O relatório do cardeal alemão sobre o "Evangelho da Família" provocou discussão. O que ele realmente disse?
Roma, 21 de Março de 2014 (Zenit.org) Antonio Gaspari
De 5 a 19 de outubro de 2014 será realizado em Roma, o 
Sínodo Extraordinário sobre as famílias. Para melhor prepara-lo foi 
formulado (solicitado pelo papa Francisco) um questionário com 38 
perguntas, enviado para todas as dioceses do mundo.
O Secretário do Sínodo dos Bispos, o cardeal Lorenzo Baldisseri, 
explicou que é esperado das dioceses "não apenas o que o bispo pensa", 
mas "um resumo do que as pessoas pensam e como vivem".
Neste contexto, e em preparação para o Sínodo, o cardeal Walter 
Kasper fez um longo e detalhado relatório sobre o Evangelho da Família 
para o Consistório extraordinário de 20 e 21 de Fevereiro.
Sábado, 1 de Março, o texto do Cardeal Kasper foi publicado pelo 
jornal romano Il Foglio. O que causou grande rebuliço, não apenas porque
 a publicação não foi autorizada pelo autor, mas principalmente devido à
 questão dos divorciados e recasados, e ao acesso à comunhão, que gerou 
uma grande discussão.
Antes mesmo de ler e entender o que realmente estava pensando o 
cardeal alemão, choveram críticas e controvérsias. Mas o que realmente 
disse Kasper? O texto completo do relatório foi publicado na semana 
passada pela Edições Queriniana em um livreto de 78 páginas, intitulado O
 Evangelho da Família.
No quinto capítulo, intitulado O problema dos divorciados recasados, o
 Cardeal Kasper escreve: "Se pensarmos na importância da família para o 
futuro da Igreja, o número crescente de famílias desestruturadas 
demonstra uma grande tragédia. É um grande sofrimento. Não basta 
considerar o problema apenas do ponto de vista e da perspectiva da 
Igreja como instituição sacramental; precisamos de uma mudança de 
paradigma e devemos também considerar a situação a partir da perspectiva
 de quem sofre e pede ajuda".
É claro, afirma o cardeal, que "não se pode propor uma solução 
diferente ou contrária às palavras de Jesus. A indissolubilidade do matrimónio sacramental e a impossibilidade de um novo matrimónio durante
 a vida do outro parceiro faz parte da tradição de fé vinculatória da 
Igreja, que não pode ser abandonada ou desfeita fazendo referência a uma
 compreensão superficial da misericórdia a um preço baixo".
A questão é, portanto, como a Igreja pode corresponder ao binómio 
inseparável da fidelidade e da misericórdia de Deus em sua actividade 
pastoral em relação aos divorciados recasados no rito civil. A 
Familiaris Consortio no número 24 e a Sacramentum Caritatis no número 
29, falam de uma forma amorosa desses cristãos, assegurando-lhes a 
pertença à Igreja e convidando-os a participar da vida desta.
“As situações são diversas e devem ser distinguidas com cuidado. Uma 
solução geral para todos os casos, portanto, não pode existir." A 
Congregação para a Doutrina da Fé, em 1994, abordou a questão, e o Papa 
Bento XVI sintetizou a posição durante o Encontro Internacional das 
Famílias em Milão, em 2012, reiterando que "os divorciados recasados não
 podem receber a comunhão sacramental, mas podem receber a espiritual."
O Cardeal Kasper argumenta que mesmo a resposta dos Padres da Igreja 
não sendo unívoca, contudo, é claro que “a Igreja continuou a buscar uma
 maneira além do rigor e do laxismo, fazendo referência à autoridade de 
ligar e desligar (Mt 16,19; 18,8, Jo 20,23) conferida pelo Senhor". "No 
Credo - diz ele - professamos: creio na remissionem peccatorum.
 Isso significa que: para aqueles que se converteram, o perdão é sempre 
possível. Se é para o assassino, é também para o adúltero".
Neste contexto, o cardeal lista algumas opções aos Padres Sinodais: 
"Se um divorciado recasado: 1. Se arrepende do falimento no primeiro 
casamento, 2. Se esclareceu as obrigações do primeiro matrimonio, se é 
definitivamente impossível que volte atrás, 3. Se não pode abandonar, 
sem quaisquer outras culpas, o novo matrimonio civil, 4. E se esforça 
para viver da melhor maneira conforme suas possibilidades o segundo 
matrimonio a partir da fé e da educação dos filhos na fé, 5. Se deseja 
os sacramentos como uma fonte de força em sua situação, devemos ou 
podemos negar, depois de um tempo de reorientação (metanoia), o 
sacramento da penitência e então, a comunhão?".
"Eu espero (prossegue o cardeal) que no caminho de tal discretio,
 durante o processo sinodal, possamos encontrar uma resposta comum para 
testemunhar de forma credível a Palavra de Deus em situações humanamente
 difíceis, como mensagem de fidelidade, mas também como mensagem de 
misericórdia, vida e alegria".
Por fim, Kasper escreve: "Não podemos limitar a discussão à situação 
dos divorciados recasados e a outras situações pastorais difíceis não 
mencionadas no presente contexto. Devemos ter um ponto de partida 
positivo e redescobrir e anunciar o Evangelho da família com toda a sua 
beleza".
"A verdade convence pela sua beleza", continuou o cardeal, que 
exorta: "Devemos colaborar, com palavras e acções, para que as pessoas 
encontrem a felicidade na família e, desta forma, possam dar testemunho 
de alegria a outras famílias. Devemos entender novamente a família como 
Igreja doméstica, torna-la a via privilegiada da nova evangelização e da
 renovação da Igreja, uma Igreja que está a caminho com as pessoas e 
para as pessoas".
"Em família (disse o prelado) as pessoas estão em casa, ou pelo 
menos procurando uma casa na família. Nas Famílias a Igreja encontra a 
realidade da vida. Por isso, as famílias são um teste da pastoral e 
urgência da nova evangelização. A família é o futuro. E para a Igreja é o
 caminho do futuro".
(Trad.:MEM)
(21 de Março de 2014) © Innovative Media Inc. 
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