Sexta-feira 21 de Março, uma " Via Crucis" em Roma para sensibilizar a opinião pública sobre a exploração sexual, um mercado alimentado na Itália por 9 milhões de homens
Roma, 18 de Março de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
Cada província da Itália tem o seu "Via Crucis", que
serpenteia ao longo das estradas todos os dias do ano. As suas estações,
à noite, são muitas vezes marcadas por fogueiras que iluminam corpos
seminus. Causam escândalo, como todos os "Via Crucis" da história. Mas,
assim como todos os "Via Crucis" da história, se alimentam da
negligência e da cumplicidade.
Entre tanta indiferença, aparece às vezes alguma "Verónica" pronta
para quebrar esta redoma de escândalo silencioso. Como o inquieto
sacerdote da Romanha, Pe. Oreste Benzi, que com a sua "Comunidade João
XXIII" sempre se esforçou para ajudar os últimos, os marginalizados. A
sua forma de actuar directa e imediata, o levava a procurar as prostitutas
nas calçadas, a dizer-lhes uma palavra de conforto, de afecto, até
tirá-las daquela vida miserável à qual são forçadas pelos seus captores.
O seu compromisso tem tirado da escravidão da prostituição cerca de
9.000 jovens. Pe. Orestes morreu em 2007, mas seu testemunho foi
conservado pela comunidade que ele fundou. Para o próximo 21 de Março,
sexta-feira da Quaresma, a “Comunidade João XXIII” organizou um “Via
Crucis” que passará no coração de Roma dedicado às “mulheres
crucificadas”. Começará às 20hs na praça Santos Apóstolos e terminará
com um oratório sacro junto à Igreja de Santa Maria em Transpontina, a
poucos passos de São Pedro.
"É assim (explicou a Zenit Pe. Aldo Buonaiuto, da "Comunidade João
XXIII") que queremos destacar a condição de todas as mulheres, das
quais 40% são menores de idade, exploradas e utilizadas por mais de 9
milhões de homens pelas ruas da Itália, nas boates e nos apartamentos”.
Trata-se de um “Via Crucis” de solidariedade, “que tem como objectivo
unir não somente os crentes (é o desejo do Pe. Aldo) mas todos aqueles
que acreditam na dignidade da pessoa e que nunca se deixarão levar pela
escravidão e pela compra-venda do corpo humano”.
Será uma maneira de continuar e de enfatizar o compromisso que Pe.
Benzi começou na sua Rimini, que era (diz Pe. Aldo) “uma espécie de
capital do turismo sexual”. É ao longo da costa romanhola que ele
descobriu o horror da escravidão. Horror testemunhado pela imagem
daquelas “jovenzinhas que na frente de um padre com batina choravam e
contavam a própria vida vivida em um sistema perverso e criminoso”,
explica Pe. Aldo. "Espancamentos, torturas, extorsões, violências de
cafetões e clientes", são estas as realidades que Pe. Oreste levou a
sério.
Hoje, a obra do Padre Oreste continua, graças ao “voluntariado da
unidade de rua” da “Comunidade João XXIII”, “em todo o território
nacional e em outros 40 países no mundo”, explica Pe. Aldo. Trabalho que
visa "sensibilizar as consciências, dar abrigo àquelas jovens que
escapam de uma condição de escravidão e a oferecer-lhes uma oportunidade
de integração social”.
Para conter o dramático estilicídio da exploração da prostituição, é
também necessário acções concretas das instituições. A “Comunidade João
XXIII” pede que, como narra Pe. Aldo, “o governo italiano aplique
integralmente a directiva europeia que prevê o reforço das políticas de
prevenção do tráfico de seres humanos". Políticas que passam por
"medidas que desestimulam a procura de todas as formas de exploração".
É justo isso o que pedia, já nos anos 90, Pe. Benzi, “quando afirmava
que este mercado se vence atacando a procura, ou seja, punindo o
cliente”, explica Pe. Aldo. “Hoje (continua o padre) esta directiva
europeia é chamada de ‘modelo nórdico’, eu na Itália, chamaria de
‘método padre Benzi’, porque se baseia na intuição que Pe. Oreste teve
anos atrás”.
Pe. Aldo lembra que no ano 2000 Pe. Benzi apresentou um projecto de
lei de iniciativa popular que visava justamente desencorajar a procura.
"Em vez de falar ignominiosamente de legalização, ou seja, de fazer da
mercantilização da pessoa uma atividade laboral para inchar os cofres do
Estado (denuncia Pe. Aldo), nós pedimos que seja defendida e tutelada
sempre a pessoa”. Além disso, continua Pe. Aldo, “é preciso fazer
entender que as relações humanas se conquistam, não se compram”. Na
Rede, a “Comunidade João XXIII começou uma petição para convidar o
governo italiano a dar passos concretos contra “a escravidão da
prostituição”.
Este compromisso não passou despercebido ao Papa Francisco, que
depois do Angelus no domingo passado deu "uma palavra" para o "Via
Crucis" da próxima sexta-feira e disse, dirigindo-se aos membros da
"Comunidade João XXIII” presentes na praça, um “estes são bons”.
"É o primeiro sinal do quanto estamos em sintonia com o Papa Francis (disse Pe. Aldo), o qual sempre, com os seus modos de actuar, nos faz
lembrar do nosso fundador Pe. Oreste, do qual entre outras coisas,
começou há poucas semanas, o processo de beatificação”. “A sua
exclamação (conclui) nos encheu de alegria e nos encorajou a seguir em
frente”.
[Trad.TS]
(18 de Março de 2014) © Innovative Media Inc.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário