Com novas vítimas, protestos continuam por todo o país
Madrid, 26 de Março de 2014 (Zenit.org) Ivan de Vargas
Morreu neste domingo uma jovem que trabalhava como 
intérprete de libras no canal Venevisión, depois de ser baleada na 
localidade de Los Teques, zona sul de Caracas. A vítima, identificada 
como Adriana Urquiola, de 28 anos de idade, estava grávida de três 
meses. A situação no país latino-americano foi resumida pelo diário 
L’Osservatore Romano em uma manchete: “Não há trégua para a violência na
 Venezuela”.
As circunstâncias não melhoram e a instabilidade levou os países 
vizinhos a se reunirem na busca de uma solução. A Organização dos 
Estados Americanos (OEA) se limitou a fazer um chamamento ao diálogo. O 
Panamá solicitou medidas efectivas, o que levou a Venezuela a romper as 
relações bilaterais com o país centro-americano.
Em vista da dramática deterioração da situação, o bispo emérito da 
diocese de Los Teques, dom Ramón Ovidio Pérez Morales, propôs a sede do 
episcopado venezuelano em Caracas como local de encontro entre a 
oposição e o governo para iniciar um diálogo que considera “necessário”.
Em nota, dom Pérez Morales enumera os problemas do país que devem ser
 enfrentados de maneira mais urgente: insegurança, impunidade, inflação e
 violência. Ele lamenta, ainda, que algumas propostas do governo, 
contidas no chamado “Plano da Pátria”, se revelem como próprias de um projecto socialista “inaceitável e inconstitucional”.
Por sua vez, o ministro do Interior, da Justiça e da Paz, Miguel 
Rodríguez Torres, declarou a uma rádio local que serão realizadas 
“operações militares especiais e de ordem pública para erradicar as 
‘guarimbas’”, palavra que, na Venezuela, indica os locais de protesto.
“Fizemos uma reunião com o Alto Comando Militar para reactivar os 
planos de segurança que já estavam preparados. Vamos tomar medidas nos 
municípios em que ainda temos focos de violência, mas para restabelecer a
 ordem”.
Na noite de 21 para 22 de Março, o terror assaltou os moradores dos 
bairros periféricos Rómulo Colmenares, Simón Bolívar e Táchira, cuja 
população foi reprimida dentro das próprias casas por efectivos militares
 e da Polícia Nacional Bolivariana durante mais de oito horas, conforme 
relatos das pessoas que sofreram esta acção.
Mostrando vestígios do ataque brutal, como cartuchos e recipientes de
 gás lacrimogéneo (mais de quinhentos foram recolhidos pela população), 
uma mulher chamada Ana contou ao La Nación, com lágrimas nos olhos e 
tremendo, que “eles causaram desastres em todas as casas”.
“Estávamos terminando de rezar o terço quando avisaram que eles 
estavam chegando, aos montes, e todos nós corremos e fomos nos abrigando
 dentro de várias casas. Na minha casa ficaram o meu filho, a mulher 
dele e o meu neto, que estava se asfixiando. Eles vinham para nos matar e
 disseram que, se nós continuássemos protestando, eles iam voltar de 
noite para nos massacrar. Nós saímos de casa e levamos o meu neto 
embora”.
De acordo com os moradores dessas comunidades da periferia, é a sexta
 vez que a Guarda Nacional Bolivariana os ataca, mas as agressões dos 
dias 10 e 21 de Março foram as mais violentas. Juan Rodrigo, da 
comunidade Rómulo Colmenares, explicou que a guarda chegou batendo nas 
janelas, quebrando os vidros e atirando as bombas desde a Rua 1 até a 
Rua 4, onde derrubaram um portão de acesso.
“Eles nos atacaram de um jeito covarde, violando o nosso espaço privado, e entraram nas ruas com cinco ‘tanquetas’ [viaturas
 blindadas, ao estilo dos chamados “caveirões” brasileiros, ndr], 
intimidando e espalhando o terror na comunidade. Um guarda nacional 
ameaçou de dentro da ‘tanqueta’, dizendo que, se os protestos 
continuassem, no sábado [o dia seguinte, ndr] eles iam atacar com mais 
força, que iam nos massacrar, que iam nos mandar funcionários da polícia
 civil para prender e torturar as pessoas”, denuncia, agitado.
O subsecretário geral da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), pe.
 Víctor Hugo Basabe, também denunciou que alguns religiosos e várias 
igrejas do país foram atingidos pelos focos de violência.
No programa de TV “Entre Notícias”, transmitido pela opositora 
Globovisión, o sacerdote afirmou: "Temos igrejas em sectores onde os 
conflitos foram intensos e que também foram atacadas por grupos 
violentos". O pe. Basabe recordou ainda a difícil situação vivida na 
igreja de Santa Bárbara, na cidade de Mérida, onde “em plena celebração 
da missa (...) um grupo armado invadiu a igreja causando pânico, saiu, 
deu tiros...”.
O subsecretário geral da CEV declarou que “a Venezuela tem a 
necessidade de entrar no espírito da quaresma; de entrar nesse apelo à 
conversão, à mudança de vida, ao arrependimento, esse apelo que nosso 
Senhor está nos fazendo”.
Os protestos nas ruas das principais cidades contra o governo de 
Nicolás Maduro começaram no último dia 12 de Fevereiro e, apesar da dura
 repressão, que provocou mais de trinta mortes e deixou centenas de 
feridos e mais de mil pessoas detidas, a mobilização popular continua de
 pé.
Dia após dia, os estudantes e a oposição manifestam o 
descontentamento de vários sectores do país, causado pela situação de 
insegurança, pela repressão contra a liberdade de expressão, pela 
escassez de alimentos e de produtos básicos, pela inflação de 56,2% em 
2013, pelo controle de preços, pela aberrante deterioração da economia 
do país e pela corrupção em todos os níveis dos poderes públicos.
Os dirigentes da oposição venezuelana e os representantes estudantis 
não param de exigir do governo a libertação dos presos e a punição aos 
responsáveis pela repressão violenta contra os manifestantes. Por sua 
vez, o executivo afirma que os protestos fazem parte de um plano para 
derrubar o presidente e vem aplaudindo a acção virulenta das forças da 
ordem para conter as manifestações.
(26 de Março de 2014) © Innovative Media Inc. 
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