O chileno Claudio Flores
Actualizado 3 de Agosto de 2013
PortaLuz
Anoitece em Santiago, a capital do Chile, e entre as centenas de trabalhadores que se apressavam por regressar às suas casas, vejo aproximar-se Claudio Flores. A sua saudável contextura física, a alegria e paz que transmite ao conversar, a sua fé na misericórdia de Deus, mostram-me um homem são. Tanto que a empresa onde hoje trabalha o escolheu e premiou há um par de semanas como ‘trabalhador do mês’, pela eficiência no seu desempenho. Mas Claudio, que acaba de cumprir trinta anos, viveu até aos seus 28 anos preso num inferno.
O ponto de quebra: a sua extrema rebeldia
O ponto de quebra ocorreu na sua adolescência, com 16 anos. A rebeldia potenciou-se, assinala, ao deixar-se arrastar pelos que acreditava amigos dando as costas à família e a Deus. “Criado pelos meus avôs e meus pais, pessoas crentes e activos na igreja, com forte ligação à família, tendo sido formado no seminário menor da Congregação Orionista, participando como guarda da Virgem de Fátima com os Arautos do Evangelho, algo em mim quebrou-se repentinamente. Afogava-me tanta estrutura, as amizades mostravam-me um mundo diferente, de suposta liberdade e então surgiu a rebeldia. Decidi que não queria nada com Deus. Este seria o início da minha queda no submundo onde crês que estás vivo ao drogar-te, que provas os riscos da rua, mas na realidade estás morto e cada dia, ainda que te afundes, voltas por mais.”
Passavam os anos e Claudio tentava ocasionalmente mudar, mas “logo me desordenava”, reconhece. Sem capacidade de ver a verdade, recorda, ia quebrando a tolerância daqueles que o amavam e a sua própria vida. O passo seguinte nesse poço sem fundo foi quando o convidaram a participar no “negócio”.
Traficar com drogas
“Comecei a traficar drogas e os ganhos eram bons! Rapidamente cheguei a ser eu quem tomava as decisões e procurei mais. Comecei roubando coisas pequenas, logo negócios, veículos, postos de combustível, portava uma arma, deixei mais de um ferido, não por necessidade de dinheiro mas sim sedento de adrenalina, embrutecido, sem consciência alguma”.
O vício toca fundo
O desconcertante é que Claudio tinha então um trabalho estável, um salário que lhe permitia viver sem sobressaltos. Inclusive desfrutar, com várias dezenas de pares, um dos seus prazeres… As sapatilhas. Mas também estava com ele a mulher que amava, que um dia lhe comunicou a boa nova da sua futura paternidade. Uma filha! Esta notícia abalou o seu espírito e tentou, sincero, voltar a começar; lutou por reordenar-se e constituir uma família. Mas como se fosse preso de um algo alheio que não o soltava, arrasou com tudo.
Ao recordar, Claudio emociona-se, mira olha a imagem da Virgem do Carmo (estamos conversando, porque assim o quis, no interior do Santuário Nacional de Maipú, onde no Chile, por ser sua patrona, se venera essa invocação) e, recuperando o ar, continua…
“Tudo o que pensava fazer se apagou num segundo. O dinheiro que tinha poupado para iniciarem os três uma nova vida gastava-o em álcool e cocaína. Em dois meses de loucura absoluta perdi o trabalho, magoei a quem devia proteger, e fiquei na rua, literalmente dormindo nela. Então os que acreditei eram amigos não estavam, tampouco a minha família que em consequência dos meus actos me dava por perdido. Nem forças tinha para sair a roubar! Toquei fundo, renegava Deus, não sabia como mudar a minha vida, todos me viraram as costas.”
