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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Duas caixas cheias

Numa meditação que ouvi[1], o pregador contava um episódio familiar, destes que acontecem por volta de 19 março, dia de S. José, dia do pai. A protagonista da história é uma menina com cerca de seis anos. Ela está a oferecer ao pai uma embrulho envolto em papel amarelo. No cartão que o acompanha o pai lê: “Para o papá abrir sempre que precisar”. Para seu espanto, uma vez rasgado o papel de embrulho, o papá depara-se com uma caixa vazia. A pequenita percebe imediatamente aquela expressão do pai com olhos de peixe, faz beicinho e começa a choramingar enquanto a mãe, por detrás dela, faz sinais ao marido. A reação dele é rápida e eficaz: abraça a filha, acalma-a e agradece-lhe. Já a sós com a mulher, pede que lhe desvenda o enigma. A caixa estava cheia de beijos, pois a filha tinha passado toda a tarde da véspera ocupada nessa atividade de fornecer a caixa com uma grande quantidade de beijos para consolar o pai sempre que precisasse.

Este episódio da vida real, porque efetivamente aconteceu, é uma história poética, bonita,... mas falsa no conteúdo. Os beijos da criança não estavam dentro da caixa, mas, e isto sim é real, tinham saído do seu coração para o coração do pai. A caixa passará a ser uma consolação para ele sempre que lhe lançar um olhar. O amor entre pai e filha, entre filha e pai, cresceu e, assim o esperamos, continuará a crescer por muitos anos, se esta família abrir muitas vezes a caixa dos beijos” e souber recordar e pensar sobre ela.

Numa outra “caixa”, o conteúdo é real; ela está mesmo cheia, não de beijos, mas de vida e de amor. O seu conteúdo não é visível aos olhos, ao ouvido, ao paladar... aos sentidos... e nem sequer à razão  humana, mas o que contem é verdadeira Vida, e vida que se transmite a quem dela se aproxima com o coração limpo como o das crianças que são capazes de acreditar no que se não vê, como beijos e amor. Quem se aproxima dessa caixa, já leva amor para dar, e espera receber Amor, sabe que voltará mais rica em amor.Esta caixa contem um Amor que conforta. Mas é um amor exigente, como o amor de mãe ou de pai, que exigem muito dos filhos e os corrigem para que venham a ter uma vida feliz. Junto a esta caixa chega-se à vida eterna, porque ali está a verdadeira vida, o verdadeiro caminho que, com toda a verdade, nos leva à vida eterna. Esta caixa é o Sacrário. Aqui está encerrado o grande mistério de Deus escondido, naquilo que parece ser pão à vista, ao paladar, ao tacto. No entanto, os nossos sentidos não conseguem captar a grandeza do que ali está: algo muito mais valioso que os beijos da menina e, é necessário lembrar, muito mais real e verdadeiro. Ali está o Deus misericordioso que conhece a fraqueza do coração humano e o fortalece, o perdoa, o anima, o engrandece, o eleva, o exalta e o glorifica para sempre na eternidade. Deus está nessa “caixa” para continuar à minha espera, à nossa espera, amigo leitor, e à espera de todos os homens de todos os continentes e de todas as gerações, até ao fim do mundo. É nosso Amigo e gosta de estar connosco, tem saudades nossas. Desde o nosso nascimento que anseia pela nossa companhia. Atrevo-me a dizer que... sim atrevo-me: Deus faz-nos vir ao mundo por gostar tanto de nós que nos quer para sempre com Ele , desde o nosso nascimento e por toda a eternidade. Só espera que O amemos de volta, conduzindo-nos de modo a agradar-lhe, tal como fazem os namorados, os esposos, os pais aos filhos e os filhos aos pais... a ponto de podermos encher a Caixa de beijinhos.

Isabel Vasco Costa

[1]www.10minutoconjesus.es



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