gratificante pela sua singular conotação eclesial. Ao se
aproximar a Páscoa, esse dever se torna ainda mais actual e se faz
expressão da fé que a Igreja, ora guiada por Bento XVI, revive no 50º
aniversário do Concílio Ecuménico Vaticano II. Aquele encontro a abriu
ao mundo, radicando-a ainda mais na tradição que parte das origens cristãs. Delas
a Terra Santa é testemunha silenciosa e guardiã vivente, graças às
comunidades latinas da Diocese Patriarcal de Jerusalém e da Custódia
Franciscana, bem como às comunidades Melquita, Maronita, Siríaca,
Armênia, Caldéia e Copta, que lá actuam. Mas é, ao mesmo tempo,
testemunha de como povos inteiros, sedentos de dignidade e de justiça,
tenham dado asas ao sonho de uma primavera da qual gostaríamos de ver
frutos imediatos, como se a transformação almejada fosse possível sem
uma renovação dos corações e a responsabilidade para com os pobres
compartilhada por nós todos.
Entre os primeiros frutos da sensibilidade conciliar aparece a Encíclica Pacem in terris do
Bem-Aventurado João XXIII, a qual suscita neste Ano da Fé uma
pressurosa invocação de paz, especialmente para a Síria, cujos destinos
se volvem ameaçadores sobre o Oriente Próximo.
A situação médio-oriental parece exigir o que propõe a Encíclica Populorum progressio do
Servo de Deus Paulo VI. Perante a denúncia das "carências daqueles que
são privados do mínimo vital, e as carências morais daqueles que são
mutilados pelo egoísmo…" (n. 21), ele sugeria não apenas "consideração
crescente da dignidade dos outros, a orientação para o espírito de
pobreza, a cooperação no bem comum, a vontade da paz", como também "o
reconhecimento, pelo homem, dos valores supremos, e de Deus que é a
origem e o termo deles" (ibid.). O Papa não hesitava indicar
para isso "sobretudo a fé, dom de Deus acolhido pela boa vontade do
homem, e a unidade na caridade de Cristo". Com o olhar da fé ele
realizou na Terra de Jesus a primeira das suas grandes viagens
apostólicas em 1964. O Bem-Aventurado João Paulo II percorreu no Ano
2000 as suas pegadas, definindo a sua peregrinação "um momento de
fraternidade e de paz que me apraz registrar como um dos mais belos dons
do evento jubilar" e expressando "sentidos votos de uma solução
solícita e justa para os problemas ainda inconclusos naqueles lugares
santos, amados simultâneamente por judeus, cristãos e muçulmanos" (Novo Millennio Ineunte 13).
O Papa Bento nos oferece exemplos admiráveis do mesmo olhar
compassivo. Prova encorajadora disso a Visita pastoral de Setembro
passado no Líbano para a publicação da Exortação Apostólica Ecclesia in Medio Oriente; a reiterada recordação no Ângelus,
nas Audiências, nos Discursos com Personalidades e Instituições; a
intenção de oração indicada para toda a Igreja em Janeiro de 2013 "para
que as comunidades cristãs do Oriente Médio, frequentemente
discriminadas, recebam do Espírito Santo a força da fidelidade e da
perseverança"; o convite a dois jovens libaneses maronitas a escrever a
Via Sacra da próxima Sexta-Feira Santa.
Os cristãos que vivem em Israel e Palestina, Chipre, Líbano, Jordânia,
Síria, Egipto, formando no sentido mais amplo a Terra de Jesus, devem
encontra em nós o mesmo olhar de fé.
Com grata maravilha reconhecemos quanto a generosa solicitude dos
católicos tem realizado até agora. Isto consente manter os Lugares
Santos, e as comunidades que lá se encontram. Juntamente com os
institutos religiosos masculinos e femininos, elas oferecem os primeiros
socorros nas catastróficas consequências causadas pela guerra e em
quaisquer outras emergências. São elas, com uma qualificada rede
pastoral, escolar e sanitária, a se distinguirem na assistência às
famílias, de modo particular para salvar a vida rejeitada, atendendo aos
anciãos, enfermos, aos deficientes, a quem se encontra sem trabalho,
aos jovens em busca de futuro, sempre actuando em defesa dos direitos
humanos, inclusive a liberdade religiosa. Se a isto se acrescenta o
louvável esforço ecuménico e inter-religioso, come o empenho em conter o
incessante êxodo dos fiéis da pátria mãe oriental e a proximidade em
relação aos prófugos e refugiados, se compõe o "específico cristão" que
faz daquela região, para além de todo o seu sofrimento, um Lugar onde
Deus é incessantemente glorificado para que abençoe a humanidade.
A Congregação para as Igrejas Orientais dirige, pois, o seu convicto
apelo a confirmar a caridade eclesial a favor da Terra Santa. Juntamente
com o Santo Padre, agradece pastores e fieis pelo abraço orante e
solidário que junto da Cruz do Senhor, hão de reservar-lhe, partilhando a
gratidão do Supremo Pastor à Igreja que naquela área dá prova de tão
sofrido testemunho e cuja fidelidade recorda a todos a consoladora
promessa do Ressuscitado: "Eu vos disse estas coisas para que a minha
alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena" (Jo 15,11).
Com meus mais fraternos votos pascais
Leonardo Card. Sandri
Prefeito
Prefeito
a Cyril Vasil’, S.I.
Arcebispo Secretario
Arcebispo Secretario
in
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