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terça-feira, 4 de março de 2014

Padre Lombardi fala sobre o primeiro ano do Papa Francisco (Parte I)

Os eventos que marcaram a história, contados pelo director da Sala de Imprensa do Vaticano: da renúncia de Bento XVI a eleição de Bergoglio e os seus emocionantes 12 meses de pontificado


Roma, 03 de Março de 2014 (Zenit.org) Wlodzimierz Redzioch


Estamos há um ano da renúncia de Bento XVI. Uma atmosfera pesada pairou sobre a Igreja católica e a cúria Romana depois dos escândalos de pedofilia e a traição do mordomo. Os preparativos do Conclave e a eleição surpreendente do primeiro Papa não europeu fizeram com que Roma fosse invadida por uma multidão de jornalistas, algo que não acontecia desde a morte de João Paulo II. Por várias semanas, Pe. Federico Lombardi, director da Sala de Imprensa do Vaticano teve que responder as perguntas de cerca de seis mil jornalistas. Em uma atmosfera tensa e incerta o director da Sala de Imprensa do vaticano realizou a difícil tarefa de explicar aos jornalistas provenientes de todo o planeta, o que estava acontecendo. Trata-se de eventos que marcaram a história da Igreja católica e do mundo. Para conhecer o que aconteceu neste último ano entrevistamos padre Lombardi.

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Há um atrás a situação parecia catastrófica. Os escândalos, reais ou imaginários, eram amplificados pela media com uma agressividade sem precedentes. Calúnias, suspeitas, insinuações.... Como afrontou a situação o Director da Sala de Imprensa do Vaticano?
Padre Lombardi: Os meios de comunicação nem sempre são capazes de avaliar objectivamente determinadas situações. Às vezes criou-se uma atmosfera emocional em que se enfatizou apenas aspectos negativos, em vez dos positivos. Em torno da Igreja havia sido criado uma atmosfera de negatividade. Uma parte do pontificado de Bento XVI foi marcado por eventos pesados. As acusações de abusos sexuais por parte do clero jogou mais do que uma sombra sobre a Igreja. Uma história triste, tanto mais porque o pontificado de Bento XVI foi de grande rigor e coragem ao lidar com essas situações, criando as condições para uma purificação. Depois, havia as questões internas que favoreceram a fuga das notícias. E isto aumentou de forma desproporcional a imagem negativa do Vaticano. Não quero negar os erros e as coisas erradas, mas generalizando jogou-se uma sombra de suspeita sobre a instituição e sobre as pessoas que serviram com absoluta fidelidade o Papa e a Igreja. Para piorar, o mesmo fato dramático da traição gerou um desconforto forte.

O escândalo no uso de documentos confidenciais envolveu uma pessoa que todos nós conhecíamos e que estava próxima a Bento XVI. Com quais sentimentos você recebeu a notícia de que Paolo Gabriele traía o Papa?
Padre Lombardi: Paolo Gabriele disse durante o julgamento que ele queria contribuir para a purificação das tensões que havia na Curia. Pensou que copiando e passando documentos confidenciais teria dado uma contribuição positiva. Depois, deu-se conta de que era uma coisa errada. Traiu de forma séria a confiança do Papa. Eu não expresso nenhum juízo pessoal sobre o comportamento de Paolo Gabriele. As suas acções se inserem no contexto das discussões sobre a gestão da governadoria com a rotação do arcebispo Carlo Maria Viganò. Outra questão em discussão era a do Instituto de Obras Religiosas (IOR) e as actividades económico-financeiras no Vaticano. Trata-se de problemas que envolvem um conhecimento dos aspectos técnicos, e é justo que haja discussões, mas infelizmente a media informou de modo decididamente negativo.

Naquela época, a media criticou severamente o Vaticano alegando que tinha cometido muitos erros na comunicação. O que acha dessas críticas?
Padre Lombardi: O fato de que Paolo Gabriele tenha passado centenas de documentos a um jornalista não tem nada a ver com a capacidade de comunicar do Vaticano!

Há problemas e acções deste tipo que nenhuma comunicação pode torná-lo menos grave. Obviamente, sempre é possível melhorar. E por esta razão na Secretaria de Estado apareceu a figura de um conselheiro de comunicação na pessoa de Greg Burke. É muito importante que haja uma ligação entre o governo, as decisões, a elaboração de documentos e a comunicação. Dessa forma, enquanto são preparados os documentos pensa-se já como devem ser apresentados e comunicados. Assim, a Sala de Imprensa não tem que comunicar as decisões e os documentos que caem do céu, como aconteceu, por exemplo, com a decisão de tirar a excomunhão dos lefebvrianos. Tendo Greg na Secretaria de Estado estou mais tranquilo e mais ainda porque tenho uma pessoa que conhece bem a media americana.

No dia 11 de Fevereiro de 2013 Bento XVI convocou um consistório. Ninguém imaginava o que iria acontecer. Como você experimentou a notícia da renúncia do pontificado de Bento XVI?
Padre Lombardi: "Repito-o muitas vezes - elevando o espanto dos meus interlocutores - que para mim não foi algo tão chocante ou surpreendente! Não porque eu tinha sido avisado antes do 11 de Fevereiro, mas porque quem acompanhava de perto Bento XVI se dava conta de que ele estava avaliando a consistência das próprias forças que diminuíam. Era possível que pudesse chegar àquela decisão. Já havia falado explicitamente no livro-entrevista com Peter Seewald, alguns anos antes. No livro "Luz do Mundo", Bento XVI diz claramente que em determinadas situações o papa pode, e mais, deve renunciar. Vivi aquele momento com uma certa lucidez, tentando explicar bem os motivos da renúncia que, na minha opinião, se encontram todos no papel que Bento XVI leu durante o Consistório.

Das 12.30 do 11 de Fevereiro, você teve que enfrentar o fogo cruzado de perguntas de centenas de jornalistas que vieram de todo o mundo. Em cima, se tratava de uma situação sem precedentes, nova, “inédita”. Como é que conseguiu gerir aquela situação?
Padre Lombardi: Era necessário explicar as razões da renúncia, mas também o que teria acontecido nos últimos dias do pontificado do Papa Bento XVI. Depois, era preciso explicar o que é “sé vacante”. Em seguida havia as Congregações antes do Conclave e o mesmo Conclave. Tentei lidar com essas etapas com uma determinada ordem para compreender melhor os eventos.

Quem eram os seus interlocutores na Cúria?
Padre Lombardi: O maior trabalho naquele momento foi o de procurar continuamente as fontes para responder as perguntas que os jornalistas me colocavam. Até o 28 de Fevereiro havia secretário de Estado, depois o cardeal Tarcisio Bertone assumiu o papel de Camerlengo. Outros interlocutores foram: o Decano do Colégio Cardinalício, o substituto da Secretaria de Estado, o secretário da governadoria, a polícia, a Prefeitura da Casa Pontifícia, os textos jurídicos, os históricos, especialmente para a história dos conclaves. Muitas vezes  eu tinha que dizer aos jornalistas: “Não sei responder agora. Te darei a resposta amanhã” e para responder tinha que procurar as pessoas certas para os esclarecimentos. Muito me ajudaram também padre Thomas Rosica csb, para os jornalistas de língua inglesa, e mons. José María Gil Tamayo para a língua espanhola.

(A segunda parte será publicada quarta-feira, 5 de Março)

(Trad.TS)

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