No Angelus, Francisco reflectiu sobre o Evangelho que relata o encontro de Jesus com a mulher samaritana
Cidade do Vaticano, 24 de Março de 2014 (Zenit.org)
Apresentamos as palavras do Papa Francisco pronunciadas aos
fiéis e peregrinos presentes na Praça de São Pedro neste domingo (23)
para rezar o Angelus.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje nos apresenta o encontro de Jesus com a mulher
samaritana, acontecido em Sicar, junto a um antigo poço para onde a
mulher ia todos os dias para pegar água. Naquele dia, encontrou Jesus,
sentado, “fatigado da viagem” (Jo 4, 6). Ele logo lhe disse: “Dá-me de
beber” (v.7). Deste modo, supera as barreiras de hostilidade que
existiam entre judeus e samaritanos e rompe o esquema de preconceito
contra as mulheres.
O simples pedido de Jesus é o início de um diálogo franco, mediante o
qual Ele, com grande delicadeza, entra no mundo interior de uma pessoa à
quem, segundo os esquemas sociais, não deveria nem dirigir a palavra.
Mas Jesus o faz! Jesus não tem medo. Jesus, quando vê uma pessoa segue
adiante, porque ama. Ama todos nós. Não para diante de uma pessoa por
preconceitos. Jesus coloca-a diante da sua situação, não a julgando, mas
fazendo-a sentir-se considerada, reconhecida e suscitando, assim, nela o
desejo de ir além da rotina quotidiana.
Aquela sede de Jesus não era tanto de água, mas de encontrar uma alma
seca. Jesus precisava encontrar a samaritana para abrir-lhe o coração:
pede a ela de beber para colocar em evidência a sede que havia nela
mesma. A mulher fica tocada por este encontro: dirige a Jesus aquelas
perguntas profundas que todos temos dentro de nós, mas que muitas vezes
ignoramos. Também nós temos tantas perguntas a fazer, mas não
encontramos a coragem de dirigi-las a Jesus!
A Quaresma, queridos irmãos e irmãs, é o tempo oportuno para olharmos
dentro de nós, para fazer emergir as nossas necessidades espirituais
mais verdadeiras e pedir a ajuda do Senhor na oração. O exemplo da
samaritana convida-nos a nos exprimirmos assim: “Jesus, dá-me aquela
água que me saciará para sempre”.
O Evangelho diz que os discípulos ficaram maravilhados com o fato de o
seu Mestre estar falando com aquela mulher. Mas o Senhor é maior que os
preconceitos, por isto não teve medo de parar com a samaritana: a
misericórdia é maior que o preconceito. Devemos aprender bem isso! A
misericórdia é maior que o preconceito, e Jesus é tão misericordioso,
tanto!
O resultado daquele encontro no poço foi que a mulher foi
transformada: “deixou o seu cântaro” (v.28), com o qual tinha ido pegar
água, e correu à cidade para contar a sua experiência extraordinária.
“Encontrei um homem que me disse todas as coisas que eu fiz. Seria o
Messias?”. Estava entusiasmada. Tinha ido pegar água do poço e encontrou
outra água, a água viva da misericórdia que jorra para a vida eterna.
Encontrou a água que procurava desde sempre! Corre ao vilarejo, aquele
vilarejo que a julgava, condenava-a e a rejeitava e anuncia que
encontrou o Messias: um que mudou sua vida. Porque cada encontro com
Jesus muda a nossa vida, sempre. É um passo adiante, um passo mais
próximo a Deus. E assim cada encontro com Jesus muda a nossa vida.
Sempre, é sempre assim.
Neste Evangelho, encontramos também nós o estímulo para “deixar o
nosso cântaro”, símbolo de tudo aquilo que aparentemente é importante,
mas que perde valor diante do “amor de Deus”. Todos temos um, ou mais de
um! Eu pergunto a vocês, também a mim: “Qual é o seu cântaro interior,
aquele que te pesa, aquele que te afasta de Deus?”. Deixemo-nos um pouco à
parte e com o coração escutemos a voz de Jesus que nos oferece uma
outra água, uma outra água que nos aproxima do Senhor.
Somos chamados a redescobrir a importância e o sentido da nossa vida
cristã, iniciada no Baptismo e, como a samaritana, testemunhar aos nossos
irmãos. O que? A alegria! Testemunhar a alegria do encontro com Jesus,
porque eu disse que cada encontro com Jesus muda a nossa vida, e também
cada encontro com Jesus nos enche de alegria, aquela alegria que vem de
dentro. E assim é o Senhor. E contar quantas coisas maravilhosas o
Senhor sabe fazer no nosso coração quando nós temos a coragem de deixar
de lado o nosso cântaro.
(Trad.:Canção Nova)
(24 de Março de 2014) © Innovative Media Inc.
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