Palavras de Bento XVI no final dos Exercícios Espirituais
Cidade do Vaticano,
Publicamos as palavras do Papa Bento XVI proferidas esta
manhã na Capela Redemptoris Mater no Palácio Apostólico Vaticano na
conclusão dos Exercícios Espirituais
***
Caros irmãos,
Caros amigos!
No final desta semana espiritualmente tão densa, fica só uma palavra:
obrigado! Obrigado a vocês por esta comunidade orante em escuta, que me
acompanhou nesta semana. Obrigado, principalmente, ao senhor,
eminência, por estas “caminhadas” tão bonitas no universo da fé, no
universo dos Salmos. Ficamos impressionados pela riqueza, profundidade,
beleza deste universo da fé e permanecemos gratos porque a Palavra de
Deus nos falou de modo novo, com nova força.
"Arte de crer, arte de pregar” era o fio condutor. Lembrei-me do fato
de que os teólogos medievais traduziram a palavra "logos" não só por
"Verbum", mas também por "ars": "Verbum" e "ars" são intercambiáveis.
Apenas nas duas juntas aparece, para os teólogos medievais, todo o
significado da palavra “logos”. O “Logos” não é somente um razão
matemática: o “Logos” tem um coração, o “Logos” é também amor. A verdade
é bela, verdade e beleza vão juntas: a beleza é o selo da verdade.
E o senhor, partindo dos Salmos e da nossa experiência de cada dia,
sublinhou fortemente que o “muito belo” do sexto dia - expressado pelo
Criador – é permanentemente contradito, desta forma, pelo mal, pelo
sofrimento, pela corrupção. E parece quase que o maligno queira
permanentemente sujar a criação, para contradizer a Deus e fazer
irreconhecível a sua verdade e a sua beleza. Num mundo assim marcado
também pelo mal, o “Logos”, a Beleza eterna e a Ars eterna, devem
aparecer como “caput cruentatum”. O Filho encarnado, o “Logos”
encarnado, é coroado com uma coroa de espinhos; e ainda justo assim,
nesta figura sofrida do Filho de Deus, começamos a ver a beleza mais
profunda do nosso Criador e Redentor; podemos, no silêncio da “noite
escura”, escutar ainda a Palavra. Crer não é mais do que, na escuridão
do mundo, tocar a mão de Deus e assim, no silêncio, escutar a Palavra,
ver o Amor.
Eminência, obrigado por tudo e façamos ainda “caminhadas”, ainda
mais, neste misterioso universo da fé, para sermos mais capazes de orar,
de rezar, de anunciar, de ser testemunhas da verdade, que é bela, que é
amor.
No fim, caros amigos, gostaria de agradecer a todos vocês, e não só
por esta semana, mas por estes oito anos, em que levaram comigo, com
grande competência, afecto, amor, fé, o peso do ministério petrino.
Permanece em mim esta gratidão e embora agora termine a "exterior",
"visível" comunhão - como disse o cardeal Ravasi – permanece a
proximidade espiritual, permanece uma profunda comunhão na oração. Nesta
certeza avançemos, confiantes da vitória de Deus, confiantes da verdade
da beleza e do amor.
Obrigado a todos.
in
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