Há alguns dias ao
visitar a Vila de Mafra tomei conhecimento de que, há cerca de um ano, estava a
ser confecionado por um artesão
sevilhano um novo vestido para a imagem de Nossa Senhora da Soledade,
preciosa réplica idêntica ao antigo, datado de 1773, tendo sido reproduzido com as
mesmas técnicas e materiais
de então. O antigo
vestido já não se encontrava, de todo, em condições de ser usado com a merecida
e devida dignidade. Tudo o que é para
louvar a Jesus e Maria, deve encontrar-se, sempre que possível, nas melhores
condições. Interiormente pensei: é preciso
muito amor e interesse não só pelo património artístico/cultural, mas também enquanto prova de fé, querendo que a imagem de vestir
de Nossa Senhora da Soledade brilhe em todo o seu esplendor. Posteriormente,
fui informada que o vestido já se encontrava pronto e que iria ser apresentado
pela Real e Venerável Irmandade de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento de Mafra,
no dia 3 de Fevereiro de 2019, no final da Santa Missa de despedida de Mafra de
Sua Excelência Reverentíssima o Senhor D. Nuno
Brás, Irmão de Honra da mesma Irmandade. O vestido será estreado na Procissão
do Senhor Jesus dos Passos de Mafra, na Quaresma de 2019.
Foi um
excelente motivo para regressar à belíssima
Vila de Mafra. Antes de entrar na Basílica de Nossa Senhora e de Santo António, aproveitei para
fazer uma visita rápida ao Palácio Nacional de Mafra. Era um dia muito frio e
ventoso, convidativo para mais um passeio no seu corredor com mais de 230
metros, situado no segundo andar. Foi possível observar em toda a sua
grandiosidade, das janelas do palácio,
a basílica lindamente preparada, iluminada e ornamentada para a todos
receber com a devida solenidade que a ocasião requeria. Na verdade seria uma
cerimónia muito
digna que contou com a brilhante participação de dois coros, o que nos ajudou,
e muito, a rezar duas vezes, uma vez que cantar significa isso mesmo. A Missa
teve inicio com a bênção das
velas, que foram acesas, alusivas a Nossa Senhora das Candeias, cuja cerimónia se tinha celebrado
na véspera. Recordo uma frase
da pagela que foi distribuída: “ Senhor, deixando esta vela acesa, é a minha vida que coloco nas Tuas
mãos…”.
Passo
agora a citar alguns momentos da homilia, do modesto modo como a interpretei: “
O que é o cristianismo, o que o torna único, qual a sua característica, será um
conjunto de ideias que se vão ajustando à vida contemporânea, é uma moral, um
conjunto de regras para vivermos melhor uns com os outros? É verdade tudo isso,
mas só faz sentido se percebermos que o cristianismo é uma pessoa. ”Jesus
Cristo”! O cristianismo hoje é Jesus Cristo vivo no meio de nós que continua a
fazer caminho connosco. “Cumpriu-se hoje mesmo aquilo que acabais de escutar”.
É deixar que Jesus Cristo esteja ao nosso lado. Receber Jesus Cristo na nossa
vida, deixar que partilhe as nossas tristezas e alegrias, até os momentos mais
banais que transformam a nossa
vida. Sem Ele a nosso lado, nunca teremos força. Ficaremos como somos,
pecadores e o mundo ficará igual. Por isso também o Evangelho nos colocava a
questão, como é que recebes a Jesus? A questão é-nos colocada a nós que somos
cristãos, batizados: como nós acolhemos Jesus na nossa vida?
A
caridade é o amor de Deus em nós, deixar que Jesus transforme a nossa
existência. Se não tiver em mim o amor de Deus, nada sou. Dar graças porque Ele
quer fazer parte da nossa vida. E, quando abrimos o coração e o deixamos
entrar, o mundo à nossa volta torna-se melhor”. Foi uma cerimónia muito bonita,
cheia de simbolismo, em que se agradeceu ao Senhor D. Nuno Brás todo o apoio
espiritual, amizade e compreensão concedido aos paroquianos de Mafra, enquanto
testemunho de vida cristã, ao longo dos anos, augurando que tudo corra pelo
melhor enquanto Bispo do Funchal nomeado pelo Papa Francisco. O presidente da
Câmara de Mafra ofereceu em nome de todos os mafrenses uma monografia
denominada: “Mafra, Singularidades de um Território”, com o intuito de que
recordasse os locais onde esteve e ficasse a conhecer os que ainda não tinha
tido oportunidade de visitar. Este gesto simbólico foi aplaudido por todos os
presentes.
Posteriormente
tive oportunidade de participar na sacristia na bênção do novo vestido de Nossa
Senhora da Soledade que se encontrava exposto ao lado do antigo, conseguindo-se
assim apreciar pormenorizadamente todo o trabalho levado a cabo pelo artesão
que durante um ano teve o honroso trabalho de meticulosamente fazer o novo à
sua semelhança. Estava lindo, uma preciosidade, bordado a fio de ouro, com
cristais e renda igual ao antigo. Uma peça preciosa, que iria adornar
dignamente a imagem de Nossa Senhora da Soledade. D. Nuno Brás referiu durante
a bênção: “Que este vestido brilhe na imagem de Nossa Senhora e que olhando
todos sejam levados a ter as mesmas atitudes de acolhimento e de caridade, que
a Virgem Maria”. Rezou-se seguidamente uma Ave-Maria por essa intenção.
Termino
este artigo com o sentimento de que valeu muito a pena ter podido participar
nesta Missa e na bênção do vestido de Nossa Senhora da Soledade, solicitando
também a bênção da nossa Mãe do Céu, para todos os que colaboraram, financiaram
e que de algum modo deram o seu contributo para que o novo vestido se tornasse
uma realidade e que outros possam igualmente ser recuperados. Em particular
louvo o gesto e empenho da Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento
de Mafra.
Fotografias
de Ana Paula Santos, 2019
Maria Helena Paes |
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