A cura na Fraternidade Veniforas e nas Clarissas
O processo para sair do inferno, diz, chegou como um presente de Deus através da Fundação Fraternidade Veniforas (serviço inédito no Chile da Ordem Franciscana), e o testemunho de vida das Irmãs Clarissas. Foi também uma consagrada na vida religiosa quem entregou aos pais de Claudio a informação dessa fundação cuja particular e bem-sucedida metodologia para enfrentar os vícios é: trabalho, vida fraterna, oração e vida sacramental. Aferrando-se qual náufrago a um salva-vidas, Claudio entregou-se.
“Esteve perdido até 4 de Maio de 2011, desde esse dia a minha vida mudou ao ingressar no lar da Fraternidade Veniforas. Ali uma das experiências que marcou a minha reabilitação, foi quando conheci as irmãs Clarissas de claustro. Vendo o verdadeiro amor que tem elas, como se entregam a Deus! Senti que eu tinha rejeitado esse carinho. Isto me fez questionar toda a minha vida. Aprendi então a ser pessoa, impregnando-me no quotidiano da vida real, da palavra de Deus. Ajudei a remodelar a casa onde vivíamos, fiz quintas para alimentar-me do que juntos cultivávamos, construí e limpei galinheiros, cortei lenha, meditávamos o evangelho do dia, rezávamos as orações, desfrutávamos a missa. Vivendo uma vida consagrada a Deus esteve em gestão, tal como um bebé, até que nasceu um homem novo. Deus curou-me, Deus salvou-me e deu-me uma oportunidade novamente, nunca me abandonou.”
Já finalizando, Claudio sorri e sereno reconhece que os pilares na sua vida são Deus, a família, em particular a sua filha, e o trabalho…
“Quando me levanto para ir a trabalhar agradeço e rezo. A minha oração predilecta é à Virgem. Sempre rezo o Deus te Salve e digo a Deus que me perdoe. Tenho um grande carinho por Maria e passo a rezar a uma imagem que está no caminho do meu trabalho. Hoje sento-me mais filho, estou aprendendo a ser pai, tenho motivos para agradecer e pelos quais viver e lutar… Espero deixar um bom legado”.
Claudio Flores |
PortaLuz
Anoitece em Santiago, a capital do Chile, e entre as centenas de trabalhadores que se apressavam por regressar às suas casas, vejo aproximar-se Claudio Flores. A sua saudável contextura física, a alegria e paz que transmite ao conversar, a sua fé na misericórdia de Deus, mostram-me um homem são. Tanto que a empresa onde hoje trabalha o escolheu e premiou há um par de semanas como ‘trabalhador do mês’, pela eficiência no seu desempenho. Mas Claudio, que acaba de cumprir trinta anos, viveu até aos seus 28 anos preso num inferno.
O ponto de quebra: a sua extrema rebeldia
O ponto de quebra ocorreu na sua adolescência, com 16 anos. A rebeldia potenciou-se, assinala, ao deixar-se arrastar pelos que acreditava amigos dando as costas à família e a Deus. “Criado pelos meus avôs e meus pais, pessoas crentes e activos na igreja, com forte ligação à família, tendo sido formado no seminário menor da Congregação Orionista, participando como guarda da Virgem de Fátima com os Arautos do Evangelho, algo em mim quebrou-se repentinamente. Afogava-me tanta estrutura, as amizades mostravam-me um mundo diferente, de suposta liberdade e então surgiu a rebeldia. Decidi que não queria nada com Deus. Este seria o início da minha queda no submundo onde crês que estás vivo ao drogar-te, que provas os riscos da rua, mas na realidade estás morto e cada dia, ainda que te afundes, voltas por mais.”
Passavam os anos e Claudio tentava ocasionalmente mudar, mas “logo me desordenava”, reconhece. Sem capacidade de ver a verdade, recorda, ia quebrando a tolerância daqueles que o amavam e a sua própria vida. O passo seguinte nesse poço sem fundo foi quando o convidaram a participar no “negócio”.
