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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

George Weigel: «Necessita-se de um Papa capaz de suportar as feridas sem ser destruído por elas»

Traça o perfil humano e espiritual do novo Papa

O escritor e politólogo estadunidense George Weigel é um dos intelectuais católicos mais reconhecidos em todo o mundo. Autor do best-seller sobre a vida de João Paulo II "Testemunha de esperança" e de obras como "A coragem de ser católico" ou "A eleição de Deus: Bento XVI e o futuro da Igreja Católica" onde previa um mundo de profundas mudanças, enfrenta agora o horizonte do novo papado e explica quais são, no seu parecer, as chaves do futuro da Igreja.

Actualizado 23 Fevereiro 2013

M. V. – ReL


Numa recente entrevista ao National Catholic Register, George Weigel reflecte sobre a renúncia de Bento XVI e o significado do seu gesto para a Igreja do século XXI: “Bento XVI não renunciou à cadeira de Pedro porque não pudesse suportá-lo mais. Renunciou porque julgou, em consciência, que não podia dar à Igreja a liderança que esta necessitava e merecia, devido ao diminuir das suas forças. Isso é um acto de abaixamento e humildade, não uma concessão à exaustão”, assegura.

O perfil espiritual do novo Papa

“Se de um papa se espera, durante a maior parte do seu pontificado, que esteja presente para a Igreja de todo o mundo, então talvez o melhor é começar um pontificado com um homem que seja fisicamente vigoroso para poder enfrentar-se a esta enorme carga. Mas creio que a questão mais profunda aqui não é, digamos, a “programação” (que sempre se pode ajustar), mas sim a carga espiritual do papado. Os Papas sabem demasiado das dores do mundo, tanto no macrocosmos como no microcosmos. Necessita-se um homem de grande força espiritual para suportar essas feridas sem ser destruído por elas", afirma.

As qualidades desejáveis
"Ao levar a carga física e espiritual, também se necessita um homem que saiba como julgar as pessoas, como obter a ajuda adequada, delegar a responsabilidade e renovar os seus próprios recursos intelectuais e espirituais. Este último funcionará de forma diferente segundo os papas, por suposto", afirma o escritor, cujo último livro traz uma lista de qualidades essenciais que deveria possuir o próximo Papa. Segundo Weigel, a disposição adequada para um candidato digno seria uma doutrina radical e a profunda amizade com Jesus Cristo, que se mostram na abertura à vontade de Deus (manifestado através dos votos dos cardeais eleitores) e se complementa com um conhecimento muito agudo das suas fortalezas e debilidades. Outra forma de dizê-lo seria "confiada e vigorosa ortodoxia e humildade” (e, se é possível, o humor)", acrescenta.

Sugere Weigel que o candidato adequado deve possuir o "dom da cooperação com Deus", uma capacidade que explica assim: "um homem de abertura instintiva da presença divina, uma sintonia instintiva ao que Deus quer de mim agora, e a coragem de segui-la aonde queira que Deus o envie, como ele Senhor disse a Pedro depois de fazer a tripla profissão de fé", explica o professor.

Desafios
Weigel acrescenta um esquema dos principais desafios aos que deverá fazer o futuro pontífice: "O crescimento da Igreja no Terceiro Mundo, um desenvolvimento estratégico para a reconversão de um Ocidente “espiritualmente aborrecido” e o desafio do islam yihadista". Para cumprir com todos eles, Weigel crê que o próximo Papa "deve ter uma forte experiência pessoal da Igreja mundial, uma ampla gama de amizades entre a gente da Igreja em todo o mundo e uma extensa capacidade de leitura. No trato com o Ocidente post-cristão, por exemplo, seria importante para um futuro Papa que haja demonstrado a sua capacidade para responder aos desafios do secularismo agressivo a fim de criar espaços para a proposta católica. Um Papa que não seja um feliz guerreiro nas batalhas da cultura vai ser um grave obstáculo na sua missão evangélica no mundo do Atlântico Norte", assegura.

Um Papa não europeu?
Sustem Weigel que a nacionalidade do próximo Papa é irrelevante e se mostra optimista na hora de pensar num possível Papa não europeu, inclusive norte-americano. "O mundo mudou, a América mudou e também fizeram as possibilidades de um Papa que chegue desde a mais vital e vibrante parte da Igreja no mundo desenvolvido", assegura. E põe um exemplo, recordando a figura do Papa que veio da Polónia: "João Paulo II foi um factor crucial na revolução de 1989 na Europa Central e do Este. Sem dúvida, a sua abertura a outras nacionalidades e culturas foi um factor mais decisivo na sua capacidade de ser um pai para o mundo inteiro que o facto de ser polaco - se bem é certo que aprendeu a ser um sacerdote "pai" com os seus jovens amigos na Polónia", explica.

O perigo de uma Cúria de "arrivistas"
À pergunta de se a reforma da Cúria se estancou no pontificado de Bento XVI, impedindo o impacto necessário, e de se seria necessária uma nova reforma, Weigel responde: "Toda a estrutura tem que ser reavaliada. Mas o primeiro que faz falta é uma mudança de atitude e compreensão. A Cúria romana não existe para si mesma, mas sim que existe por e para a Igreja, e em concreto para por em prática o ministério do Bispo de Roma como pastor universal da Igreja. Assim, se a Cúria não está impregnada de uma nova atitude, até as mudanças estruturais melhor desenhados serão inúteis. Tomemos, por exemplo, o lamentável sistema de comunicação do Vaticano: há formas evidentes e bastante simples de resolver esses problemas, mas o primeiro que há que mudar é a atitude. O Vaticano tem que querer uma Igreja que olhe para fora e tem que deixar de pensar em cada encontro os meios de comunicação como um partido no qual a Igreja sai a perder. E logo está a questão de quem é quem na Cúria. Os homens e as mulheres que trabalham nela devem ter experiência na Nova Evangelização, e devem ver o seu trabalho como uma extensão do papado evangélico, não como um bilhete para aspirar a um posto superior eclesiástico. A Cúria não pode estar dominada por arrivistas. Em alguns casos é inevitável, mas quando o arrivismo alcança uma massa crítica, converte-se num problema grave", assevera.

Termina Weigel traçando o perfil do homem pelo qual todos os católicos devemos rezar: "Um homem cujo discipulado seja tão transparente que seja capaz, simplesmente por ser ele mesmo, de fazer mais profunda a fé dos seus irmãos e de convidar outros a ser amigos de Jesus Cristo; que seja a resposta a essa pergunta que supõe cada vida humana".


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