Encantador, perspicaz,
subtil e deliciosamente entrelaçado, com meandros de sensibilidade, egoísmo,
perplexidade e espanto, é uma obra que não deixa de nos surpreender do
princípio ao fim.
Brilhante,
inteligente, denunciante duma alienação real vivida nos tempos actuais,
conduz-nos à descoberta do paraíso perdido, dum éden povoado de abundantes e
aparentes fragilidades e frugalidades, tão necessárias como indispensáveis a um
saudável equilíbrio físico, psíquico e moral.
Uma descrição
platónica dum viver e amar em etéreo fluir dum quotidiano pleno de vivências
humanas e calorosas, ou uma chamada de atenção para a superficialidade e
contaminação de alguns modelos de existência e sentimentos numa sociedade que se
crê moderna, mas está intoxicada pela vertigem do “politicamente correcto”,
incapacitada de discernir do caminho sublime que nos conduz à verdade, à beleza
e ao encontro com o esplendor do para além de…?
Uma narrativa
fluente e cadente em busca do valor das coisas pequenas ou o colocar do dedo na
ferida que afecta e corrói o que de melhor o ser humano tem?
Uma fuga da
realidade real ou a busca do encontro com uma miragem em tons de realidade versus transcendental?
Uma utopia de
vida ou o levantar da ponta do véu que nos permite concluir que “o rei vai nú”,
em matéria de afectos, de vida social e familiar?
Muitas questões
nos coloca este romance de aparência feminina, todavia não feminista; de
conteúdo educativo, porém de rebeldia face aos meios vulgares e decadentes de
educação praticada nos locais designados por escolas públicas, onde a
indisciplina se impunha como uma normal norma de conduta.
O despertar da
menina Prim, de Natalia Sanmartin Fenollera, da Porto Editora, é um romance invulgar, numa narrativa de
aparente transparência de conteúdo, que encerra um profundo e requintado
pensamento tão subtil quanto audaz, abrindo possibilidades inimagináveis sobre
a aparência das coisas simples, dos sentimentos banais, mas não sentimentais,
do sentir, do amar, do que se julga saber e se conclui que não se sabe.
Maria Susana Mexia |
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