Uma análise da política religiosa e étnica de um país que tem 40 confissões religiosas
Roma, 18 de Março de 2014 (Zenit.org) Filippo Romeo
"Unidade na diversidade: religiões, etnias e civilizações do
Cazaquistão contemporâneo" é o título do novo volume da série Orizzonti
d’Eurasia [Horizontes da Eurásia], de Dario Citati e Alessandro
Lundini.
O texto, publicado na Itália e por enquanto sem tradução para o
português, faz uma análise política, religiosa e étnica de um país que,
com apenas 17 milhões de habitantes, possui mais de 130 grupos étnicos e
40 confissões religiosas. Em risco de implosão durante os primeiros
anos após a independência, o Cazaquistão conseguiu implantar uma
política voltada a levar em conta a composição múltipla da sua
sociedade, evitando as tentativas de impor uma caracterização
étnico-religiosa ao país.
Os autores identificaram como elemento importante desta política a
definição de uma nova identidade que as autoridades da capital, Astana,
definiram como "cazaquistã" em vez de apenas cazaque: essa identidade
seria puramente cívica, não étnica, e incluiria todas as comunidades do
país, não somente a etnia cazaque, majoritária. A etnia cazaque é o
motor de modernização do país, mas não tem estatuto privilegiado em
relação aos outros grupos étnicos. É uma proposta baseada no
reconhecimento do multiculturalismo, do respeito pelas religiões e do
Estado unificado.
O livro aborda as mudanças demográficas que contribuíram para moldar a
sociedade nacional em termos de pluralidade étnica e, no tocante às
políticas do governo, a escolha de criar uma assembleia popular que
desse representação a todas as minorias. Um amplo destaque é dado ainda à
política do diálogo inter-religioso, descrevendo como o Cazaquistão
emergiu no cenário internacional como modelo de coexistência pacífica,
de tolerância e convivência entre os povos de diferentes culturas e
religiões.
Além da análise do papel do islão no Cazaquistão, os autores descrevem
algumas das iniciativas implementadas na capital Astana, entre elas o
Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais e o Fórum
Mundial da Cultura Espiritual. Tudo sem esquecer que, especialmente após
a adopção da nova lei sobre a religião, o debate ainda está aberto no
tocante ao equilíbrio entre a manutenção da estabilidade social e a
garantia do respeito pelos diferentes grupos religiosos.
O livro também traz uma entrevista exclusiva com dom Athanasius
Schneider, bispo auxiliar da arquidiocese de Maria Santíssima de Astana,
secretário geral da Conferência Episcopal do Cazaquistão, doutor em
Patrística e professor no Seminário Maior de Karaganda. Na entrevista,
dom Athanasius ressalta a importância do trabalho das autoridades civis
do país na valorização das tradições religiosas e no reconhecimento
aberto do assunto no espaço público.
Em particular, o bispo enfatiza o papel das instituições à luz dos
setenta anos de experiência de ateísmo oficial, imposto na era
soviética, quando a religião continuava a ser praticada
clandestinamente. Foi nesse contexto que a própria Igreja Católica
floresceu. Dom Athanasius destaca que as instituições, conscientes do
colapso espiritual que acompanhou a queda do comunismo e do vazio de
valores deixado por aquela ideologia, perceberam a impossibilidade de
eliminar religião da vida dos povos e a necessidade de levar em conta a
natural abertura metafísica do ser humano, bem como a importância da
religião na construção de uma sociedade mais justa.
(18 de Março de 2014) © Innovative Media Inc.
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