Em uma longa entrevista, o arcebispo de Nova York e ex-presidente dos bispos norte-americanos, compartilha os seus pensamentos sobre o Sínodo, a crise e a beleza da família, o papel da Igreja e o de Francisco
Roma, 31 de Outubro de 2014 (Zenit.org) Deborah Castellano Lubov
Embora ninguém se equipare aos ideais da Igreja, ela recebe a
todos de braços abertos. Em resumo, esse é o cerne da entrevista que o
cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, concedeu a ZENIT. No
amplo diálogo com a nossa mídia, o prelado, já presidente da Conferência
Episcopal dos Estados Unidos, expressou o próprio pensamento não só
sobre o Sínodo, mas também sobre o verdadeiro papel da Igreja, sobre
como tal função esteja se desenvolvendo no pontificado de Francisco e
sobre como foi encarado pelos seus antecessores. Em seguida falou com a
sua franqueza habitual sobre os desafios pastorais nas arquidioceses
americanas, da cobertura mediática, bem como a oportunidade de que
Francisco possa fazer uma visita pastoral aos Estados Unidos, e,
especialmente, a Nova York, em 2015.
***
ZENIT: Eminência, quais são as suas esperanças e expectativas
depois do final do Sínodo Extraordinário e tendo em vista a Assembleia
de 2015?
Card. Dolan: A minha expectativa é que haja um incentivo aos casais
bem casados e às nossas belas famílias que se esforçam por viver uma
vida agradável a Deus, coerente com toda a beleza do Evangelho e que
vivem na Terra para chegar o mais perto possível do amor e da unidade da
Santíssima Trindade. Espero que maridos e esposas vivam o tipo de vida
que é para nós um ‘ícone’, ou seja, um reflexo que Deus tem pelo homem.
Esta é a majestade, é a poesia, é a história de amor, a beleza do matrimónio que faz parte da nossa tradição católica. Portanto, a minha
esperança é de que, em um mundo que se pergunta se é possível permanecer
unidos para sempre, se é possível permanecer fieis e apaixonados pela
mesma pessoa e acolher os filhos como um dom, como uma bênção, e não
como um peso, se o Sínodo tenha conseguido confirmar que “sim, pode
apostar a vida, as pessoas podem conseguir!”. Podem conseguir com a
graça e a misericórdia de Deus, que nos dá uma vida de extraordinária
alegria. Portanto, se somos capazes de dar aquele apoio e incentivo ao
novo povo, “Aleluia”!
ZENIT: Na sua opinião qual foi o tema mais importante do Sínodo?
Card. Dolan: Parece contraditório, mas a mensagem mais importante é
de que não haverá mudanças. A nossa sensibilidade está no reafirmar a
fidelidade à nobreza, à sacralidade e à grandeza dos ensinamentos da
Igreja sobre família e matrimónio. No Sínodo não se tratou de mudar
algo, mas de reafirmar melhor o imutável ensinamento da Igreja em um
mundo extraordinariamente cínico e céptico com relação à possibilidade de
uma vida eterna, fiel e feita de amor.
ZENTI: Quais os medos, então?
Card. Dolan: Existe um pouco... especialmente queremos ser o mais
claro e convincentes possíveis no reafirmar o eterno ensinamento da
Igreja sobre o matrimónio e sobre a família, sem assustar ninguém, sem
dar a impressão de querer marginalizar nada. Como nas famílias, também
na Igreja existem os ‘maiores’ que devem se preocupar em ensinar com
clareza e de estar à altura das expectativas, mostrando virtude,
responsabilidade, determinação, mantendo um amor extraordinário e uma
doçura com as crianças. Deus é o nosso Pai que nos ensina o que foi
revelado a nós sobre o matrimónio. A Igreja é a nossa mãe. Tanto Deus
quanto a Igreja têm a suprema responsabilidade de ser bons mestres, da
mesma forma que fariam nossos pais. Portanto, como podemos reconciliar
os nossos nobres ensinamentos com quem não é capaz de viver com eles?
Refiro-me obviamente aos divórcios, a quem se casa mais vezes, e às
uniões do mesmo sexo. Como podemos continuar a afirmar o que Deus nos
ensinou sem excluí-los? Como podemos fazer para que eles reconsiderem os
ensinamentos de Deus? Como podemos fazê-los recordar que, embora não
sejam capazes de viver com estes ensinamentos, podem, de qualquer forma,
considerar ainda a Igreja como uma família, como uma casa espiritual?
