Entrevista colectiva sobre renúncia do papa: decisão coerente com o livro 'Luz do Mundo'
Roma, 11 de Fevereiro de 2013
No
próximo dia 28 de Fevereiro, às 20 horas de Roma, o papado entrará em
sede vacante. A notícia oficializada hoje durante o consistório
surpreendeu o planeta: Bento XVI anunciou que, “por não ter mais a força
necessária”, renuncia ao pontificado.
A inesperada declaração, feita em latim e lida pelo papa entre
11h30 e 11h40 desta manhã, foi ouvida com grande atenção pelos cardeais
reunidos no consistório. O texto está disponível na página do Vaticano.
Bento XVI se transferirá inicialmente para Castel Gandolfo e, depois,
durante o conclave, passará a residir em um convento na Colina
Vaticana, dentro dos muros do pequeno país. Bento XVI não participará no
conclave que se realizará em Março e que elegerá o próximo papa.
“O papa permanecerá na plenitude das suas funções até 28 de Janeiro,
às 20 horas [de Roma]. A partir daquele momento, teremos sede vacante”,
confirmou o porta-voz, esclarecendo que não restam dúvidas quanto ao
fato da renúncia: Bento XVI renunciou “de modo válido, previsto pelo
direito canônico”.
A renúncia do pontífice “é coerente com o que o papa afirmou no
livro-entrevista ‘Luz do Mundo’ sobre a hipótese de renunciar”,
prossegue Lombardi. Naquela entrevista, Bento XVI declarou que é
necessário enfrentar os grandes perigos: “Este não é o momento de
renunciar, mas de enfrentar”, afirmou ele, referindo-se então, como
agora explica Lombardi, a “um momento muito difícil na Igreja por causa
dos casos de pedofilia. (...) Mas, na segunda pergunta do mesmo livro, o
papa respondeu claramente que é possível renunciar quando não é mais
possível continuar”. Tal tipo de situação inclui aquelas em que o papa
considera oportuno renunciar por não estar mais em condições físicas
adequadas. Nesses casos, chega a ser cogitada inclusive a “obrigação
moral” de se apresentar a renúncia.
O cardeal Angelo Sodano fez em italiano um discurso comovido, em que
declarou, falando directamente a Bento XVI: “Escutamos Vossa Santidade
quase incrédulos”. Em nome do colégio cardinalício, Sodano disse ao papa
que "estamos próximos, como estivemos durante esses oito anos do
pontificado”. Sodano recordou que, em 2005, perguntou ao então cardeal
Ratzinger se ele aceitava a eleição para pontífice e ele “aceitou
confiando em Maria, Mãe da Igreja”, dizendo sim “na estela da
continuidade”. Sempre voltando-se ao papa, Sodano afirmou ainda: “Antes
de 28 de Fevereiro, teremos possibilidades de expressar melhor os nossos
sentimentos”.
“A casinha onde o papa vai viver já foi sede da directoria
administrativa da Rádio Vaticano e depois se tornou um convento de
clausura, por vontade de João Paulo II”, informa o porta-voz Lombardi,
que prossegue, falando sobre o discurso de Sodano: “Acredito que o
cardeal Sodano tinha ficado sabendo algumas horas antes e estava
preparado. Ele tinha algumas anotações, mas o discurso teve muito de
espontâneo”.
Por que a renúncia está definida para as 20 horas do dia 28? “Existem
diversos fusos horários, e esta é uma decisão que afecta a Igreja
inteira. Acredito que o horário se refere ao final da jornada de
trabalho em Roma”.
“Não há nenhuma doença que influencia esse tipo de decisão e ele diz
muito claramente, na sua grande honestidade, que nos últimos meses foi
diminuindo o vigor do corpo e da alma, que não permite mais a realização
deste santo ministério”.
“Coragem e grande sinceridade”
ZENIT perguntou ao porta-voz do Vaticano em que momento ele soube da renúncia e o que pensou a respeito.
“Eu sempre mantive na mente as respostas dadas pelo papa no seu
livro. A atenção dele focava na avaliação das condições físicas e
espirituais, ou melhor, de ânimo, e não especificamente espirituais,
porque estas são altíssimas. Eu não me surpreendi, porque ele tinha dito
que ria avaliar as suas forças. Era um pensamento que estava sendo
levado em conta”.
“Sempre notei nele uma grande presença e capacidade espiritual de
encarar os compromissos, que eram elevados e intensos para uma pessoa da
idade dele. Mas, é claro, eu o achava longe da situação de dizer isso”.
“Era uma decisão que ele se reservava o direito de tomar diante de
Deus, considerando a sua idade e disposições. Estou admirado com a sua
sinceridade e com a lucidez das suas palavras. Foi uma surpresa hoje,
sim, apesar de que eu achava claro que o papa pudesse pensar nisso, já
que ele mesmo tinha falado disso no livro-entrevista”.
João Paulo II legou o testemunho de um papa que sofreu a enfermidade
até o final. Bento XVI lega o testemunho da sua consciência perante Deus
e da decisão de agir conforme considera mais adequado para o bem da
Igreja. Ele não disse que os próximos papas devam tomar uma decisão
igual à dele: esta renúncia não é uma decisão vinculante para os papas
futuros.
Até 28 de Fevereiro, ainda teremos audiências e ângelus: serão
grandes ocasiões para os participantes manifestarem o seu afecto pelo
Santo Padre.
in
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