Há una dias caminhava com uma
amiga, num dia extremamente frio. Chegámos a uma esquina, onde tivemos de parar
devido ao sinal vermelho. Fazia-se sentir um vento enorme. De repente, veio-me
à memória a cidade de Nova Iorque, num dia em que se encontrava coberta de
neve, e onde ainda se fazia sentir mais frio. Tinha-me perdido da minha irmã
por uns momentos no meio dos transeuntes, a qual entretanto me telefonou a
questionar onde me encontrava. Recordo que lhe respondi, olhando para o sinal,
enquanto procurava o nome da rua: “Na esquina do Walk com a do Stop”, ao
que ela respondeu: “Vá lá, está muito frio, estava gelada, não te via, entrei
num Coffee Shop para aquecer”.
Entretanto, identifiquei o número da rua onde nos encontrávamos, e informei-a.
Nesta cidade, apesar do frio que se fazia sentir, havia quase sempre um local
bem aquecido, onde nos podíamos abrigar até recuperar. O pior mesmo, eram as
esquinas dos arranha-céus, em que desprotegidas, o vento circulava e o frio
enregelava. Este pensamento, deu o mote, por analogia, para escrever este
artigo, “Walk, stop”. Na verdade,
tudo tem um tempo determinado na nossa vida, e há um tempo próprio para fazermos,
ou não, dependendo da nossa vontade, do nosso estado de espírito, das
circunstâncias em que nos encontramos, dos meios de que dispomos, daquilo em que
acreditamos… sendo que um dia, mais próximo ou longínquo, teremos de prestar
contas a Deus do modo como o empregámos. Posto isto, nada melhor que Lhe pedir
para nos dar o dom da sapiência, que nos permita compreender os desígnios que
traçou para a nossa vida, no sentido de podermos corresponder à Sua vontade.
Não é de todo uma tarefa fácil: Que eu veja. Foi esta a frase do cego de
Jericó, quando Jesus lhe perguntou: “Que queres que eu faça”? E ele respondeu:
“Mestre, que eu veja”. Esta frase
associada ao para, arranca, ou seja ao nosso caminhar terreno, trouxe-me ao
pensamento um santo da nossa época S. Josemaria,
que correspondeu a um chamamento pessoal, enquanto caminhava em Logronho, num
dia de muita neve, no inverno de 1917, ao ver “ao fundo de uma rua coberta de
neve… o vulto de um frade carmelita, e repara nos sulcos das sandálias que ele
deixa impressas atrás de si. De súbito, aquelas pegadas comovem-no
profundamente. Os pés nus do religioso, mal defendidos pelas finas correias de
cabedal, enterrando-se na neve branca da calçada, fazem ressoar na sua alma uma
ânsia enorme de amor, de desprendimento, de entrega a Deus!...Enfim será
sacerdote. Ao tomar esta decisão, sabe que vai encher de surpresa a sua
família… O que o emocionou profundamente foi ver pela primeira vez o pai
chorar! – “Meu filho, pensa nisso bem... Os sacerdotes têm de ser santos… É
muito duro não ter casa, não ter lar, não ter um amor na terra. Pensa nisso um
pouco mais. Mas eu não me oponho… E Josemaria não esquece uma tia materna
carmelita, a quem revela também o grande anseio que o consome. Na carta que lhe
escreve, confia-lhe então as jaculatórias que ele começa a usar: “Domine, ut videam”, “Senhor que eu veja!”,
como suplicava o cego de Jericó; “Domina,
ut sit”, “Senhora que se cumpra”, que se realize quanto antes o que Deus
quer de mim… Na manhã de 2 de Outubro de 1928, já sacerdote, enquanto fazia um
retiro, no seu quarto, de súbito começa a desenrolar-se diante dele um panorama
extraordinário que o absorve por completo. São milhões de almas abrindo-se e
entregando-se ao amor de Deus! Multidão de pessoas, vulgares e correntes, as
multidões da rua, gente normal, o povo, despertando, para as mais altas
exigências da santidade… O dia 2 de Outubro era e ainda é, a festa dos Anjos da
Guarda. Enquanto via a obra a que o Senhor o chamava, ouvia ao longe o repicar
dos sinos da Igreja Santa Maria dos Anjos. Aquele toque festivo nunca mais lhe
saiu da memória. Era como que o enquadramento musical da alegre e abençoada
novidade: para seguir Cristo de perto, não é preciso morrer para o mundo… (Cf. Hugo
de Azevedo in Uma Luz no Mundo).
Continuei a minha caminhada.
Desta vez, veio ao meu pensamento, devido à celebração no passado dia 21 de
Janeiro o dia de Santa Inês, uma viagem a Roma por ocasião do Jubileu das
Famílias que teve lugar em 15 de Outubro de 2000 celebrado pelo Papa S. João
Paulo II, que na sua homilia referiu; “Que o Senhor fonte da vida nos abençoe.
Que o Jubileu das Famílias constitua para todos vós que o estais a viver um
momento de graça… e um convite para refletir acerca do significado e valor que
é este grande dom que é a família”. Então porque faço a ligação a Santa Inês?
Na verdade, a cidade de Roma, repleta de famílias para assistir ao Jubileu, respirava
um maravilhoso ambiente familiar. As igrejas estavam abertas. Roma tinha-se
esmerado no sentido de bem acolher as famílias. Ao passear na belíssima Piazza Navona, houve uma Igreja que
despertou particularmente a minha atenção, a Basílica de Santa Inês da Agonia,
onde existe uma relíquia desta santa e cuja história resumo. Foi uma mártir
católica, que nasceu em Roma, tendo sido martirizada no ano 304. Era
descendente de uma família cristã abastada. Inês decidiu consagrar a sua pureza
a Deus. Foi cortejada pelo filho do Prefeito de Roma aos 13 anos, tendo
recusado, o que deu origem ao seu martírio, tendo sido ameaçada com o fogo e
posteriormente decapitada, por manter uma fé inabalável. Conta a lenda que o
local onde tiveram lugar estes acontecimentos, foi precisamente na denominada Piazza Navona. É designada por mártir da
virgindade, constituindo um exemplo da pessoa que mantém a fé em Deus e na
eternidade que conduz ao heroísmo.
Deus manifesta-se de muitos modos
diferentes. Cada um foi agraciado com o seu próprio carisma. Mas todos nós que
somos pessoas simples, com uma vida corrente, estamos igualmente chamados à
santidade, pelo que se torna necessário encontrarmo-nos atentos à mensagem de
Jesus, através de Maria, neste nosso Walk
and Stop terreno, não desistindo nunca de manter uma fé viva e operativa,
mesmo nos momentos de solidão, de abandono, de doença, de luto, de
constrangimentos, que podem ser ultrapassados numa ditosa harmonia intrínseca,
através de Jesus e de Sua Mãe Maria Santíssima.
Maria Helena Paes |
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