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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

O Vestido de Nossa Senhora da Soledade

Há alguns dias ao visitar a Vila de Mafra tomei conhecimento de que, há cerca de um ano, estava a ser confecionado por um artesão sevilhano um novo vestido para a imagem de Nossa Senhora da Soledade, preciosa réplica idêntica ao antigo, datado de 1773, tendo sido reproduzido com as mesmas técnicas e materiais de então. O antigo vestido já não se encontrava, de todo, em condições de ser usado com a merecida e devida dignidade. Tudo o que é para louvar a Jesus e Maria, deve encontrar-se, sempre que possível, nas melhores condições. Interiormente pensei: é preciso muito amor e interesse não só pelo património artístico/cultural, mas também enquanto prova de fé, querendo que a imagem de vestir de Nossa Senhora da Soledade brilhe em todo o seu esplendor. Posteriormente, fui informada que o vestido já se encontrava pronto e que iria ser apresentado pela Real e Venerável Irmandade de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento de Mafra, no dia 3 de Fevereiro de 2019, no final da Santa Missa de despedida de Mafra de Sua Excelência Reverentíssima o Senhor D. Nuno Brás, Irmão de Honra da mesma Irmandade. O vestido será estreado na Procissão do Senhor Jesus dos Passos de Mafra, na Quaresma de 2019.

Foi um excelente motivo para regressar à belíssima Vila de Mafra. Antes de entrar na Basílica de Nossa Senhora e de Santo António, aproveitei para fazer uma visita rápida ao Palácio Nacional de Mafra. Era um dia muito frio e ventoso, convidativo para mais um passeio no seu corredor com mais de 230 metros, situado no segundo andar. Foi possível observar em toda a sua grandiosidade, das janelas do palácio, a basílica lindamente preparada, iluminada e ornamentada para a todos receber com a devida solenidade que a ocasião requeria. Na verdade seria uma cerimónia muito digna que contou com a brilhante participação de dois coros, o que nos ajudou, e muito, a rezar duas vezes, uma vez que cantar significa isso mesmo. A Missa teve inicio com a bênção das velas, que foram acesas, alusivas a Nossa Senhora das Candeias, cuja cerimónia se tinha celebrado na véspera. Recordo uma frase da pagela que foi distribuída: “ Senhor, deixando esta vela acesa, é a minha vida que coloco nas Tuas mãos…”.

Passo agora a citar alguns momentos da homilia, do modesto modo como a interpretei: “ O que é o cristianismo, o que o torna único, qual a sua característica, será um conjunto de ideias que se vão ajustando à vida contemporânea, é uma moral, um conjunto de regras para vivermos melhor uns com os outros? É verdade tudo isso, mas só faz sentido se percebermos que o cristianismo é uma pessoa. ”Jesus Cristo”! O cristianismo hoje é Jesus Cristo vivo no meio de nós que continua a fazer caminho connosco. “Cumpriu-se hoje mesmo aquilo que acabais de escutar”. É deixar que Jesus Cristo esteja ao nosso lado. Receber Jesus Cristo na nossa vida, deixar que partilhe as nossas tristezas e alegrias, até os momentos mais banais que transformam a nossa vida. Sem Ele a nosso lado, nunca teremos força. Ficaremos como somos, pecadores e o mundo ficará igual. Por isso também o Evangelho nos colocava a questão, como é que recebes a Jesus? A questão é-nos colocada a nós que somos cristãos, batizados: como nós acolhemos Jesus na nossa vida?

A caridade é o amor de Deus em nós, deixar que Jesus transforme a nossa existência. Se não tiver em mim o amor de Deus, nada sou. Dar graças porque Ele quer fazer parte da nossa vida. E, quando abrimos o coração e o deixamos entrar, o mundo à nossa volta torna-se melhor”. Foi uma cerimónia muito bonita, cheia de simbolismo, em que se agradeceu ao Senhor D. Nuno Brás todo o apoio espiritual, amizade e compreensão concedido aos paroquianos de Mafra, enquanto testemunho de vida cristã, ao longo dos anos, augurando que tudo corra pelo melhor enquanto Bispo do Funchal nomeado pelo Papa Francisco. O presidente da Câmara de Mafra ofereceu em nome de todos os mafrenses uma monografia denominada: “Mafra, Singularidades de um Território”, com o intuito de que recordasse os locais onde esteve e ficasse a conhecer os que ainda não tinha tido oportunidade de visitar. Este gesto simbólico foi aplaudido por todos os presentes.

Posteriormente tive oportunidade de participar na sacristia na bênção do novo vestido de Nossa Senhora da Soledade que se encontrava exposto ao lado do antigo, conseguindo-se assim apreciar pormenorizadamente todo o trabalho levado a cabo pelo artesão que durante um ano teve o honroso trabalho de meticulosamente fazer o novo à sua semelhança. Estava lindo, uma preciosidade, bordado a fio de ouro, com cristais e renda igual ao antigo. Uma peça preciosa, que iria adornar dignamente a imagem de Nossa Senhora da Soledade. D. Nuno Brás referiu durante a bênção: “Que este vestido brilhe na imagem de Nossa Senhora e que olhando todos sejam levados a ter as mesmas atitudes de acolhimento e de caridade, que a Virgem Maria”. Rezou-se seguidamente uma Ave-Maria por essa intenção.

Termino este artigo com o sentimento de que valeu muito a pena ter podido participar nesta Missa e na bênção do vestido de Nossa Senhora da Soledade, solicitando também a bênção da nossa Mãe do Céu, para todos os que colaboraram, financiaram e que de algum modo deram o seu contributo para que o novo vestido se tornasse uma realidade e que outros possam igualmente ser recuperados. Em particular louvo o gesto e empenho da Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra.

Fotografias de Ana Paula Santos, 2019

Maria Helena Paes



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