Eis o desafio: como ser mestres de firmeza e de amor ao mesmo tempo.
ZENIT: De que forma a Igreja pode dar as boas vindas aos que não conseguem seguir todos os ensinamentos?
Card. Dolan: Eu acho que precisamos pegar essas indicações do Santo
Padre, que disse: “Se você é consciente de ser um pecador e admite que é
um, então, estou feliz em conhece-lo, porque eu também o sou! Una-se a
mim e ao grande grupo de pecadores que busca melhorar”. Deve haver uma
conversão no coração, de acordo com a graça e a piedade de Deus, e
lentamente, gradualmente, buscar então realinhar-se com os ensinamentos
de Jesus e da Igreja. Não é um processo fácil e alguém poderia repetir
os erros mas é por isso que temos o sacramento da Penitência. Gosto de
lembrar às pessoas que a Igreja não é um clube privado para os
perfeitos, mas um hospital para os enfermos. Se você está doente
espiritualmente ou moralmente, é mais que bem vindo à Igreja, porque
todos nós o somos. Também se você cometeu erros mais graves, de qualquer
forma, está em ‘casa’ e nós faremos o possível para fazê-lo
compreender, à luz da sabedoria da Igreja. Ainda quando fracasse a
Igreja estará do seu lado para te fazer compreender que você não está
excluído.
ZENIT: Falando agora de Nova York qual é o maior desafio que a arquidiocese deve enfrentar depois do Sínodo?
Card. Dolan: O maior desafio pastoral será recapturar o
extraordinário apelo à compaixão e aos cuidados que pertence à Igreja.
De fato, a percepção de algumas pessoas sobre a Igreja é que ela só sabe
dizer não. O perigo após o Sínodo é que muitos vão dizer: "Mais uma vez
a Igreja disse não ao aborto, não para uniões do mesmo sexo, etc'. Esta
caricatura é errada. A Igreja sempre diz sim ao que pode fazer livre o
homem e ao que faz a sua condição mais verdadeira e genuína. Nós dizemos
‘sim’ à vida eterna, sim à poesia da relação homem e mulher, sim à
ideia de que a família é a coisa mais próxima à Trindade nessa terra,
sim à expressão sexual do amor entre homem e mulher. E dizemos, pelo
contrário, ‘não’ àqueles que neguem tudo isso. Portanto, se você me
perguntar qual seja o meu maior desafio pastoral, acho que seja o de
reconquistar o extraordinário e compassivo apelo que cura e a natureza
da doutrina da Igreja.
ZENIT: Se alguém perguntasse se o Papa Francisco está mantendo a mesma linha de Bento XVI, o que você responderia?
Card. Dolan: Estamos sempre na linha da tradição. Se você ler os Actos
dos Apóstolos, as Cartas de São Paulo, é possível dar-se conta de que a
Igreja sempre continuou este desafio desde o Domingo de Pentecostes.
Como viver com os ideais de Deus? Como reconciliar as transformações da
sociedade com o que Deus nos ensinou originalmente? O grande desafio
Pastoral é o de não mudar, de não comprometer-se, mas de resistir sem
escolher outro caminho.
ZENIT: Há algo sobre a maneira em que os meios de comunicação descrevem-no que não o convence?
Card. Dolan: O Papa João Paulo II nos ensinou que a Nova
Evangelização seria sempre um desafio e que nunca deveríamos fugir da
oportunidade de divulgar a mensagem de Cristo. Ao mesmo tempo isso nos
leva a ser mal interpretados. Às vezes, em ocasiões, sinto que as minhas
palavras não são usadas de forma apropriada, outras vezes me arrependo
de ter dio alguma coisa. De qualquer forma, no geral, não tenho dores de
consciência e não acho que tenha sido tratado mal.
ZENIT: Por que, na sua opinião, o Papa Francisco deveria visitar os Estados Unidos, e especialmente Nova York?
Card. Dolan: Ele é o tipo de Papa que te diz que pode confiar nele e
conversar abertamente. Então eu lhe disse: "Santidade, suponho que você
queira vir aos Estados Unidos. É a terceira ou quarta maior comunidade
católica do mundo'. Quando venha, espero que venha a Nova York porque é
um microcosmo de todas as igrejas da América. Já sabemos, no entanto,
que o Papa quer vir porque expressou o desejo de ir para a sede das
Nações Unidas.
(31 de Outubro de 2014) © Innovative Media Inc.
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