Traficar com drogas
“Comecei a traficar drogas e os ganhos eram bons! Rapidamente cheguei a ser eu quem tomava as decisões e procurei mais. Comecei roubando coisas pequenas, logo negócios, veículos, postos de combustível, portava uma arma, deixei mais de um ferido, não por necessidade de dinheiro mas sim sedento de adrenalina, embrutecido, sem consciência alguma”.
O vício toca fundo
O desconcertante é que Claudio tinha então um trabalho estável, um salário que lhe permitia viver sem sobressaltos. Inclusive desfrutar, com várias dezenas de pares, um dos seus prazeres… As sapatilhas. Mas também estava com ele a mulher que amava, que um dia lhe comunicou a boa nova da sua futura paternidade. Uma filha! Esta notícia abalou o seu espírito e tentou, sincero, voltar a começar; lutou por reordenar-se e constituir uma família. Mas como se fosse preso de um algo alheio que não o soltava, arrasou com tudo.
Ao recordar, Claudio emociona-se, mira olha a imagem da Virgem do Carmo (estamos conversando, porque assim o quis, no interior do Santuário Nacional de Maipú, onde no Chile, por ser sua patrona, se venera essa invocação) e, recuperando o ar, continua…
“Tudo o que pensava fazer se apagou num segundo. O dinheiro que tinha poupado para iniciarem os três uma nova vida gastava-o em álcool e cocaína. Em dois meses de loucura absoluta perdi o trabalho, magoei a quem devia proteger, e fiquei na rua, literalmente dormindo nela. Então os que acreditei eram amigos não estavam, tampouco a minha família que em consequência dos meus actos me dava por perdido. Nem forças tinha para sair a roubar! Toquei fundo, renegava Deus, não sabia como mudar a minha vida, todos me viraram as costas.”
A cura na Fraternidade Veniforas e nas Clarissas
O processo para sair do inferno, diz, chegou como um presente de Deus através da Fundação Fraternidade Veniforas (serviço inédito no Chile da Ordem Franciscana), e o testemunho de vida das Irmãs Clarissas. Foi também uma consagrada na vida religiosa quem entregou aos pais de Claudio a informação dessa fundação cuja particular e bem-sucedida metodologia para enfrentar os vícios é: trabalho, vida fraterna, oração e vida sacramental. Aferrando-se qual náufrago a um salva-vidas, Claudio entregou-se.
“Esteve perdido até 4 de Maio de 2011, desde esse dia a minha vida mudou ao ingressar no lar da Fraternidade Veniforas. Ali uma das experiências que marcou a minha reabilitação, foi quando conheci as irmãs Clarissas de claustro. Vendo o verdadeiro amor que tem elas, como se entregam a Deus! Senti que eu tinha rejeitado esse carinho. Isto me fez questionar toda a minha vida. Aprendi então a ser pessoa, impregnando-me no quotidiano da vida real, da palavra de Deus. Ajudei a remodelar a casa onde vivíamos, fiz quintas para alimentar-me do que juntos cultivávamos, construí e limpei galinheiros, cortei lenha, meditávamos o evangelho do dia, rezávamos as orações, desfrutávamos a missa. Vivendo uma vida consagrada a Deus esteve em gestão, tal como um bebé, até que nasceu um homem novo. Deus curou-me, Deus salvou-me e deu-me uma oportunidade novamente, nunca me abandonou.”
Já finalizando, Claudio sorri e sereno reconhece que os pilares na sua vida são Deus, a família, em particular a sua filha, e o trabalho…
“Quando me levanto para ir a trabalhar agradeço e rezo. A minha oração predilecta é à Virgem. Sempre rezo o Deus te Salve e digo a Deus que me perdoe. Tenho um grande carinho por Maria e passo a rezar a uma imagem que está no caminho do meu trabalho. Hoje sento-me mais filho, estou aprendendo a ser pai, tenho motivos para agradecer e pelos quais viver e lutar… Espero deixar um bom legado”.
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