Alguma inquietude foi o que senti
hoje, talvez por fisicamente estar a recuperar de uma constipação. Pela minha
mente surgiu a ideia de ir visitar o antigo Orfanato de Nossa Senhora dos
Milagres que agora alberga o Mosteiro do Imaculado Coração de Maria das Irmãs
Clarissas. Resolvi telefonar no sentido de me aperceber da disponibilidade para
me receberem. Foram extremamente recetivas pelo que, com muita emoção, fui
visitar o quarto onde Jacinta, agora Santa Jacinta, uma dos três pastorinhos de
Fátima, permaneceu doze dias antes de ser transferida para o Hospital D.
Estefânia, onde no dia 20 de Fevereiro de 1920, viria a falecer, vítima da gripe
pneumónica.
Por estranha coincidência, neste
dia da visita, tinha inicio o ano jubilar do centenário da morte de Jacinta
Marto. Na altura em que Santa Jacinta ali permaneceu, era a Madre Godinho que
tomava conta do orfanato, a quem Jacinta chamava carinhosamente “Madrinha”, e a
quem revelou o que Jesus queria futuramente para aquele lugar, referindo: “Sede
muito amigas do silêncio e da santa pureza”. Viria posteriormente a albergar as
Irmãs Clarissas. Aquando da extinção das ordens religiosas, algumas das Irmãs
regressaram a suas casas. Contudo três Irmãs Clarissas, procuraram ali
albergue. Estas três Irmãs conseguiam revezar-se de modo a fazer permanentemente
a Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento que constitui o grande apelo de S.
Francisco de Assis: “Que o Amor seja amado”.
Santa Jacinta identificou a
necessidade de amar o Amor no coração da cidade de Lisboa e de rezar pelos seus
habitantes, de modo a levar todos para o céu, já que esta santa referia, que
não fazia sentido ir sozinha para o Céu. Naquele edifício, surgiu
posteriormente o Mosteiro do Imaculado Coração de Maria, das Irmãs Clarissas.
Estas Irmãs referem que a pequena
cama de ferro pintada de branco, onde Jacinta repousou na sua passagem pelo
orfanato é o “altar” onde Jacinta se ofereceu em sacrifício. Recordo que
Jacinta viria a falecer com uma ferida aberta no peito, fruto da necessidade de
drenar os líquidos acumulados pela própria doença.
Sentei-me numa cadeira a observar a simplicidade
e a enorme riqueza sobrenatural daquele quarto. Ao lado da cama, encontra-se uma
cadeira baixinha, em que alguma vez a Madre Godinho se quis sentar, tendo
Jacinta referido: “Aí não. É onde Nossa Senhora se senta”. Ao meu lado direito
encontrava-se a primeira imagem de Jacinta. Depois, foi a vez de visitar, no
quarto contíguo, o banco onde Jacinta se sentava horas a rezar em frente à
janela que dava para a capela. Sem palavras.
Encontra-se também aí um armário
com alguns pertences de Santa Jacinta, entre eles, um lindo vestido azul,
pequeno, já que Jacinta era pequena. Ao lado, um saco de pano onde guardava a
merenda que partilhava com os pobres. O rosário com o qual costumava rezar.
Dirigi-me a outro quarto que dava de frente para o Jardim da Estrela, onde
Jacinta recordava os campos da sua terra. Tanta objetos e recordações relativos
a uma criança cujo exemplo de fé, de oração, de bondade, de persistência, de
amor, de sofrimento… que a todos nos comove. Interiormente, dei comigo a pensar:
“Coração, coração na Cruz”.
Jacinta costumava referir no seu
quarto: “Se os homens soubessem o que é a eternidade, mudariam de vida”.
Refere-se ainda que um dos primeiros milagres desta santa na sua permanência no
orfanato, foi que, apesar da sua doença contagiosa, nenhuma das crianças, nem a
Madre Godinho, foram contagiadas por esta pandemia. O meu coração fervilhava de
emoção. Encontrava-me já exausta, sem palavras, perante o testemunho de vida e
de sofrimento de uma simples criança. Era altura de partir para um dia mais
tarde regressar. Saí a pensar que no coração da cidade de Lisboa existe um
lugar de amor e de oração. Também um doce refúgio. Hoje em dia, vários devotos
de Santa Jacinta vêm ali pedir e agradecer graças concedidas por intercessão
desta Santa, que viveu um contacto privilegiado com Nossa Senhora aparecida em
Fátima.
Maria Helena Paes |
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